Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Suspeito de matar Marielle tem carro de R$ 120 mil e passou feriado em Angra

Ronnie Lessa se aposentou por invalidez após perder parte da perna em um atentado em 2009

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz
O PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz - Divulgação/AFP
Rio de Janeiro

Se todo Carnaval tem seu fim, Ronnie Lessa, 48, e Élcio Queiroz, 46, aproveitaram bem o último que tiveram antes de serem presos, nesta terça-feira (12), sob suspeita de terem participado do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes.

Isso é o que aponta investigação do Ministério Público que levou ao encarceramento da dupla dois dias antes do aniversário de morte de Marielle e Anderson.

Compadres, parceiros, amigos: palavras que a promotora Simone Sibílio usou para descrever a relação de Lessa, policial militar já aposentado, e Élcio, expulso da PM após cair na Operação Guilhotina em 2011, que investigou corrupção entre fardados.

Os dois, segundo Sibílio, passaram o feriado carnavalesco em uma casa alugada de luxo em Angra dos Reis, e por lá andar de lancha era hobby preferencial.

Alto padrão não é algo estranho à vida de Lessa, que aluga uma casa no Vivendas da Barra, mesmo condomínio na orla carioca onde o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seu filho Carlos, vereador do PSC no Rio, têm casa.

Os 13 disparos que mataram vereadora e motorista teriam partido de Lessa, sargento reformado até aqui ficha limpa, apesar de ser investigado por outros homicídios e por envolvimento com a milícia, de acordo com a Promotoria.

Vive com mulher e dois filhos em um imóvel na rua C, a mesma do presidente dentro do condomínio, onde a média de aluguel por unidade é de R$ 8.000 e o IPTU pela casa de 280 m2 sai por R$ 12,6 mil anuais, fora o condomínio de R$ 2.316. De sua varanda é possível ver o quarto de Laura, 8, filha de Jair e Michelle Bolsonaro.

A família tem dois carros na garagem e uma lancha feita sob encomenda. Um dos filhos pedala uma bicicleta elétrica e coleciona armas "airsoft", que replicam pistolas, revólveres e até fuzis, atiram esferas plásticas e são populares entre adeptos de esportes que simulam ações militares.

Um dos veículos apreendidos na Barra: um Infiniti FX35, modelo que custa em média R$ 120 mil. O achado com Lessa é blindado, branco e acumula 124 multas, a maioria por excesso de velocidade —a primeira delas em 21 de agosto de 2013, no aterro do Flamengo.

O vizinho dos Bolsonaros guardava "um verdadeiro arsenal, o que só demonstra que ele não é uma pessoa voltada à paz, uma pessoa que tem personalidade violenta", disse a promotora Sibílio em entrevista a jornalistas. A polícia também encontrou numa casa no Méier, de Alexandre Motta, que seria amigo de infância de Lessa, material o suficiente para montar 117 fuzis, além de três silenciadores e 500 munições.

Armas e munições apreendidas na casa de Alexandre Motta, amigo de Ronnie Lessa
Armas e munições apreendidas na casa de Alexandre Motta, amigo de Ronnie Lessa - Divulgação

Segundo a Polícia Civil do Rio, Lessa era obcecado com personalidades da esquerda. Marielle e o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) estavam entre os que buscava na internet.

"Você percebe ódio e desejo de morte. Você percebe o comportamento de alguém capaz de resolver uma diferença do modo como foi o caso Marielle", disse o delegado Giniton Lages, chefe da Delegacia de Homicídios do Rio.

Diversos suspeitos com perfil similar estavam na mira das autoridades desde o início das investigações. Entre eles Lessa, que já passou por Exército, polícias Militar e Civil e também pelo Bope, a tropa de elite da PM.  

O PM reformado chegou a ser homenageado na Assembleia Legislativa do Rio, uma moção de louvor apresentada em 1998 pelo deputado Pedro Fernandes Filho, avô de Pedro Fernandes Neto (PDT), atual secretário estadual de Educação, e pai da vereadora Rosa Fernandes (MDB-RJ).

O policial era digno da honraria graças à "sua condição humana e de militar discreto mas eficaz", sustentou o deputado à época.

O cerco se afunilou em torno de Lessa há três meses, a partir de uma denúncia que o identificou como o assassino de Marielle e que informou que o carro utilizado pelos suspeitos havia saído do Quebra Mar, região na Barra da Tijuca, dica confirmada posteriormente com imagens.

Uma tatuagem no braço dele também ajudou a ligá-lo com o crime, já que imagens do dia do crime mostram mancha compatível no braço direito do atirador, que estava com a manga dobrada, segundo a promotora Elise Fraga.

O sargento se aposentou por invalidez: perdeu parte da perna num atentado em 2009. Um ano depois, outro ataque a bomba matou um filho de 17 anos do bicheiro Rogério Andrade, para quem Lessa supostamente fazia segurança.  

O ataque foi atribuído ao ex-sargento do Exército Volber Roberto da Silva Filho, que acabou morto em 2010, numa ação da Polícia Civil, em troca de tiros num motel em Jacarepaguá. 

Em abril de 2018, semanas após Marielle perder a vida, Lessa foi de novo alvo: uma bala atingiu de raspão seu pescoço, crime então creditado a uma tentativa de assalto.

O sobrevivente de dois ataques e suspeito de um punhado de assassinatos tem gosto por caveiras, entre elas as de vidro que adornam a estante de sua casa.

É o "caveira 37" do Bope, o coronel Mário Sérgio Duarte, ex-comandante da tropa de elite, que aparece com uma frase na foto de capa do Facebook de Élcio Queiroz —suspeito de dirigir o Cobalt prata usado na emboscada contra Marielle.

Como Lessa, ele foi preso de madrugada ao sair de casa, mas a sua fica no periférico Engenho de Dentro. Atuava como segurança particular, mas sonhava em reingressar na PM, da qual foi expulso após ser denunciado pela Operação Guilhotina, da Polícia Federal, em 2011.

A investigação apontou um esquema de corrupção policial, e o então policial do 16º batalhão, no bairro de Olaria, integrava um grupo de 13 pessoas que escoltava casas de jogos de azar no Rio, conforme sustentou o Ministério Público à época. Acabaram absolvidos.

Filiado ao DEM (que já decidiu por sua expulsão), o ex-PM causou frisson nas redes sociais por aparecer em foto com Bolsonaro, o que encorpou a tese de que o presidente poderia de alguma forma estar ligado com o ex-PM. O retrato é de 2011 e foi tirado antes de Élcio ser removido da corporação militar.

"Estão querendo politizar a questão. Bolsonaro tira foto com todo mundo. Daqui a pouco vão acusá-lo de ter jogado o World Trade Center lá abaixo", disse o advogado do ex-policial, Luiz Carlos Azenha.

O ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, preso nesta terça (12) por envolvimento no assassinato de Marielle, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PSL)
O ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PSL) - Reprodução/Facebook
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.