Descrição de chapéu Obituário JOSÉ DE SOUZA PIMENTEL (1934 - 2018)

Jesus por 40 anos na Paixão de Cristo, ator morre aos 84

José Pimentel passou quase metade da vida interpretando cena em Pernambuco

José Pimentel na pele de Cristo, durante crucificação, em cena no teatro ao ar livre em Nova Jerusalém (PE)
José Pimentel na pele de Cristo, durante crucificação, em cena no teatro ao ar livre em Nova Jerusalém (PE) - Divulgação
João Valadares
Recife (PE)

Aos 82 anos, em abril do ano passado, em sua última apresentação como Jesus, na Paixão de Cristo do Recife, teve vigor para ficar pendurado numa cruz por 20 minutos. Nos intervalos entre as cenas, precisou do auxílio de cilindros de oxigênio para fazer nebulização.

Ator, diretor, dramaturgo, jornalista e professor universitário de comunicação aposentado, José Pimentel, 84, passou quase metade da vida interpretando Jesus em espetáculos da Paixão de Cristo. Virou lenda em Pernambuco.

Relutou até onde pôde entregar o papel a outro ator. Encenou até em um presídio e escolheu, na hora, os atores entre os detentos. Uma rebelião o fez deixar o local algumas horas depois do encerramento da apresentação.

Os amigos mais próximos dizem que Pimentel tinha medo da morte. Nada o encantava mais do que o teatro. Fazia de tudo: atuava, dirigia, cuidava do som e da cenografia pessoalmente.

Nascido em Garanhuns em 11 de agosto de 1934, no Agreste, ganhou o título, no ano passado, de Patrimônio Vivo de Pernambuco.

As perguntas sobre a velhice o incomodavam. Não via nenhum problema em interpretar um personagem de 33 anos mesmo tendo mais de 80.

E não parou até a morte, em decorrência de um enfisema pulmonar. Trabalhou na semana passada dirigindo o espetáculo “O Massacre de Angico – A morte de Lampião”, encenado ao ar livre em Serra Talhada, Sertão de Pernambuco.

Não gostava de políticos e achava graça quando, após as apresentações, as pessoas iam até ele para pedir casa e emprego. “Não tenho nem para mim”, respondia, relatam os mais próximos.

Fora de cena, era tido como uma figura excêntrica. Encarnou Jesus por 40 anos e não era religioso. Falava muitos palavrões e se orgulhava de ser um grande contador de piadas. Foi enterrado vestido de Jesus, como sempre pediu. 

Ganhou fama na Paixão de Nova Jerusalém, em Fazenda Nova. Em 1996, após 18 anos atuando como Cristo, acabou substituído por um ator global. Não desistiu de ser Jesus. Logo no ano seguinte, em 1997, produziu a Paixão do Recife.

Por quatro anos, a encenação ocorreu no estádio José do Rego Maciel, o Arruda, pertencente ao Santa Cruz. Depois, levou o espetáculo para o Marco Zero, no centro da cidade e aberto ao público. Pimentel deixa um bisneto, uma neta e uma filha.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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