Em outubro de 1967 a jornalista Helle Alves, que atuava nos Diários Associados, foi enviada à Bolívia para cobrir o julgamento do francês Régis Debray, acusado de participar de movimentos revolucionários.
Percebendo uma movimentação diferente, e com o instinto de que poderia encontrar uma boa pauta em outro local, pediu autorização para sua chefia para mudar os planos de trabalho.
A decisão arriscada tinha fundamento e foi em Vallegrande que ela conseguiu um furo que marcou sua carreira: foi a única repórter que testemunhou a chegada do corpo de Ernesto Che Guevara, logo após ser morto na guerrilha.
Helle era uma mulher à frente do seu tempo, que não tinha medo de quebrar tabus. Foi destaque no jornalismo numa época em que as redações eram compostas em sua maioria por homens. Filha mais velha, trabalhou desde os 15 anos para ajudar a família, que fora expulsa da terra natal, Minas Gerais, após o pai morrer com tuberculose.
Já em São Paulo ela se casou, mas se separou anos depois, e criou os dois filhos trabalhando em mais de um lugar —atuou por muito tempo na Assembleia Legislativa de SP.
Ela defendia a autonomia das mulheres, o que era uma realidade em sua vida. Ela morou sozinha até os 92 anos.
Acompanhou as inovações tecnológicas e era uma usuária assídua das redes sociais. Chegou a produzir sozinha um jornal inteiro —entrevistou, escreveu textos, fotografou e diagramou.
Muito otimista, a jornalista sabia dar a volta por cima. Sofreu com a morte do filho, o cineasta Lael Rodrigues, mas seguiu adiante. Foi nesse período que migrou para Santos, onde atuou em várias frentes.
“Ela não parava, se envolveu com muitas causas e encabeçou a luta pela criação do estatuto dos idosos”, lembra a filha Laedi.
Helle morreu de causas naturais no dia 27 de janeiro. Ela deixa a filha, o genro José Maria e quatro netos.
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