Descrição de chapéu Obituário Alexandre Pinto Martinez (1975 - 2020)

Mortes: Viveu na rua, adotou uma praça e deu vida às plantas

Alexandre Pinto Martinez transformou a vida dos moradores de Campos Elíseos para melhor

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São Paulo

A praça Chão de Giz não existe no mapa da cidade de São Paulo. Para o poder público é apenas uma área verde localizada na esquina das avenidas São João e Duque de Caxias (Campos Elíseos). Mas para os moradores do entorno, é um espaço de paz e beleza.

Alexandre Pinto Martinez, 44, foi o pai carinhoso que adotou o lugar e o batizou como Chão de Giz.

"Ele gostava de pintar o chão. Dizia que era como um quadro negro, que poderia pintar e apagar quantas vezes quisesse", conta uma amiga, a educadora Rossana Florio Angelone, 46.

Alexandre Pinto Martinez (1975-2020)
Alexandre Pinto Martinez (1975-2020) - Rossana Florio Angelone

Alexandre nasceu em Limeira (a 151 km de SP). Quando criança, presenciava a avó conversando com as plantas e também estabeleceu seu diálogo com elas, à base de amor.

Um dia, ele resolveu ser livre e saiu pelo país com uma mochila nas costas. Conheceu vários locais até chegar a São Paulo.

Instalou-se na praça Chão de Giz em meados de 2017. Mesmo em situação de rua, nunca aceitou dinheiro sem oferecer um trabalho em troca. Viveu de bicos.

Em pouco tempo, revitalizou a praça, que já foi conhecida como banheiro da cracolândia. Fez a limpeza e um canteiro para as suas "meninas". Era assim que se referia às plantas.

Alexandre levou a beleza do seu coração ao local. Ele recolhia plantas jogadas em caçambas ou no lixo e praticamente as ressuscitava.

A praça Chão de Giz ganhou vida e ele, amigos. Alexandre dizia que morava num lugar privilegiado e fazia questão de que as pessoas fossem ao local e se sentissem em casa.

"Ele era querido por todos. Adorava crianças e idosos, e oferecia a sua paciência quando alguém queria conversar. Alexandre tinha o dom de amar todas as formas de vida."

Antenado e inteligente, falava sobre qualquer assunto e dedicava parte do seu tempo à leitura.

"Costumava brincar que Alexandre era o menino do dedo verde. Ele transformava pelo toque", diz Rossana. O apelido é uma referência ao livro de Maurice Druon, que conta a história de um menino cujas impressões digitais suscitavam a alegria.

Discreto sobre a vida particular, não costumava falar sobre a família. Sabe-se que passou por vários relacionamentos e teve uma filha.

A rua e o vício em drogas debilitaram seu corpo. No dia 8 de maio, quem ressuscitou plantas, deu vida à praça Chão de Giz e cultivou a alegria precisou descansar.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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