Quando recebia informes da Igreja Católica, era Margarida Balieiro Rodrigues, seu nome de batismo. Da sua conta no banco, constava Dorcelina, como foi registrada.
A dupla identidade, fruto da indecisão de seus pais, não foi suficiente para ela: quando descobriu a variante francesa para Margarida, Margot, assim passou a se apresentar.
Evocar seu nome em Valparaíso —cidade no interior paulista em que passou a maior parte da vida— é suficiente para resgatar memórias em várias gerações de moradores que a tiveram como inspetora de alunos. Das lembranças, ficaram a paciência que tinha com os estudantes e o rigor com seus compromissos.
Com o salário do ofício que exerceu durante 30 anos, comprou religiosamente uma cesta básica por mês para uma família vulnerável da cidade.
Margot teve sonhos audaciosos e os realizou: casou-se aos 35 anos, deu à luz aos 40 e não mediu esforços para ver o filho formar-se engenheiro.
Nascida em 1918, tinha 14 anos quando as mulheres conquistaram o voto, direito que exerceu até as eleições municipais de 2008, aos 90 anos, quando o Alzheimer começou a dar seus primeiros sinais.
O avanço da doença a trouxe para mais perto da família, em Ribeirão Preto (313 km de SP). No final da vida, a visita dos netos era abastecida com brincadeiras de bola que a memória ainda guardava dos tempos de inspetora.
Margot morreu na última sexta-feira (16) aos 102 anos, cercada por seus familiares, e deixou saudades em três filhos, uma nora e 15 netos.
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