Casos de hepatite A mais que dobram entre homens de 20 a 39 anos

Aumento interrompeu dez anos de queda nos casos da doença

A baixa adesão à imunização contra gripe levou o Ministério da Saúde a liberar a vacina para mais grupos da população - Bruno Santos/Folhapress
Natália Cancian
Brasília

Após vários anos em queda, casos de hepatite A voltaram a crescer em 2017 e mais do que dobraram entre homens de 20 e 39 anos. Os dados são de novo boletim epidemiológico divulgado nesta quinta-feira (5) pelo Ministério da Saúde.

Em 2017, foram registrados 2.086 casos de hepatite A, o equivalente a quase o dobro do registrado no ano anterior, quando houve 1.206 registros.

Deste total, a maioria dos casos, ou 961, ocorreu entre homens de 20 a 39 anos. A diferença é que, enquanto esse grupo respondia por 15,8% dos casos em 2016, no ano passado, essa participação passou a 46%.

O aumento, que interrompeu uma tendência de queda nos casos da doença que vinha sendo registrada na última década, foi puxado principalmente após a ocorrência de um surto de hepatite A em São Paulo.

Para comparação, o número de casos no estado passou de 155, em 2016, para 1.108 no ano passado —cerca de metade do registrado no país. Somente na capital paulista, foram 701 atendimentos na rede de saúde por esse motivo.

Segundo a diretora do departamento de IST, HIV/Aids e hepatites virais, Adele Benzaken, resultados de uma investigação epidemiológica feita em São Paulo apontaram que a maior parte dos casos ocorreu por transmissão sexual, pela via oral-anal —forma de transmissão que teve aumento de 97% entre homens de 20 a 39 anos em relação ao ano anterior.

A boa notícia é que, após o aumento de casos, as notificações começaram a ter queda ainda no fim de 2017. De acordo com a diretora, isso ocorreu após o aumento na oferta de vacina de hepatite A para homens não anteriormente vacinados e que fazem sexo com homens.

Apesar de avaliar que houve uma “contenção” do surto, a diretora não descarta, porém, que haja risco de novos casos em outros locais. “Ele pode ocorrer em outros municípios”, disse.

A hepatite A é uma virose que provoca inflamação no fígado. Ela é considerada menos grave que as demais, mas de fácil contágio —basta o contato com as fezes de um paciente infectado ou com água e alimentos contaminados, sobretudo em cidades com problemas de saneamento básico.

Ainda de acordo com a diretora, o ministério tem feito uma análise para verificar quantos centros de testagem contra HIV e hepatite também possuem salas de vacinação, o que ajudar no controle de quem não está com a vacina em dia.

“Nesse ambiente, quando a pessoa vai fazer a testagem para o HIV, ela relata a atividade sexual que pode ter. Nesse momento, é possível fazer a identificação se a pessoa não se vacinou e encaminhar para as salas de vacinação”, afirma.

Para ela, o aumento dos casos da doença pode ser evitado caso os pais mantenham a vacinação de seus filhos em dia. Atualmente, a vacina é recomendada na rede pública para crianças por meio de uma dose, administrada a partir dos 15 meses.

“A grande mensagem é: mães, vacinem seus filhos contra hepatite A até os cinco anos de idade. Porque na vida adulta você fica correndo atrás do prejuízo porque essas crianças não foram vacinadas”, afirma Benzaken.

320 mil podem ter hepatite C e não sabem

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam ainda que, ao todo, o país registrou 40.198 novos casos de hepatites virais em 2017. Entre as três hepatites, a que apresenta maior número de casos ainda é a hepatite C, com 24.460 novos casos no ano passado.

O número real, porém, pode ser maior. Segundo Benzaken, uma estimativa feita por um comitê técnico consultado pelo governo aponta que mais de 1 milhão de pessoas podem ter tido contato com o vírus da hepatite C.

Consideradas a proporção daquelas que, após o contato, podem ter o vírus circulando no sangue (60,7%) e separadas as que não iniciaram o tratamento, a pasta estima que 320 mil pessoas podem ter a doença no país e não sabem. 

Em meio a esse alto número de casos, o ministério anunciou, nesta quinta, um plano de eliminação da hepatite C até 2030. A ideia é simplificar o diagnóstico, ampliar a testagem e, com isso, o número de pessoas em tratamento. Para isso, a pasta pretende adquirir 50 mil novos tratamentos ainda neste ano. 

Atualmente, o tratamento ofertado no SUS, indicado para todos os pacientes independente de lesão no fígado, apresenta chances de cura de mais de 90%. 

Com o plano, a ideia é tratar, neste ano, 19 mil pessoas, número que deve subir para até 50 mil a partir de 2019.

Um dos maiores desafios, porém, ainda é o diagnóstico, já que a doença é considerada silenciosa e apresenta poucos sintomas. Em casos mais graves, porém, pode causar cirrose e câncer no fígado.  "A população dificilmente procura o serviço de saúde se não tiver nenhum sinal ou sintoma. Por isso essa estratégia de buscar as pessoas", afirma Benzaken.

Atualmente, a maior parte dos casos de hepatite C ocorre em pessoas com mais de 40 anos. 

O ministério recomenda que pessoas dessa faixa etária e que tenham passado por cirurgias e transfusões de sangue antes de 1993, quando não havia controle sobre a doença, procurem uma unidade de saúde para ter acesso à testagem.  

"Isso ocorre porque o vírus não estava nem sequer descrito antes dessa época", explica a diretora.

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