Descrição de chapéu Coronavírus

Belo Horizonte decide frear reabertura gradual após menos de uma semana

Prefeitura recuou diante do aumento da velocidade de transmissão do coronavírus

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Belo Horizonte

O prefeito Alexandre Kalil (PSD) anunciou em entrevista à imprensa nesta sexta-feira (29) que Belo Horizonte não irá ampliar a reabertura gradual iniciada na última segunda-feira e deve parar no ponto atual.

O aumento da velocidade de transmissão do vírus na cidade e a preocupação com o cenário no interior basearam a decisão da prefeitura.

“São números dinâmicos e as curvas do interior estão assustadoramente exponenciais. Nós estamos num espírito de colaboração, de avisar o que está acontecendo [a outros municípios e a Secretaria Estadual de Saúde]”, disse Kalil. “O culpado é um sistema estadual sucateado há anos, abandonado há anos, e que Belo Horizonte ainda conseguiu recuperar."

Comércio no centro de Belo Horizonte; capital mineira decidiu frear reabertura gradual após uma semana de flexibilização
Comércio no centro de Belo Horizonte; capital mineira decidiu frear reabertura gradual após uma semana de flexibilização - Fernanda Canofre - 25.mai.20/Folhapress

Atualmente, 17% das internações em leitos de UTI e enfermaria reservados para casos da Covid-19 na rede municipal são de pessoas de fora da capital. Os dados divulgados pela prefeitura nesta sexta apontam total de 55% de ocupação de UTIs e 43% de leitos de enfermaria para o novo coronavírus —o que indica situação estável, mas de alerta.

A capital também tem sido procurada por pacientes de outros estados. A prefeitura, que chegou a divulgar casos de funcionários da Vale de outros estados trazidos para Belo Horizonte, diz que, como os pacientes de fora de Minas Gerais estão apenas na rede privada, o poder público não tem números consolidados.

“Tem uma procura de vários pacientes de outros estados. Essas pessoas vêm com acompanhantes que vão para hotéis, geralmente, eles não estão infectados ou estão sem sintomas, e Belo Horizonte vem sendo espremida. A amplitude desse escudo de proteção vai diminuir e temos que retardar isso”, afirma Estevão Urbano, infectologista e membro do comitê da prefeitura.

A velocidade de transmissão do vírus, que era de 1,09, na semana passada em Belo Horizonte, passou a 1,2 esta semana —o índice ideal é abaixo de 1. Em Minas, ele passou de 1,4 para 1,8, enquanto cidades da região metropolitana e do interior entraram na margem vermelha do índice, segundo apontamentos apresentados pela prefeitura nesta sexta.

“Nós não atribuímos [essa mudança], no momento, à flexibilização, que começou há cinco dias, uma vez que temos uma doença com período de incubação de 14 dias. Esses casos são, provavelmente, de semanas anteriores. Isso não pressionou o sistema de saúde, que está preparado, mas temos que ser responsáveis e não deixar que a epidemia continue evoluindo de forma rápida”, diz o infectologista Carlos Starling, também membro do comitê.

Apesar de ainda não ver uma ligação direta com os casos do interior, o secretário municipal de Saúde, Jackson Pinto, diz que a possibilidade de um impacto vindo deles é uma preocupação.

A taxa de letalidade baixa e o tempo de isolamento adotado em BH foram fatores importantes na decisão de começar a flexibilizar esta semana. O fechamento de atividades não essenciais em BH foi determinado poucos dias depois do primeiro caso ser confirmado na capital.

“A nossa preocupação é com o número de pessoas que pode vir a morrer, por precisar de UTIs, e não deixar que essas pessoas fiquem à mercê da sua sorte. É o que nos leva a ter mais cautela, no sentido de flexibilizar”, afirma o secretário.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, no dia 21 de maio, o governador Romeu Zema (Novo) chegou a criticar as medidas mais rígidas adotadas na capital, chamando de "ponto fora da curva" em comparação com outras cidades mineiras.

Citando o ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill, Kalil respondeu ao comentário pelas redes sociais, dizendo que Zema estava "decidido só a não decidir".

Com o decreto que aumentou a flexibilização em Belo Horizonte, o percentual de atividades comerciais autorizadas a funcionar na capital passou de 62% para 74%. A estimativa é que 32 mil trabalhadores retornaram às atividades esta semana.

O índice de isolamento social não teve impacto com a primeira fase da flexibilização; enquanto no dia 18 de maio ele era de 49%, na segunda-feira (25), primeiro dia de reabertura de parte do comércio, passou a 48%, voltando a 49% nesta quinta-feira (28). O movimento é compatível com a mudança, segundo especialistas da prefeitura.

Lojas de roupas, calçados, eletrodomésticos, shoppings, bares e restaurantes estão entre as atividades que continuam de portas fechadas na capital, mas que podem funcionar por meio de entregas.

Caso a flexibilização tivesse continuado nesta sexta, 89% do comércio estaria aberto. Os dados são monitorados diariamente pela prefeitura, e o anúncio do próximo passo será feito semana que vem.

O presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Belo Horizonte, Marcelo de Souza e Silva, qualificou a decisão da prefeitura de lamentável. A CDL tem tentado ajudar comerciantes a migrarem para vendas online, mas a mudança é difícil para pequenas e micro empresas, segundo ele.

“Essa abertura que foi interrompida, se ela pudesse ser gradual, seria interessante, que a gente mostra segurança, confiança para as pessoas, podendo ter uma previsibilidade para que elas possam continuar com suas empresas e mantendo seus empregos. A gente acha lamentável”, avalia ele.

Minas Gerais chegou a 9.232 casos confirmados e 257 mortes nesta sexta. Nas últimas 24 horas, foram confirmados 546 novos casos e 2 novas mortes.

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