Descrição de chapéu violência Polícia Militar

'Não tenho paz', diz homem negro que teve spray lançado no rosto por PMs em SP

Caso ocorreu na terça (23), e policiais foram afastados; governador Tarcísio repudia conduta

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São Paulo

Uma dupla de policiais militares foi afastada do serviço das ruas após serem flagrados lançando spray de pimenta no rosto do músico Cesar de Carvalho, 31, na manhã de terça-feira (23).

O episódio ocorreu na Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo.

Um vídeo com a cena, gravado por um familiar, viralizou nas redes sociais após ser publicado pelo deputado paranaense Renato Freitas (PT).

Policiais jogam spray de pimenta em rosto de homem negro em abordagem na zona norte de SP. - Reprodução/TV Folha

A reportagem da Folha conversou com Carvalho no escritório da advogada dele, Beatriz de Almeida, no centro de São Paulo.

Segundo Carvalho, a agressão teve início após uma confusão em virtude do pagamento do aluguel onde ele mora há cerca de oito meses. Ele contou ter escolhido o bairro diante às perseguições policiais na região central, onde passava boa parte do dia anteriormente.

Carvalho relatou que sempre pagou o aluguel no valor de R$ 600 para a dona do imóvel. No entanto, em um mês que a mulher estava ausente, um homem apareceu e se apresentou como ex-marido e coproprietário a quem ele deveria depositar o aluguel a partir daquele momento.

Naquele mês foi depositado o valor de R$ 650, sob a justificativa de que o acréscimo seria usado para arrumar uma porta danificada.

Pouco tempo depois, a proprietária teria retornado e cobrado o aluguel. Carvalho então contou o ocorrido e a mulher afirmou que se tratava de um golpe praticado pelo ex-marido.

Carvalho afirmou que entrou em um acordo com a proprietária e permaneceu no imóvel.

Na terça, o homem reapareceu pela manhã e disse a Carvalho que tinha uma ordem de despejo e que ele deveria sair da casa. Com a negativa, ele teria pegado uma faca e corrido atrás do músico.

"Vi que ele estava no intuito de atentar contra a minha vida", disse o músico. Foi nessa hora que o ex-marido chamou a polícia.

"Eu estava com o aluguel em dia. Não tinha como ele me despejar".

De acordo com Carvalho, os policiais já chegaram o abordando. Quando ele disse que ligaria para a sua advogada, teve o celular tomado.

Preocupado com o ocorrido, um familiar que havia ido até o local passou a gravar a cena.

Nas imagens é possível ver quando um policial militar aperta o pescoço do homem e o pressiona contra o portão de uma residência.

Mesmo com o abordado sem reação, com os braços cruzados, um dos PMs borrifa o spray a curta distância no rosto do homem.

Carvalho contou ter sido levado algemado e dentro do guarda-preso da viatura a uma delegacia, onde permaneceu por cerca de uma hora e meia.

Músico limpa o rosto após receber spray de policiais - Reprodução/TV Folha


"Não tenho confiança de voltar para casa. Não tenho paz. Não tenho sossego. Não consigo dormir", declara.

Contra ele foi feito um boletim de ocorrência de desobediência e desacato.

"Todas as medidas judiciais cabíveis foram adotadas e o Ministério Público acionado. Entendemos que a violência sofrida por Cesar de Carvalho decorrem da abordagem policial por perfilamento racial", afirmou a advogada Beatriz de Almeida.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) declarou que a conduta dos policiais contraria os protocolos operacionais da PM, que instaurou um Inquérito Policial Militar para apurar os fatos. "A instituição não compactua com desvios de conduta ou excessos de seus agentes", acrescentou.

Questionado sobre os policiais militares afastados e sobre uma sequência de casos de violência policial que ocorreram nos últimos meses, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que falhas de procedimento serão severamente punidas.

Tarcísio elogiou o trabalho da PM e disse que o estado tem apresentado melhora em diversos indicadores criminais. Ele afirmou, no entanto, que policiais militares precisam internalizar que "não há respaldo para falta de disciplina, para abordagem inadequada, para erro de procedimento".

"Nós não vamos tolerar nenhum tipo de desvio. O que não pode deixar é que casos isolados contaminem uma grande corporação, que trabalha com excelência, que tem uma boa formação, que tem uma tradição", disse o governador. "A gente está indo na direção correta. E há problemas, tem desvios aqui e ali e nós punir esses desvios para que eles não aconteçam."

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