Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Posso até ser leviano, mas metade não volta para Cuba, diz Mourão sobre médicos

Governo cubano anunciou o fim da participação no Mais Médicos após eleição de Bolsonaro

Brasília

Vice-presidente da República eleito, o general Hamilton Mourão (PRTB) disse, nesta segunda-feira (19), que acredita que metade dos médicos cubanos que trabalham no Brasil no programa Mais Médicos não retornará ao país caribenho após o fim da parceria com o governo brasileiro, anunciada na última semana.

"Posso até ser leviano, mas acho que metade não volta, hein. Não sei, acho que eles gostam do nosso estilo de vida”, afirmou a jornalistas na saída do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em Brasília, onde funciona o gabinete de transição. Ele disse ainda que os profissionais que desejarem ficar poderiam continuar trabalhando no país: “O próprio presidente Bolsonaro já falou isso"

"Não sei quanto tempo vai levar para esses médicos saírem. Vamos lembrar que para eles serem desdobrados onde estão, tiveram o apoio das nossas forças armadas. Eles estão espalhados por todo o Brasil, são mais de oito mil, não é dar um estalido e todos eles vão se deslocar para um aeroporto e embarcar”, comentou Mourão.

Na última quarta-feira (14), o governo de Cuba anunciou o fim de sua participação no Mais Médicos. O país atribui sua decisão a questionamentos feitos pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), à qualificação dos médicos cubanos e ao seu projeto de modificar o acordo, exigindo a revalidação de diplomas no Brasil e a contratação individual.

Nesta segunda (19), Mourão diz que se reuniu com diversos grupos da transição, mas não detalhou aos jornalistas as discussões de nenhuma das reuniões.

Atualmente, o Mais Médicos soma 18.240 vagas, sendo que cerca de 2.000 estão abertas, sem médicos. Do total de vagas preenchidas, 8.332 são ocupadas por médicos cubanos, que vem ao Brasil por meio de uma cooperação com a Opas. Além destas, o país tinha 4.525 vagas ocupadas por brasileiros formados no Brasil, 2.824 brasileiros formados no exterior e 451 intercambistas (médicos de outras nacionalidades).

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 1.600 municípios que hoje fazem parte do Mais Médicos só tem cubanos nas vagas do programa. Não há informação sobre o total de médicos extras (contratados pelos próprios municípios) nestes locais

A expansão de cursos e vagas de graduação em medicina ganhou impulso nos últimos cinco anos. Dados do Ministério da Educação apontam que, desde 2013, ano da implantação do programa, foram criadas 13.624 vagas para formação de novos médicos no país.

Com saída de cubanos, Temer pretende fazer novo Revalida 

Na tentativa de compensar a saída de profissionais cubanos do programa federal Mais Médicos, o presidente Michel Temer pretende implementar um novo Revalida, exame para revalidação de diploma de médicos formados no exterior.

Em encontro promovido pela CNM (Confederação Nacional de Municípios), em Brasília, o ministro da Saúde, Gilberto Occhi, informou que o presidente pediu a ele para agilizar a adoção de um nova avaliação.

“O presidente determinou que tratemos de forma mais ágil, rápida e eficaz a implantação de um novo Revalida, pra que médicos brasileiros formados no exterior possam exercer sua profissão no país”, disse.

Occhi diz que deve se reunir com o ministro da Educação, Rossieli Soares, para analisar mudanças no exame, hoje aplicado pelo Inep, instituto ligado ao Ministério da Educação.

Entre as medidas em avaliação, está repassar a responsabilidade por aplicar a prova a hospitais federais da rede de ensino e verificar a periodicidade do exame para que todos os médicos estrangeiros e brasileiros formados no exterior que participam do Mais Médicos possam obter a revalidação. 

“Ele [ministro da educação] quer descentralizar o Revalida e ver possibilidades. A descentralização eventualmente passa até pelos próprios hospitais federais [universitários, ligados à Ebserh], que são 54 espalhados pelo país. Isso facilitaria a aplicação”, afirmou. "Vamos dar a opção para que [médicos estrangeiros do Mais Médicos] possam obter o Revalida. Vamos construir fases e períodos para que possam obter sua certificação."

Segundo o ministro, atualmente, há 17 mil médicos brasileiros formados no exterior e há 8,5 mil vagas que serão disponibilizadas pelo Mais Médicos a quem tem CRM, ou seja, registro profissional para atuar no país.

“A determinação do presidente é de que tenhamos o menor impacto na ausência de qualquer médico cubano que possa ter saído do país”, afirmou.

De acordo com ele, na terça-feira (20), será publicado edital de convocação para médicos formados no país atuarem no programa federal, especificando o número de vagas por município brasileiros.

E, na próxima semana, será divulgado um novo edital que, além de incluir os profissionais com registro profissional, abrirá possibilidade de adesão também a brasileiros ou estrangeiros formados em outros países.

O ministro disse ainda que, diferentemente do processo anterior, agora só ficarão disponíveis no sistema as vagas do programa que não têm inscrições. Antes, o sistema permitia número ilimitado de inscrições.

“Se em um município há cinco vagas, os cinco primeiros que se inscreverem ocuparão essas vagas”, disse.

Em discurso no mesmo evento, o presidente disse que tomou uma decisão imediata para evitar que o Mais Médicos fosse prejudicado com a saída de Cuba.

“Nenhum município ficará desprovido”, afirmou.

Gabriela Sá Pessoa, Laís Alegretti , Gustavo Uribe e Natália Cancian
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