Descrição de chapéu tragédia dos sem-teto

Promotoria vai investigar laudo da prefeitura sobre segurança de prédio

Ministério Público arquivou inquérito sobre segurança do imóvel em março

São Paulo

O Ministério Público de São Paulo declarou na tarde desta terça-feira (1º) que irá reabrir investigação arquivada sobre a segurança do prédio que desabou na madrugada desta terça-feira (1), no centro de São Paulo. Os promotores querem apurar as causas do desabamento e a veracidade dos laudos técnicos oficiais que, em 2015, isentaram o imóvel de interdição. 

Em agosto de 2015, o Ministério Público instaurou um inquérito civil para justamente apurar a segurança do prédio, após o seu abandono pela União e sua ocupação por sem-tetos.

Durante o inquérito, os bombeiros chegaram a vistoriar o imóvel. Nesta terça, os bombeiros disseram que na ocasião encontraram o prédio já muito ocupado por famílias, com corredores e rotas de fuga obstruídos por lixos, além dos andares cheios de materiais inflamáveis, como madeiras para dividir ambientes.

Apesar disso, segundo a nota do Ministério Público, relatórios técnicos de órgãos de fiscalização e em especial a Defesa Civil de São Paulo e a secretaria de licenciamento chegaram à conclusão de que o imóvel não corria riscos que justificassem a sua interdição. 

Com base nesses relatórios, o Ministério Público disse que decidiu arquivar a investigação sobre o prédio em março deste ano.

Em 2015, o inquérito civil foi aberto após a denúncia de um vizinho do prédio, Rogério Bileki, 56, que relatou a ocupação da antiga sede da Polícia Federal havia ocorrido sem qualquer condição de segurança. 

"Eu mesmo presenciei os moradores quebrando as paredes para tirar ferro", disse Bileki. "Isso que aconteceu aqui foi um crime. Não foi acidente. O que houve foi uma irresponsabilidade política das últimas gestões que deixaram isso acontecer à revelia do tempo e de muito descaso."

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), disse que a gestão ainda analisa quais são os relatórios técnicos citados pela procuradoria. 

desabamento

O incêndio levou à queda do prédio devido à deformação dos pilares que sustentam a edificação, causada pela alta temperatura. "Nos edifícios de vários andares, nunca se vai conseguir, num incêndio como o de ontem, evitar que altas temperaturas degradem resistência das estruturas", explica o professor de Estruturas de Concreto na Escola Politécnica da USP, Henrique Campelo.

No caso do concreto, é preciso que a temperatura ultrapasse os 800°C para que o material comece perder sua resistência, fazendo com que esses pilares –os principais responsáveis pela sustentação do edifício, desde sua fundação até o topo– cedam.

Para o engenheiro civil Percival Camanho, no incêndio desta madrugada as temperaturas ultrapassaram 1.000°C, uma vez que não há estilhaços de vidro nos escombros, pois a essa temperatura o material vira líquido.

Ele também explica que o fato de o foco ter sido no quinto andar, conforme os relatos de moradores, piorou o cenário. "À medida que rompe o pilar, gera instabilidade, o que pode provocar o desabamento de todo edifício. Quanto mais baixo o andar em que foi atingido, pior as consequências."

Fabrício Lobel
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