Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Jovens, militares mortos em intervenção no Rio deixam filhos de 2 anos

Baleados, cabo e soldado moravam em cidade violenta na Baixada Fluminense

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Enterro dos dois militares, um cabo e um soldado, mortos durante operações em favelas comandadas pela intervenção federal na cidade
Enterro do soldado João Viktor da Silva, morto durante operação comandada pela intervenção federal no Rio - Júlia Barbon/Folhapress
Rio de Janeiro

Os dois eram jovens, pais e filhos. Os dois moravam em Japeri, cidade violenta na Baixada Fluminense. Os dois deixaram pequenos herdeiros de dois anos de idade. Os dois eram militares.

As coincidências nas vidas do cabo Fabiano de Oliveira Santos, 36, e do soldado João Viktor da Silva, 21, se estenderam até a morte de ambos, na segunda-feira (20), quando foram baleados em operação conjunta das forças de segurança na zona norte do Rio.

Foram os primeiros militares mortos em confronto durante a intervenção federal na segurança pública do estado, em vigor desde fevereiro.

Um terceiro militar ficou ferido e outros cinco suspeitos morreram na ação, que continuou nesta terça-feira (21) e prendeu 70 pessoas, libertou cinco reféns e apreendeu armas e drogas, segundo o último balanço divulgado.

Fabiano foi atingido de manhã no ombro, e João Viktor, na cabeça, durante a tarde. Fabiano estava no complexo da Penha. João Viktor, no Alemão. O Gabinete de Intervenção Federal até agora não deu detalhes das circunstâncias das ocorrências.

Eles estavam em locais próximos no momento dos tiros, morreram a caminho de hospitais e foram sepultados um acima do outro (em gavetas) no mesmo cemitério, em Japeri. As cerimônias contaram com a presença de dezenas de militares e de honrarias: banda, tiros para o alto e corneta.

A história de ambos no Exército havia começado havia pouco tempo. “Fabiano entrou com 31 anos, mas parecia um garoto de 17 de tão feliz”, conta o primo Luiz Cláudio Oliveira, 48, reformado pela Marinha. O cabo trabalhou como motorista de ônibus e fez outros bicos, mas no fim seguiu os passos da família de militares, incluindo seu pai, Jorge, soldado reformado.

Jair Bolsonaro deixa o enterro de um oficial morto em operação no morro do Alemão, no Rio - Ricardo Moraes/Reuters

O deputado e capitão reformado Jair Bolsonaro (PSL), candidato à Presidência, foi ao sepultamento de Fabiano, mas não comentou a morte.

Questionado pela Folha sobre o que a intervenção poderia fazer para evitar esse tipo de ocorrência, o candidato se limitou a dizer: “Eu resolvo quando eu for presidente”.

Mensagens de apoio a Bolsonaro estavam entre as postagens nas redes sociais de Fabiano, que costumava publicar louvores a Deus e fotos com os amigos e na academia —atividade que, segundo o primo, era seu maior hobby.

Outra diversão era cuidar da filha de dois anos, que mora com a mãe. “Ele era um paizão, sempre brincava com ela de casinha”, lembra chorando a prima Tânia Oliveira, 45. Ele deixou ainda a namorada e a mãe, Dulcineia, que saiu em prantos da cerimônia.

Cabo Fabiano de Oliveira Santos, 36, morto em operação comandada pela intervenção federal no Rio
Cabo Fabiano de Oliveira Santos, 36, morto em operação no Rio - Arquivo Pessoal

O outro militar sepultado, João Viktor, também é descrito pelos parentes como pai e filho presente. “A mãe dele mandou uma mensagem na segunda-feira dizendo que tinha percebido que o pé do filho era igual ao dele, mas ele não chegou a visualizar”, conta Mara Lima, sua ex-cunhada —ele havia se separado recentemente da mãe de seu filho, amor de infância.

O soldado era o mais novo de quatro irmãos, o “xodó da mamãe”, como dizem familiares. Nilda, dona de casa, tinha as pernas trêmulas e teve que ser segurada por militares após sepultar o filho.

Com apenas 19 anos, João Viktor saiu direto da escola pública em Japeri para o Exército. Era do 25º Batalhão de Infantaria Paraquedista —por isso a cerimônia tinha um mar de boinas vermelhas, símbolo do grupo.

Soldado João Viktor da Silva, 21, morto em operação comandada pela intervenção federal no Rio
Soldado João Viktor da Silva, 21, morto em operação no Rio - Arquivo Pessoal

“Era a vida dele ser paraquedista, foi um sonho realizado, só que a gente não sabia que seria interrompido dessa forma”, diz Mara. “Era de casa pro trabalho e do trabalho pra casa, e ele também gostava de jogar futebol, como todo menino de subúrbio”, afirma Ronaldo Pereira de Souza, 70, amigo da família de longa data.

Assim como na vida e na morte, as redes sociais e as notícias foram outro ponto em comum na história dos dois militares. Foi por elas que grande parte dos familiares e amigos ficou sabendo que nunca mais veria os dois jovens de novo.

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