Descrição de chapéu Obituário Ady Addor (1935 - 2018)

Bailarina brasileira que se destacou nos EUA, Ady Addor morre aos 82 anos

Expressividade era sua marca; fez carreira em companhias internacionais

Ady Addor foi primeira-bailarina no Teatro do Rio e fez carreira internacional
Ady Addor foi primeira-bailarina no Teatro do Rio e fez carreira internacional - Reprodução
Raquel Salgado
São Paulo

Ady Addor era primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde nasceu, quando decidiu fazer aulas de balé em Nova Iorque. Era 1956, Ady tinha 20 anos e há cinco dançava como profissional. Comprou um pacote de aulas na escola do American Ballet Theatre (ABT). No terceiro dia de aula, lhe disseram que Lucia Chase, diretora e cofundadora da companhia do ABT, queria saber se Ady gostaria de fazer uma audição.

Ao fim do teste, recebeu um contrato para ser solista. Ao contar essa história para suas alunas (e eu fui uma delas), Ady dizia: “Achei que era para fazer parte do corpo de baile, mas era para ser solista!”. A hierarquia do balé profissional funciona assim: corpo de baile, no qual dança a massa da companhia, solistas e, por fim, primeira-bailarina.

A ideia era que Ady já saísse em turnê pelo país. Mas isso levou mais tempo do que se esperava. As bailarinas do American Ballet tinham as sapatilhas de ponta feitas sob medida. Ady, porém, não conseguia se acertar com as suas. A estreia foi sendo adiada, afinal, sem uma boa sapatilha, nada de pisar no palco. “Depois me dei conta de que as sapatilhas estavam ótimas, eu é que estava com medo de dançar”, contava.

Ady tinha uma técnica impecável, mas o que mais encantava em sua dança não era sua precisão. Ela era expressiva, interpretava os papéis como atriz. Passava uma emoção rara de se ver nos bailarinos. E fazia tudo de forma muito natural. “O público tem que te ver dançar e pensar: nossa, que fácil, que lindo, também quero fazer isso”, dizia. Mas lembrava que era preciso disciplina e concentração. Concentração que às vezes faltava a suas alunas. Ady as deixava hipnotizadas quando demonstrava os passos em sala de aula.

 

Naquela temporada nos Estados Unidos, Ady dançou com o ABT por quatro meses. A companhia queria que ela permanecesse, mas Ady estava noiva quando viajou aos EUA. Voltou ao Brasil para se casar e se mudou com o marido para a Venezuela. Lá conheceu Alicia Alonso, fundadora do Balé Nacional de Cuba. Alicia insistiu que Ady voltasse a dançar e a convidou para integrar a companhia. Ady topou, dançou em Cuba e, em seguida, o ABT a chamou para voltar, dessa vez como primeira-bailarina. Nessa segunda passagem, Ady fez parte da turnê que se apresentou na União Soviética, em 1961.

Sua carreira foi marcante, porém curta. Dançou profissionalmente por dez anos. Além de primeira-bailarina do ABT e do Teatro Municipal do Rio, foi um dos nomes do Balé do IV Centenário, criado para comemorar os 400 anos de São Paulo. Foram chamados os melhores bailarinos do país (além de Ady, nomes como Marika Gidali, do Balé Stagium, e Ismael Guiser), artistas plásticos como Lasar Segall, Di Cavalcanti, Candido Portinari e Flavio de Carvalho conceberam os cenários e figurinos e a música ficou por conta de Souza Lima, Camargo Guarnieri, Francisco Mignone e Villa-Lobos.

Ady deixou a carreira profissional depois da turnê na URSS para se dedicar à família, mas nunca se afastou da dança. Seguiu como professora e dona de escola. Faleceu aos 82 anos em São Paulo na madrugada do dia 2 de agosto ao sofrer um infarto. O sepultamento será nesta sexta-feira às 15h no Cemitério da Paz.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missas

 
Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.