Comerciantes dizem que PM danifica produtos e manda fechar portas em Paraisópolis

Ações seriam em represália a morte de policial, dizem moradores da comunidade

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São Paulo

"Chegaram na minha loja, pegaram as roupas, os bonés e foram atirando no chão falando que tinha droga. Desde que morreu um PM aqui, é assim. É a PM quem decide o que abre e o que fecha", diz um homem, sentado na porta do seu comércio, em Paraisópolis (zona sul de SP). 

Os relatos de repressão a comerciantes são comuns na comunidade que foi cenário da morte de nove jovens por pisoteamento após uma ação policial no domingo (1º). Com medo, eles pedem para não ser identificados. 

A tensão cresceu há um mês, quando o sargento Ronaldo Ruas Silva, de 52 anos, da Força Tática, foi baleado após uma abordagem a suspeitos com troca de tiros. 

Desde então, se intensificaram os relatos de moradores sobre agressões por parte da polícia. A violência, segundo afirmam, é indiscriminada e não restrita apenas a frequentadores do baile funk. 

Paraisópolis é uma favela que difere da maioria das outras por ser também um vibrante centro comercial. Há loja das Casas Bahia, bancos e restaurantes de diversos tipos, como de sushi. 

Nas noites de baile funk, quando milhares de pessoas de fora chegam à comunidade, os comerciantes costumam ficar abertos para aproveitar a clientela. No entanto, isso não tem sido fácil desde a morte do PM. 

"Bateram em uma mulher idosa no comércio dela. Aqui no meu, já vieram três vezes neste último mês e mandaram fechar. Falaram: 'pode fechar, você não tem alvará'", afirmou um dono de uma loja de bebidas. "Você sabe que aqui é difícil alguém ter alvará, né? Então sempre dizem isso." 
Ele afirma que já teve prejuízo diversas vezes por conta deste tipo de comportamento, que se tornou mais frequente. 

Moradores da comunidade de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, durante ato em protesto contra ação em baile funk
Moradores da comunidade de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, durante ato em protesto contra ação em baile funk - Jardiel Carvalho/Folhapress

"Uma vez entraram aqui e empurraram as caixas de bebida e quebraram tudo. Eles falam para a gente: 'Vocês são todos associados com o crime', sendo que 99% das pessoas aqui não têm relação nenhuma." 

Esse tipo de ação da polícia acontece à noite, segundo ele. A reportagem conversou com alguns comerciantes que passaram, inclusive, a deixar de abrir nesse horário para evitar ter prejuízo. 

Os estabelecimentos que funcionam mais perto do trecho da rua Ernest Renan onde acontece o principal baile funk da favela afirmam que lá a pressão é maior. 

Em situações que a polícia dispersa o baile, os policiais são acusados de caçar frequentadores dos eventos que se escondem dentro dos comércios. 

"Às vezes, a gente abriga as pessoas lá dentro na correria. Eles mandam abrir e batem nas pessoas. Se a gente não abrir, eles estouram a porta", afirma uma dona de lanchonete no local.

Uma cena que exemplifica esse tipo de ação é a de um policial militar filmado com um sorriso no rosto enquanto batia em várias pessoas que saíam de uma. Ele acabou identificado e afastado. 

Nesta quarta-feira (4), moradores da favela protestaram contra abusos.

Questionada, a Secretaria da Segurança Pública, do governo João Doria (PSDB), afirmou que realiza, desde março, operações regulares na favela, com "o patrulhamento diário e unidades especializadas, como o Choque, o COE, o Comando de Aviação (CAv) e o Canil". 

Segundo a nota do governo, "esse trabalho permitiu a prisão de 96 criminosos e apreensões de 2,7 toneladas de drogas e 31 armas ilegais". 

A nota diz que as denúncias sobre atuação policial podem ser feitas à Corregedoria. 

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