Morre Paulo Sette Câmara, ex-secretário de segurança do Pará, de coronavírus

Aos 84 anos, delegado era considerado por colegas como inovador na área

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São Paulo

O currículo do advogado Paulo Celso Pinheiro Sette Câmara, que morreu aos 84 anos vítima de Covid-19 no último domingo (10), é longo. Ele foi detetive da Polícia Civil de Minas Gerais, agente e delegado da Polícia Federal, superintendente regional da PF em alguns estados e secretário de segurança pública do Pará.

Pela visão que imprimiu durante toda a carreira, Câmara é visto por colegas como um dos pioneiros na modernização e integração da segurança pública no país.

Paulo Sette Câmara, advogado e policial aposentado, foi um dos pioneiros na modernização da segurança pública no Brasil
Paulo Sette Câmara, advogado e policial aposentado, foi um dos pioneiros na modernização da segurança pública no Brasil - Fernando Sette Câmara/Arquivo pessoal

Ainda na década de 1990, ele liderou a unificação das entidades de segurança do estado do Pará —e recebeu duas comendas do Conselho Estadual de Segurança Pública (Consep) em 2019 pelo feito.

A grande inovação naquele momento foi articular polícias, bombeiros, perícia e outras entidades com um mesmo sistema de despacho e de operação de rádio, explica Renato Sérgio de Lima, diretor do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

"Sette criou o Centro Integrado de Operações, que, naquela época, foi feito para centralizar os dados da comunicação entre Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Detran, Polícia Civil, perícia etc", conta.

O policial aposentado também fez uma academia única, pela qual todos os policiais deveriam passar antes de seguirem a carreira especializada.

"Ele tentou dar uma maior racionalidade na gestão policial respeitando as diferenças que a Constituição define [para cada uma], mas com atividades comuns que pudessem ser coordenadas", diz Lima.

Paulo também ajudou a fundar o FBSP e foi presidente do conselho de administração da instituição por duas gestões.

"Ele percebeu, desde a juventude, que as visões policialescas não poderiam ter lugar na oferta de segurança aos cidadãos. Por isto, soube compreender como poucos a importância decisiva das políticas públicas inovadoras", publicou Jésus Trindade Barreto Júnior, delegado da Polícia Civil em Minas Gerais e membro do conselho do FBSP, em nota da instituição sobre a morte de Câmara.

"Paulo foi –como tem sido– o testemunho de que policiais, inclusive os veteranos, precisam ter sempre em perspectiva o aperfeiçoamento da polícia como instrumento da democracia e da promoção de direitos."

Apesar de ter adotado Belém como sua cidade, Câmara nasceu no interior de Minas Gerais, em Santa Cruz do Escalvado.

Fernando Sette, um de seus filhos, recorda do pai contando que muita das coisas que hoje as pessoas buscam cultivar já era padrão da sua cidade natal, pela qual sempre teve carinho. "Ele dizia que as crianças já brincavam na horta, as pessoas estudavam muito mais. Era tudo que a gente tenta cultivar agora, lá no interiorzinho de Minas", diz.

Paulo se mudou com a família para o Pará em 1978 para assumir a secretaria.

Em conflitos de terra em 1995, Câmara chegou a desrespeitar ordens da Justiça para reintegração de posse para evitar confronto: "Conflito de terra não é caso de polícia. É problema social", declarou na época.

Mas, foi na sua gestão, em 1996, que ocorreu o massacre de Eldorado dos Carajás, quando 19 sem-terras foram mortos. Um grupo de cerca de 1.100 sem-terra interditou a rodovia PA-150, que liga Belém ao sul do Pará, e policiais foram enviados para liberar o local. Além dos mortos, 60 ficaram feridos.

Superiores hierárquicos dos policiais, o então governador Almir Gabriel e Câmara, secretário de Segurança, não foram responsabilizados pela Justiça.

Paulo seguia a tradição da Igreja Católica e era apaixonado pelo Círio de Nazaré, considerada uma das maiores manifestações católicas do mundo. Familiares contam que ele ia ao evento todos os anos.

"Ele gostava de reunir a família todo domingo e fazia questão de fazer cartão de Natal, me pedia para fazer a foto todo ano", conta Fernando.

Paulo Sette Câmara segura seu neto Kalel ao lado de sua esposa, Marina Coelho Sette Câmara, que segura o bisneto Cauã
Paulo Sette Câmara segura seu neto Kalel ao lado de sua esposa, Marina Coelho Sette Câmara, que segura o bisneto Cauã - Fernando Sette Câmara/Arquivo pessoal

Sempre interessado em estudar as leis, Câmara dizia aos filhos que um dos grandes problemas da segurança pública é que os estudos se restringiam a olhar apenas um lado da questão. Para ele, a área deveria ser estudada de maneira múltipla.

Ele manteve, até o fim da vida, um grupo de amigos batizado de "Os Manos", todos policiais. O último encontro deles foi em março deste ano.

"Foi um homem justo e correto, sincero, leal, honesto e de tantos outros predicados do bem", escreveu em depoimento Raimundo Nonato Barbosa Lima, ex-comandante geral da Polícia Militar do Pará e um dos membros do grupo.

Paulo Sette Câmara foi cremado na última segunda-feira (11) em Belém. Ele deixa a esposa, Marina Coelho Sette Câmara, cinco filhos, nove netos e quatro bisnetos.

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