Polícia do Rio prende ex-PM já citado no caso Marielle Franco

PM reformado Alan Nogueira foi preso em casa e nega envolvimento no crime

Luis Kawaguti Marina Lang
Rio de Janeiro | UOL

A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu na manhã desta terça-feira (24) um ex-PM apontado por uma testemunha como um dos suspeitos de estarem no carro usado pelos assassinos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes, em março passado.

O PM reformado Alan Nogueira nega envolvimento no crime, segundo informou sua defesa. Conhecido como Cachorro Louco, ele foi detido por volta das 6h, em sua casa, em Olaria, zona norte carioca. Um Honda Civic branco dele foi apreendido no local.

Citado no caso Marielle, Nogueira foi preso por outro caso, segundo informou reportagem do jornal "O Globo". Ele é acusado de participar dos homicídios de um PM e um ex-PM em Guapimirim, na Baixada Fluminense, em fevereiro de 2017, a mando de Orlando Oliveira de Araújo, chefe de uma quadrilha de milicianos. Ainda de acordo com a publicação, a informação sobre o envolvimento de Nogueira no crime partiu do mesmo delator que apontou que ele estava no carro dos assassinos da vereadora.

No início de maio, essa testemunha disse à polícia ter presenciado conversas entre o vereador Marcelo Siciliano (PHS) e Araújo nas quais supostamente teriam discutido o assassinato de Marielle. Ambos negam qualquer envolvimento no crime.

À polícia o delator narrou que as conversas sobre a morte da vereadora teriam começado em junho do ano passado depois de ela ter passado a promover ações comunitárias em bairros da zona oeste —os quais, embora controlados por traficantes, seriam de interesse da milícia. Segundo a testemunha, após a morte de Marielle, pelo menos dois outros assassinatos foram cometidos como "queima de arquivo".

ASSASSINATO DE MARIELLE

No dia do assassinato, Marielle participava de um encontro de mulheres negras na Casa das Pretas, espaço na Lapa, região central do Rio. Imagens de câmeras de segurança mostram que dois carros estacionaram na rua. Quando Marielle saiu da casa e o carro onde estava deu partida, os dois carros trocaram sinais de alerta e a seguiram.

O carro dos criminosos emparelhou com o veículo em que Marielle estava, na rua Joaquim Palhares, próximo à estação Estácio do metrô, atiraram e fugiram em disparada sem roubar nada. Marielle estava no banco de trás de um Chevrolet Agile branco com sua assessora, que sofreu ferimentos leves. Na frente, estava seu motorista, Anderson Pedro Gomes, que também morreu.

Ao todo, foram 13 tiros. O carro foi atingido nove vezes, sendo que todas as balas foram em direção ao banco traseiro, onde ela estava, segundo a Polícia Civil. Quatro tiros atingiram a cabeça da vereadora. Outros três, a lateral das costas do motorista. Como a maior parte dos disparos atingiram a vereadora, os investigadores da Polícia Civil avaliam que o atirador sabia que Marielle estava sentada naquele lugar.

O caso teve repercussão internacional e entrou na pauta da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos).

INTERVENÇÃO FEDERAL

A morte de Marielle ocorreu em meio à intervenção federal na segurança pública do estado. Na prática, com isso, a investigação está sob a responsabilidade do governo Michel Temer (MDB), que decretou em fevereiro a intervenção e escalou um general do Exército para o comando da inédita medida. Polícia Militar e Polícia Civil respondem diretamente aos interventores.

Desde o início, a principal linha de investigação é a de motivação política. Diferentes vereadores prestaram depoimento na condição de testemunha, entre eles, um indiciado na CPI das Milícias, concluída em 2008, na qual Marielle trabalhou.

A assessora de Marielle, que estava no carro no momento do ataque, saiu do país com o marido por medo de represálias. Ela teve apenas ferimentos leves em decorrência do ataque e teve o nome preservado por questão de segurança.

Marielle, do PSOL, tinha como causa o avanço dos direitos das mulheres, principalmente as negras. Trabalhou na Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), onde atendia vítimas de grupos criminosos e de violência policial. Também ajudava famílias de policiais assassinados.

Com frequência denunciava abusos cometidos por policiais em favelas. Dias antes de morrer, criticou o 41º Batalhão da Polícia Militar, o mais letal do Rio.

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