54 PMs de batalhão de SP são presos sob suspeita de ligação com facção criminosa

Segundo investigação, policiais militares faziam vista grossa ao tráfico de drogas na zona sul

São Paulo

Uma operação da Corregedoria da PM e do Ministério Público prendeu 54 policiais militares de um mesmo batalhão nesta terça-feira (18) sob suspeita de ligação com o tráfico de drogas comandado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) na zona sul de São Paulo.

Outros quatro homens acusados de integrar a facção criminosa também foram presos, e dois continuavam foragidos.

Foram apreendidos com os policiais armas com numeração raspada, cerca de R$ 80 mil em espécie, além de drogas escondidas nas casas deles e até no quartel da PM onde trabalhavam. Todos os presos são praças da corporação: um subtenente, sete sargentos, 13 cabos e 33 soldados.

Segundo a Polícia Militar, essa é a maior operação já realizada pela Corregedoria contra policiais suspeitos de ligação com o crime organizado e a terceira de grande vulto só neste ano. Em agosto passado, 32 PMs foram presos na região de Campinas e, em março, outros 20 também foram encarcerados na região de Taubaté, todos suspeitos de ligação com o comércio de entorpecentes.

As investigações referentes à operação desta terça foram iniciadas em fevereiro deste ano pela Corregedoria da PM com apoio do Gaeco (grupo da Promotoria de combate ao crime organizado).

Centenas de PMs cumprem os mandados de prisão na operação Ubirajara nesta terça-feira (18)
Centenas de PMs cumprem os mandados de prisão na operação Ubirajara nesta terça-feira (18) - Divulgação

Em dez meses, os investigadores realizaram 82 mil interceptações telefônicas e descobriram que os PMs eram pagos por criminosos para fazerem vistas grossas para o tráfico de drogas na área do batalhão em que atuavam, o 22º —localizado na zona sul da capital paulista e que conta com 608 policiais no total.

As prisões representaram, assim, quase 10% de todo o efetivo do batalhão. 

Todos os policiais presos serão levados para o presídio militar Romão Gomes, no Tremembé (zona norte), que tinha 240 detentos até então e passará a funcionar com sua lotação máxima. 

A operação foi desencadeada em 19 municípios de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Além dos mandados de prisão, a operação batizada de Ubirajara buscou cumprir outros 86 mandados de busca e apreensão (70 expedidos pela Justiça Militar e 16 pela Justiça comum).

Segundo a PM, a operação envolveu 450 policiais militares (280 policiais corregedores e 170 policiais do 2º Batalhão de Polícia de Choque), promotores de Justiça e agentes do Gaeco.

Os suspeitos vão responder na Justiça pelos crimes de corrupção passiva, concussão (vantagem indevida), associação ao tráfico de drogas e por integrar organização criminosa, entre outros ilícitos penais.

A Polícia Militar, sob a gestão do governador Márcio França (PSB), disse que não compactua “com ações praticadas por seus integrantes ou quaisquer outros atos que atentem contra a disciplina e os valores e deveres militares”, segundo trecho de nota.

A corporação afirma ainda que vai contribuir com a Justiça na apuração do caso. Se os ilícitos forem confirmados, a instituição afirma que os suspeitos poderão ser expulsos do quadro.

A operação ocorre a menos de duas semanas da posse do governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), que tem adotado um discurso de endurecimento contra o crime organizado. 

Entre as frentes definidas pelo tucano estão a tentativa de sufocar o PCC financeiramente, atacando o seu diversificado sistema de lavagem de dinheiro, que inclui postos de gasolina, revendedoras de automóveis e empresas de exportação, entre outros empreendimentos comerciais.

A gestão Doria também sinalizou estar disposta a remanejar a cúpula do PCC, incluindo o chefe da facção, Marcola, de Presidente Venceslau para presídios federais, caso isso não seja feito até 1º de janeiro.

O pedido para transferir 15 chefes da quadrilha foi protocolado pelo Ministério Público Estadual e está sob análise da Justiça. Ele ocorreu depois da descoberta de um plano de resgaste dos criminosos no interior de São Paulo.

Na gestão Márcio França, houve divergência entre secretários sobre a pertinência de fazer a transferência neste momento devido ao risco de retaliações do PCC.

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