Descrição de chapéu Ibama

Treinadas por cozinheira, araras voam livres em parque do centro de SP

Bambu, arara-canindé, e Íris, arara-vermelha, viraram atração na Aclimação

Micaela Lepera
São Paulo

Bambu, uma arara-canindé de quase dois anos, e Íris, uma arara-vermelha de um ano e meio, têm chamado a atenção dos frequentadores do parque da Aclimação, na região central de São Paulo.

“Por ser um animal silvestre, a gente só vê em zoológicos”, comenta a publicitária Lina Amato, 61. “Elas estão abençoando o parque”, diz o vendedor Daniel Fazzolari, 49.

As duas araras foram treinadas pela cozinheira e arquiteta Silvia Corbucci, 37, e voam livremente pelo parque. Ao seu chamado, pousam em seus braços. “Começamos treinando o recall, que é o comando para elas reconhecerem a minha voz e virem até mim quando eu chamar.”

Para isso, a cozinheira recorreu a um aparelho chamado “clicker”, utilizado no adestramento de animais.

“Toda vez que elas faziam alguma coisa que eu queria, eu clicava para elas entenderem que aquilo estava certo e, em seguida, dava uma recompensa, como grãos desidratados. Assim, perceberam que sempre que eu clicava, elas ganhavam comida, então elas foram se condicionando a me obedecer.”

O próximo passo foi o “ponto a ponto”, em que as araras saíam do poleiro e iam em direção à cozinheira ao seu chamado. Depois disso, Bambu e Íris passaram a sair dos braços da dona, voar em um círculo e, por fim, retornar aos braços de Silvia. “Foram várias etapas até que elas chegassem a esse estágio do ‘freestyle’, em que elas escolhem para onde vão e voltam ao meu comando”, afirma.

O treinamento já dura cerca de um ano e meio. “Já tive que escalar muitas árvores atrás do Bambu. Ele também já foi perseguido por gaviões e urubus. Teve uma vez que a Íris e ele fugiram da minha vista. Por sorte, foram até o parque e eu recuperei os dois.”

A cozinheira diz que, agora, vai treinar os pássaros para reconhecerem o ambiente externo do sobrado onde vivem, na Vila Mariana, zona sul da cidade, além de irem e voltarem do parque sozinhos.

Casa cheia

Como não sabem o caminho de volta para casa, portas e janelas do sobrado ficam fechadas para que Bambu e Íris não escapem. Além de andarem livremente pela casa, Íris e Bambu têm um cômodo exclusivo para elas.

Com a chegada de Bambu em junho de 2016, a cozinheira e seu marido transformaram um quarto com varanda em um viveiro. “Quando o viveiro ficou pronto, achamos que o espaço tinha ficado muito grande só para o Bambu, daí decidimos pegar a Íris.”

Segundo o Instituto Chico Mendes, as araras apresentam habilidades cognitivas avançadas que têm sido comparadas a de primatas. “Se estamos falando da capacidade de memorização, aprendizado e comunicação, certamente as araras e outros de sua família estão entre as aves mais capazes”, esclarece a entidade em nota.

As araras se adaptam facilmente à vida com os humanos e, quando em contato direto com os homens, são capazes de pronunciar palavras, assobiar, tossir e até mesmo rir. Íris, por exemplo, fala “arara”, dá “oi” para as pessoas e imita Silvia dizendo “ui, escorregador” ao escorregar por galhos do viveiro.

As araras se alimentam de sementes, brotos e polpa de frutos e vivem cerca de 30 anos na natureza. Já em cativeiro, a expectativa de vida desses animais pode passar de 50 anos. “Mas é bom lembrar que mesmo tendo vida mais longa no cativeiro, a espécie só desempenha seu papel ecológico se estiver livre na natureza, participando dos processos que tornam nosso mundo habitável”, destaca a nota do instituto.

Segundo o Ibama, qualquer pessoa pode comprar uma arara, desde que seja em criadouro autorizado. O animal deve ser comprado com anilha ou microchip de identificação, e o comprador deve manter a nota fiscal. A comercialização sem licença é tráfico de animal silvestre.

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