Um tumulto na tarde desta sexta-feira (25) gerou grande mobilização policial na cracolândia, no centro de São Paulo. Um homem que passava pelo local chegou a ser cercado e espancado pelos usuários de drogas, que queriam assaltá-lo.
De acordo com a Secretaria Municipal de Segurança Urbana, responsável pela GCM, a confusão ocorreu por causa da ação de zeladoria no final da tarde —transtorno que tem sido comum na região.
"Não vi o que aconteceu porque tivemos que fechar a loja", diz a funcionária de uma sapataria na avenida Duque de Caxias. Ela afirma que o ocorrido é frequente. "Foi a segunda vez só nesta semana."
Os usuários são dispersados duas vezes por dia da região da alameda Cleveland e da rua Helvétia para a limpeza das vias. Segundo a pasta, os dependentes químicos espalharam lixo e atearam fogo na segunda limpeza desta sexta. A Guarda Civil então fez uma barreira de contenção e pediu o apoio da Polícia Militar.
Ainda segundo a secretaria, não houve confronto. A reportagem presenciou ao menos o uso de bombas de efeito moral para a dispersão das pessoas. Viaturas da PM bloquearam o trecho da Duque de Caxias entre a avenida Rio Branco e a praça Júlio Prestes.
Bombeiros apagaram os focos de incêndio, enquanto a polícia direcionou os usuários para as ruas em direção à praça. Motos da PM (Rocam) fizeram a ronda nessas vias.
Um transeunte que observava essa ação teve o celular roubado por outro homem e correu atrás dele, para dentro da concentração de usuários na alameda Cleveland. Ele foi cercado e espancado.
"Eu estava ouvindo música com o celular na mão, ele veio por trás já me tomando [o aparelho] e correu lá para o meio", disse o homem de 47 anos, um prestador de serviços da Porto Seguro que não quis se identificar. A reportagem presenciou, porém, ele filmando minutos antes.
"Aí eu fui atrás, eles fecharam em mim e começaram a me bater, só na cara. Me protegi com um braço e levantei o outro pra pedir socorro."
Uma unidade de canil da GCM entrou no fluxo de usuários e resgatou o homem. "Enquanto eles me batiam tentaram roubar a minha carteira, mas consegui segurar", disse, com o rosto marcado por escoriações. Ele não quis ir para um hospital e foi orientado a abrir um boletim de ocorrência sobre o roubo do celular.
O volume de dependentes químicos na região da cracolândia diminuiu desde a ação policial de maio de 2017, mas a concentração de usuários persiste na alameda Cleveland.
Um dos estopins para ação policial em maio passado foi a morte do socorrista Bruno de Oliveira Tavares, 34, que foi sequestrado e morto ao tentar socorrer um usuário.
Desde novembro, ao menos, moradores e trabalhadores da área dizem haver um clima diário de tensão, com recorrentes lançamentos de bombas pela polícia e ataques com pedras e tijolos pelos usuários.
Agentes de saúde e dependentes dizem que a estratégia da prefeitura é cansar os usuários e fazê-los sair de lá, o que a gestão nega.
Escalada de tumultos na área da cracolândia
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