Ceará tem um assassinato por hora após motim de policiais

Estado registrou 51 homicídios nas primeiras 48 horas do movimento de policiais militares paralisados em quartéis

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Maristela Crispim
Fortaleza

Desde o início do motim de policiais militares no Ceará, 51 pessoas foram assassinadas no estado. Na terça (18), quando o movimento começou, cinco homicídios foram registrados.

Já na quarta-feira (19), o número de mortos chegou a 29 e, nesta quinta (20), foram 22. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social. Em média, uma pessoa morreu por hora durante o período.

O motim ficou marcado nesta semana pelos disparos contra o senador licenciado Cid Gomes (PDT-CE), que investiu contra PMs amotinados e familiares em um batalhão da PM em Sobral (a 270 km de Fortaleza). 

Por causa da instabilidade com policiais militares, ao menos cinco prefeituras do interior cearense decidiram cancelar a festa de Carnaval.

Em um dos últimos casos, José Guilherme da Costa Câmara, 17, foi assassinado na madrugada desta sexta-feira (21), no bairro Vicente Pinzón. A Polícia Civil investiga o caso. 

José Guilherme foi morto a tiros na rua Aristides Barcelos. Ele já havia sido apreendido por tráfico de drogas e lesão corporal, segundo a polícia. 

Na quarta, uma das vítimas foi a dona de casa Maria de Paula Ribeiro Amora Miguel, 26. Segundo a polícia, ela estava em uma rotatória, quando dois homens abordaram o veículo e acabaram baleando a mulher. 

Trator em que o senador licenciado Cid Gomes foi baleado nesta quarta-feira (19) continua parado em frente ao 3° Batalhão da PM de Sobral e atrai muitos curiosos ao local - Marcel Rizzo/Folhapress

Após os disparos, Maria de Paula acelerou o carro e colidiu com o muro de um condomínio. A vítima chegou a ser encaminhada a uma unidade de saúde, mas acabou morrendo. 

Policiais civis prenderam um suspeito de 20 anos, que já respondeu a crimes como tentativa de homicídio e roubo. Ele foi capturado no mesmo bairro onde ocorreu o latrocínio. Com ele, a polícia apreendeu uma pistola 9 milímetros, que passará por perícia para saber se foi a arma usada no crime.

Outro suspeito, de 28 anos, foi morto pelos policiais —segundo a Polícia Civil, ele reagiu no momento que seria detido. Com ele, a Polícia Civil apreendeu um revólver calibre 38.

Para denúncias e informações que possam ajudar na investigação dos crimes, a Polícia Civil divulgou um número de WhatsApp (85) 99111-7498, além do 181.

Nesta sexta, pelo menos cinco cidades do interior anunciaram que vão cancelar as festas de Carnaval em virtude da escassez de apoio de segurança pelo motim de PMs. São elas Paracuru, Canindé, Santana do Cariri, Forquilha e São Luís do Curu.

PMs amotinados (muitos cobrem o rosto) e familiares no 18° BPM do bairro Antonio Bezerra, em Fortaleza, uma das unidades com concentração de PMs em motim essa semana no Ceará - Maristela Crispim/Folhapress

Em Paracuru, no litoral oeste, com um tradicional Carnaval de praia, o prefeito Eliabe Albuquerque informou o cancelamento via Facebook.

"Nós contávamos com um efetivo de 200 homens para fazer a segurança. Mas, sem o apoio da Polícia Militar fica muito difícil fazer um evento de grande porte."

Ele disse que esperou, até a manhã desta sexta, que o problema fosse contornado, depois de palco montado e bandas contratadas, mas que não foi possível manter a festa. 

Em Canindé, uma reunião definiu pelo cancelamento de toda a programação. O Ministério Público estadual havia recomendado à prefeitura que a festa só seguisse se houvesse meios de garantir a segurança dos moradores.

Na manhã desta sexta-feira, o governador Camilo Santana (PT) avisou que não vai conceder nenhum tipo de anistia administrativa para os envolvidos em atos de vandalismo e insubordinação.

"Anistia para quem fizer motim na polícia é inegociável", declarou o governador. Nos bastidores, Santana tem dito a secretários mais próximos que não vai negociar "com bandidos mascarados e armados".

No fim da noite desta quinta, líderes dos amotinados, que queriam perdão administrativo do governo para não serem punidos, decidiram continuar o movimento.

Em Sobral, onde o senador licenciado foi baleado, policiais militares que estavam no batalhão onde ocorreram os disparos decidiram na madrugada desta sexta ocupar um outro quartel.

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