Um flash para desnortear olhares estereotipados. Por trás dele, cinco fotógrafos (as), todos (as) pretos (as), que voltam suas lentes a temas que lhes são caros. Miram-se nas manifestações afrorreligiosas, tão maculadas nestes tempos de intolerância, no cotidiano ignorado das periferias ou nos protestos antirracistas em alta.
Na busca de igualdade racial, eles criaram o coletivo Afrotometria. Nele, estão presentes Ina Henrique Dias, Isabela Alves, Fernando Solidade, Sérgio Fernandes e Tiago Santana. Uma série de fotos produzidas pelo grupo será exposta em estações da linha 5-Lilás do metrô de São Paulo a partir do dia 1º de julho.
Preta e lésbica, como se identifica, Isabela Alves, 21, é a mais jovem do coletivo. Ela se posiciona como uma artista múltipla. Suas colagens reúnem fragmentos dos quais pretende construir um novo imaginário para o povo negro.
"A gente vive de imagens brancas, eurocêntricas, heteroafetivas e cisnormativas", afirma. "Quando discutimos a questão racial, ela costuma restringir-se ao âmbito da violência física, deixando de lado as microviolências psíquicas."
"Sagrado" retrata parte desse legado de dor, ao mostrar a herança da cultura cafeeira, erguida por negros escravizados, com seus antepassados conduzidos por uma figura materna que, investida de energia, passeia entre a divindade e a força humana.
Na opinião de Sérgio Fernandes, 33, o desafio do coletivo é retratar corpos negros não de forma sensualizada, tampouco submissa, mas em seu encanto. "São imagens que valorizam, sobretudo, o nosso padrão de beleza."
Para Tiago Santana, 28, os registros se propõem a alimentar a autoestima da população negra. Em Espelho Preto, ele registra a diversidade da cultura negra em 20 fotos.
Filho de Ogum no candomblé, Santana explica que partiu da manifestação religiosa de matriz africana para abraçar toda a diversidade estética do povo preto. "Um abraço acolhedor", define.
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