Terreiro influente da Bahia, Ilê Axé Opô Afonjá escolhe nova ialorixá

Ana de Xangô foi escolhida neste sábado (28) em Salvador; Mãe Stella de Oxóssi, sacerdotisa desde 1976, morreu em 2018

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Salvador

Foram os orixás, por meio do jogo de búzios, que selaram o destino de um dos terreiros de candomblé mais influentes do Brasil.

Ana Verônica Bispo dos Santos, a Ana de Xangô, foi escolhida na manhã deste sábado (28) em Salvador a nova líder religiosa do Ilê Axé Opô Afonjá. Com 53 anos, ela é pedagoga e professora em uma escola particular da capital baiana.

A ialorixá Ana de Xangô sucede Maria Stella de Azevedo Santos, a Mãe Stella de Oxóssi. Sacerdotisa do terreiro desde 1976, ela era uma das ialorixás mais importantes do país e morreu em dezembro do ano passado aos 93 anos.

 
 Betto Jr / Correio da Bahia
Ana de Xangô, 53 anos, foi escolhida em jogo de ifá na manhã deste sábado (28) como nova líder religiosa do terreiro - Betto Jr / Correio da Bahia

Mãe Stella dedicou 80 anos da vida ao candomblé e comandou durante 42 anos Ilê Axé Opô Afonjá.  Enfermeira de formação, ela também era escritora e tornou-se uma referência nas lutas contra a intolerância religiosa e contra o racismo no país.

Mãe Ana de Xangô é a sexta ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. Ela não tem laço de parentesco com a antecessora, mas foi iniciada no candomblé há 31 anos pela própria Mãe Stella de Oxóssi.

No Ilê Axé Opô Afonjá, a sucessão não segue a linha familiar: são os orixás, através do jogo de búzios, quem escolhem a nova ialorixá. Foi assim que Mãe Stella foi escolhida sacerdotisa em 1976, mesmo não sendo parente de Mãe Ondina nem de sua antecessora, Mãe Senhora.

A Ialorixá Mãe Stella de Oxóssi, na Academia de Letras da Bahia
A Ialorixá Mãe Stella de Oxóssi, na Academia de Letras da Bahia - Manu Dias/Agecom

Fundado em 1910 por Mãe Aninha, o Opô Afonjá é um dos terreiros mais antigos do país. Foi frequentado por baianos ilustres como Jorge Amado e Dorival Caymmi, além do artista plástico argentino Carybé e do fotógrafo francês Pierre Verger, radicados na Bahia.

A sucessão ocorreu um dia depois do encerramento do axexê, período dedicado aos rituais fúnebres do candomblé e no qual os rituais litúrgicos do terreiro são suspensos.

O jogo de ifá, no qual é feita a interpretação dos búzios, foi feito pelo babalorixá Balbino Daniel de Paula, sacerdote do terreiro Aganju que foi iniciado por Mães Senhora, terceira ialorixá a comandar o Opô Afonjá.

A sucessão ocorreu em um clima de tranquilidade, a despeito do período conturbado que o terreiro enfrentou nos últimos anos. No final de 2017, em meio a uma disputa familiar, Mãe Stella deixou o terreiro e foi morar na cidade de Nazaré, no recôncavo baiano.

Com a idade avançada, Mãe Stella estava com a saúde debilitada após sofrer um acidente vascular cerebral. Já tinha perdido parte da visão e se locomovia com a ajuda de uma cadeira de rodas. Desde 2016, não participava de cultos e festividades do terreiro.

A saída da sacerdotisa do terreiro havia criado uma situação peculiar, já que a sucessão só poderia ser realizada após a morte da ialorixá.

Com a escolha da nova sacerdotisa, o Ilê Axé Opô Afonjá voltará a funcionar de forma plena, retomando uma série de ritos que deixaram de ser realizados com a ausência da ialorixá.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.