Descrição de chapéu Festa do Peão de Barretos

Barretos tenta vetar sexo ao ar livre em camping onde 'tudo' é permitido

Festa do peão busca mudar a cara de acampamento conhecido por stripteases

Marcelo Toledo
Barretos

Os avisos são claros a quem se hospeda em um camping da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos: “É expressamente proibido nudez (parcial ou total, incluindo topless), atos obscenos e qualquer atitude pornográfica”.

Também é proibido criar “chuveiros ao ar livre” e “piscinas” no espaço, e as regras de trânsito devem ser seguidas. O veto da organização aos pelados e a adoção de medidas como essas não ocorre à toa.

Com striptease à luz do dia, som alto, muita bebida e distribuição de medicamentos para disfunção erétil, o camping do Parque do Peão de Barretos é historicamente visto como o lugar em que quase tudo é “permitido” na Festa do Peão, que ocorre até o dia 26. Embora os avisos não sejam novos, pode-se argumentar que eles ainda são necessários no camping dos solteiros da Festa do Peão.

Caçambas de camionetes se transformam em piscinas, homens saem nus dos banheiros e mulheres fazem striptease e circulam vestidas apenas com calcinhas no espaço. “Quem vem aqui já chega sabendo o que encontrará. É o espaço mais liberal de todos, e o objetivo é festejar”, afirma o comerciante Wilson Silva, que saiu da capital paulista para participar da festa.

Há três campings diferentes: para solteiros, casados e famílias —o último foi criado neste ano. Juntos, eles comportam 15 mil pessoas, seus veículos e barracas na fazenda que abriga a festa e tem área total de 82 alqueires, tamanho equivalente a cerca de 278 campos de futebol.

Em qualquer um deles, o acesso só é permitido para quem porta a pulseira correspondente. Com a de solteiro, o turista não conseguirá entrar nos outros dois espaços. O silêncio é inexistente, e cenas de sexo ao ar livre são rotina na área, que fica mais afastada da badalação da feira comercial, do palco secundário, dos ranchos ou do imponente estádio de rodeios que abriga as provas de montarias e os principais shows.

“Fiquei um ano no de solteiros com uma prima, sem saber, e me arrependi. Um rapaz se escondia pelado e, quando as mulheres passavam, ele começava a se chacoalhar”, disse a paranaense Francine Mendes, que depois do episódio passou a frequentar apenas o camping de casados.

O camping é como uma guerra em que batalhas precisam ser vencidas a todo momento. A primeira delas é conseguir um espaço estratégico, já que quando o visitante compra o pacote não tem lugar definido para estacionar seu carro. Há quem chegue dias antes de a festa começar para demarcar seu território.

As outras incluem as conquistas amorosas, o dono do som mais alto e a turma que faz a melhor festa ou a que mais bebe (24 horas por dia). Garotas de programa também se hospedam no local, são disputadas pelos frequentadores e chegam a faturar até R$ 1.000 num dia, segundo relatos de hóspedes.

A Folha não obteve autorização para entrar no espaço de solteiros, mas entrou no de casados. O cenário é diferente. Casais que se conheceram em eventos com motorhomes dividem espaço, fazem churrascos e afirmam que, por eles, nem deixariam o local para ver shows ou montarias.

“É um ambiente ótimo para fazer amizades. Por mim, nem vou aos shows”, disse Vilmar Rocha Silveira, 64, que há quatro anos visita Barretos, está na cidade desde quarta-feira (15) e ficará até o último dia. A tentativa de deixar mais rígidas as regras surgiu ainda no início da década passada, quando a festa proibiu que homens laçassem mulheres nas ruas do Parque do Peão.

Neste ano foi lançada uma campanha contra o assédio, com a distribuição de adesivos com a frase “Não é não!”. Barretos prevê reunir 1 milhão de visitantes até o dia 26. Realizada desde 1956, a festa está em sua 63ª edição e movimenta a economia também em cidades vizinhas, como São José do Rio Preto e Ribeirão Preto.

Há quatro competições de rodeio, inclusive o Barretos International Rodeo, com peões brasileiros, mexicanos e americanos. A premiação total do rodeio será de cerca de R$ 1 milhão. O Parque do Peão recebeu R$ 2 milhões em investimentos para este ano, que incluíram as mudanças para a implantação do camping familiar, com copa, banheiros com berçários e cozinhas.

Já nos campings de solteiros e casados foram trocados postes de luz e plantadas 280 árvores, além de melhorias nos banheiros, instalação de pias e implementação de pontos de energia. Diretores da festa ainda argumentam que o camping ajuda a minimizar a falta de leitos em hotéis da cidade —o total é inferior a 2.000 vagas.

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