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Alalaô

Alta voltagem política da Sapucaí contrasta com Anhembi inócuo

Samba ultraengajado da Mangueira, porém, não levantou o público

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São Paulo

A primeira noite do grupo especial carioca confirmou o que era esperado das escolas de samba do Rio neste ano: um Carnaval muito político.

De pedido por respeito às religiões afro a Jesus e apóstolos moradores do morro tomando enquadro da polícia, a Sapucaí viu temas de 2020. Ao contrário do que se viu no Anhembi, em São Paulo, que pareceu alienado, com a maior parte das escolas descoladas da realidade.

Homens vestidos como policiais de elite seguram ator vestido como Jesus Cristo e o revistam na avenida, enquanto outros atores vestidos de apóstolos são colocados de costas contra um muro cenográfico, diante das arquibancadas da Sapucaí
A comissão de frente da Mangueira mostrou Jesus e seus apóstolos enquadrados pela polícia - Ricardo Moraes/Reuters

A Mangueira era a mais esperada da noite, com um enredo que causou polêmica entre religiosos, propondo o retorno de Jesus aos morros cariocas hoje. A expectativa não foi de todo frustrada, mas o samba, de canto difícil —o que já era possível notar nos ensaios—, não levantou a arquibancada.

A verde e rosa, porém, entregou a provocação que prometeu. Já na comissão de frente, um Jesus hip-hop dança e faz poses para selfies com seus amigos-apóstolos moradores de morros cariocas até serem interrompidos por policiais violentos que os revistam contra um muro. 

O carro abre-alas trazia Nelson Sargento e Alcione como José e Maria, começando um desfile que deu a Cristo e aos santos a face das minorias. Ao longo de alas e carros, Jesus foi negro, mulher, indígena, gay e presidiário. Um carro gigantesco trazia um jovem negro de cabelo platinado e tatuagens crucificado; onde normalmente se lê “Inri”, lia-se “Negro”. 

A rainha de bateria, uma mulher negra, coberta por um vestido roxo, representava Jesus com seus estigmas. A provocação, ali, encontrou seu limite: Evelyn Bastos estava bastante vestida para uma passista e não sambou. A Grande Rio, com enredo sobre o pai de santo Joãozinho da Gomeia, fez uma defesa da liberdade religiosa com uma das frases de refrão mais fortes da noite.

Seu samba, cheio de referências ao candomblé, cantava “eu respeito o seu amém/ você respeita o meu axé”. A escola de Caxias fez um lindo desfile, com enredo ligado à comunidade —Joãozinho atuou na cidade—, carros coloridos e uma comissão de frente acompanhada de tripé com espelho d’água que narrava a visão infantil de Joãozinho, um grande pássaro, que lhe revelou sua vocação.

Viradouro e Portela, contudo, com seus enredos menos explicitamente ativistas, foram as que mais se destacaram para brigar pelo título.

Encerrando a noite, a escola de Madureira fez um desfile impecável dedicado à história do Rio de Janeiro indígena tupinambá, antes da ocupação branca, abusando dos espelhados e das cores vivas, que se destacam ao raiar do dia. Há tempos não se via um desfile sobre a herança indígena tão bem feito, com carros de beleza impressionante.

A niteroiense Viradouro dedicou a noite às lavadeiras baianas da lagoa de Abaeté, com uma homenagem às mulheres negras de Salvador. A comissão de frente arrebatou o público com coreografia de Alex Neoral, da companhia de dança Focus, e a presença de uma atleta de nado sincronizado em tanque d’água vestida de sereia.

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