Precisamos dar uma resposta à família, diz delegado sobre morte de estudante em São Sebastião

Força-tarefa analisa imagens de 70 câmeras da região onde corpo de Júlia Rosenberg foi achado

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São Paulo

O recepcionista Éder Luiz de Siqueira, 36, olhou para a vegetação em seu entorno e considerou tudo exatamente igual, exceto por um montinho de terra sobre o qual havia algumas folhas e galhos secos. Teve uma sensação estranha e, com ela, a intuição de que a busca da qual participava havia mais de três horas terminara ali, da pior maneira possível.

“Passei a mão na terra, quando eu passei de novo, bati a mão no pé dela. Aquela sensação ali foi, nossa, horrível. A gente esperava encontrá-la com vida, desmaiada em algum canto. Alguma coisa desse tipo. Mas enterrada?”, disse ele à Folha.

Foi Siqueira quem encontrou, junto com integrantes do Corpo de Bombeiros de São Paulo, o corpo da estudante Júlia Rosenberg Pearson, 21, na manhã da última segunda (6) em uma área de mata em Maresias, uma das praias mais famosas do litoral de São Paulo.

Era o fim das buscas iniciadas pela família havia mais de 24 horas e o início de um complicado trabalho para a Polícia Civil de São Paulo, que terá de esclarecer um crime sem testemunhas.

“Preciso provar quem fez isso sem uma testemunha ocular”, disse delegado seccional de São Sebastião, Múcio Mattos Monteiro de Alvarenga. “O Estado precisa dar essa resposta [de quem matou Júlia]. Primeiro para acalmar a região e, o mais importante, dar uma resposta à família, para, quem sabe, amenizar um pouco essa dor insuportável.”

Jovem loira de vestido cor de vinho e jaqueta posa diante de um muro colorido por grafittis
Julia Rosenberg Pearson, 21 anos, desapareceu após ao fazer uma trilha, domingo (5), em São Sebastião (191 km de SP) - Reprodução / Redes sociais

O que se sabe até a manhã desta quinta (9) é que Júlia saiu para fazer uma caminhada matinal no domingo (5), como costumava fazer ao menos três vezes por semana. A trilha usada liga as praias de Paúba e Maresias. Trata-se de um trecho de terra com pouco mais de um quilômetro utilizado pelos moradores das duas comunidades que querem evitar a rodovia.

A estudante morava em São Paulo, mas estava na casa de praia da família com a mãe e a namorada havia ao menos um mês, por causa da quarentena. Segundo os policiais, Júlia era conhecida na região por ser integrante de uma “família raiz” de Paúba, como são chamadas aquelas que estão ali há mais de 30 anos.

Os últimos registros da estudante com vida foram feitos por câmeras de segurança das casas da região. A polícia trabalha para encontrar nessas imagens indícios que possam levá-la ao criminoso. Uma força-tarefa foi montada para analisar o material recolhido de quase 70 câmeras.

Essas imagens, segundo policiais ouvidos, serão organizadas de forma uma cronológica para tentar rastrear todas as pessoas que estiveram na trilha naquela manhã.

Um dos primeiros vídeos divulgados nesta semana levou os policiais a um suspeito que, nas imagens, aparece caminhando momentos após Júlia passar pela câmera, mas a ligação dele com o crime foi descartada na investigação por dois motivos: ele apresentou um forte álibi e moradores da região que o conhecem o consideram inofensivo.

Um segundo homem também foi dispensado, e a polícia procura um terceiro --aparentemente um andarilho visto no local 15 dias antes e depois no domingo do crime-- para esclarecimentos.

A polícia não descarta nenhuma linha de investigação. Policiais ouvidos pela Folha afirmam acreditar em motivação sexual, mesmo que os exames realizados no corpo da vítima não constatem marcas. Não é raro, na literatura policial, homicídios praticados por predadores sexuais sem o estupro consumado. Por isso, eventuais vestígios biológicos nas roupas serão examinados.

Para a polícia, algumas coisas estão claras. Uma delas que Júlia foi caminhando até o ponto em que o corpo foi encontrado. Por se tratar de uma área íngreme e seria muito difícil alguém carregá-la até lá. Não se sabe, porém, se foi atraída por alguém conhecido ou se o fez sob a ameaça, por exemplo, de uma arma.

De acordo com o sargento do Corpo de Bombeiros Adriano Pereira da Silva, o local onde o corpo foi achado foi vasculhado por se tratar de um dos pontos mais restritos da região. “É uma local de difícil acesso, mas não é perigoso. Não temos relatos de crime naquela região. Aquela é uma trilha restrita, e as demais são muito movimentadas”, disse ele.

O sargento disse ter tido certeza de que se tratava de Júlia pela blusa rosa e os cabelos loiros, exatamente como a família havia descrito. “Na hora em que saí da mata, encontrei o tio dela, e tive que passar para ele, para os familiares, quem era a vítima. A expressão do rosto dele ficou marcado na minha lembrança."

Segundo a polícia, Júlia foi encontrada com a alça de uma bolsa amarrada no pescoço, com a qual acredita-se que fora asfixiada. Na boca também havia um pano, segundo a polícia, possivelmente para impedir gritos.

Siqueira supõe que o assassino tenha usado uma enxada para retirar terra de um barranco e tentar cobrir o corpo, pelas marcas encontradas no solo. Foi a primeira vez, segundo ele, que teve contato com algo assim. “A cena não sai da minha cabeça."

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