Oito capitais têm mais de 80% de lotação de UTIs para Covid-19

Perto da temporada de verão, hospitais das turísticas Rio e Florianópolis estão no limite

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Porto Alegre , Rio de Janeiro , Curitiba , Belo Horizonte, Recife, Salvador , Ribeirão Preto e Manaus

A turística Florianópolis, que vê na temporada de verão uma de suas principais fontes de receita, começou esta semana com quase todos os leitos públicos de UTI ocupados: 98,51%. No Rio de Janeiro, também destino de férias, o percentual chegou a 92%.

São oito, nesta semana, as capitais brasileiras com mais de 80% de lotação nos leitos públicos de UTI para a Covid-19, segundo levantamento da Folha com governos estaduais e prefeituras de todos os estados. Em meados de novembro, eram seis as capitais com pacientes graves com coronavírus ocupando mais de 80% dos leitos.

Como Rio e Florianópolis, também capitais nordestinas visadas por turistas no verão preocupam, caso de Recife, com 87% dos leitos de UTI com pacientes internados, e Natal, com 92,9%. Ainda estão na lista Porto Alegre, Curitiba, Vitória e Campo Grande.

Diante da alta de internações, estados querem proibir festas de fim de ano e restringir funcionamento de bares e restaurantes.

Em Santa Catarina, a ocupação cresceu de 75,66%, no último levantamento, para 86,5%. Com exceção do extremo oeste, o estado todo está classificado na cor vermelha, que significa risco gravíssimo para a doença.

“Era um cenário esperado. A dinâmica da Covid-19 mostra que quando há aumento muito grande de casos, isso é acompanhado por aumento de casos que evoluem para a forma grave e severa da doença, que precisam de UTI. Isso a Covid-19 já tinha nos ensinado no mês de maio”, diz Fabrício Augusto Menegon, chefe do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

De acordo ele, a capacidade de resposta para disponibilizar novos leitos de UTI não é a mesma vista no pico anterior, em julho. Em nota, a Secretaria de Saúde de Florianópolis diz que "o número de infectados aumenta a probabilidade de casos graves, sendo maior a probabilidade de ocupação de leitos de UTI" e que é a capital com a menor letalidade do país para a doença.

No Rio, a fila de espera por leitos vem crescendo. Havia 252 pessoas aguardando por um leito de UTI na rede pública no estado nesta segunda, o dobro do registrado cerca de duas semanas atrás. A pior situação é na capital, onde 92% das vagas estão preenchidas e a demanda ultrapassa a capacidade do sistema.

A lotação reflete uma redução da oferta de leitos nos últimos meses. O único hospital de campanha que sobrou foi o da prefeitura, já que a gestão do governador afastado Wilson Witzel (PSC) fechou todas as suas unidades. Agora, com o novo colapso na saúde, foi anunciada a abertura de vagas.

Tanto o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) quanto o governador em exercício Cláudio Castro (PSC) indicaram que não vão restringir serviços e têm insistido no argumento de que a testagem em massa, a fiscalização de eventos e a abertura de leitos são medidas suficientes para conter a pandemia.

Nos hospitais gaúchos, a ocupação das UTIs alcançou 81,7%. A maior parte do estado está classificada em bandeira vermelha, que representa risco alto para Covid-19. Apenas uma região, de Taquara, está classificada como laranja, de risco médio.

Em Porto Alegre, a ocupação média chegou a 87,18%. No final de semana, a Guarda Municipal de Porto Alegre e a Brigada Militar, a PM gaúcha, dispersaram aglomerações em bairro como Cidade Baixa e Moinhos de Vento, conhecidos por seus bares.

No Paraná, a taxa de ocupação de leitos de UTI subiu de pouco mais de 55% para 87% em três semanas. A preocupação em torno da estrutura hospitalar, que, segundo o governo, está no limite, gerou novas regras para tentar conter o avanço da pandemia. Há toque de recolher das 23h às 5h e os servidores voltaram a trabalhar remotamente.

A situação mais preocupante continua em Curitiba, em que 94% das UTIs estão ocupadas. Nesta segunda-feira (7), restavam 17 vagas para adultos. Na sexta, a prefeitura baixou regras mais rígidas de circulação. Aos domingos, o comércio, incluindo shoppings e supermercados, só pode funcionar para entregas.

Na região metropolitana de Curitiba, já há registros de falta de leitos. Pacientes estão sendo encaminhados para hospitais do interior, onde ainda há vagas.

Paciente de Covid-19 no Centro de Triagem Tito Bianchini, na cidade de Lages (SC)
Paciente de Covid-19 no Centro de Triagem Tito Bianchini, na cidade de Lages (SC) - Fom Conradi/iShoot/Folhapress

No estado de São Paulo, a ocupação dos leitos de UTI para Covid-19 passou de 43% há três semanas para 57% nesta terça, apesar de terem sido disponibilizados 204 novas vagas. Na capital paulista, a taxa subiu de 52% para 64% —todos os números representam a média móvel dos sete dias até as datas citadas.

No Nordeste, Recife e Natal apresentam as maiores taxas de ocupação de UTIs. Em Pernambuco, 87% das 839 vagas reguladas pelo governo estadual estavam ocupadas nesta segunda. A última vez que o índice havia chegado a este foi no dia 15 de junho. Dez novos leitos foram abertos na última semana.

Com a situação, o governo de Pernambuco anunciou proibição de festas de Natal e Réveillon em hotéis, clubes e condomínios, assim como shows e festas, pagas ou não.

No Rio Grande do Norte, a taxa de ocupação dos leitos regulados pelo governo estadual saltou de 42% para 65% no período, enquanto a oferta de vagas caiu de 203 para 197. No maior hospital em Natal, o Giselda Trigueiro, restavam apenas 5 leitos vagos em UTI; 21 abrigavam pacientes graves.

Na região metropolitana de Vitória, onde estão 338 leitos, a taxa chega a de 84,6%. “De fato vivemos uma segunda expansão da pandemia no estado”, disse, em redes sociais, o médico Nésio Fernandes de Medeiros Júnior, secretário estadual de saúde.

Mato Grosso do Sul, que vinha em situação confortável, vive agora uma explosão de internações, saltando de 29% para mais de 80% de leitos de UTI ocupados. Na capital Campo Grande, com 84% de UTIs ocupadas, a prefeitura teve que contratar vagas do setor privado.

No estado vizinho, Minas Gerais, o total de ocupação de leitos é de 63,9%. Na capital, Belo Horizonte, a prefeitura proibiu consumo de bebidas alcoólicas em bares e restaurantes a partir desta semana.

Na Bahia, a ocupação dos leitos chegou a 79% nesta segunda em meio ao que o secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas-Boas, afirma ser uma segunda onda de casos da Covid-19 no estado. O crescimento do número de casos fez o governo do estado e prefeituras endurecerem medidas para evitar a disseminação da doença.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), proibiu a realização de shows e festas em estabelecimentos comerciais, independentemente do número de participantes. Também reiterou que festas de Réveillon estão proibidas.

No Ceará, a ocupação chegou a 73% nessa terça-feira (8). O estado tem ampliado a oferta de leitos de acordo com o aumento da demanda –atualmente são 310 leitos de terapia intensiva disponíveis para Covid-19, mas o estado já chegou a ter três vezes mais.

No Norte, o Amazonas vivem um aumento de casos novos de Covid-19 nas últimas semanas, com reflexo no aumento das internações. A lotação em 82% no mês passado levou o governo a abrir 11 novos leitos exclusivos nas últimas semanas, o que ajudou a reduzir a taxa de ocupação para 74% na capital.

O Amazonas não possui leito de UTI em nenhum dos 61 municípios do interior. No entanto, desde o dia 1º de dezembro o governo reabriu bares e casas noturnas, mediante restrições, e duas semanas antes já tinha autorizado a reabertura de flutuantes.

No Amapá, estado que recentemente viveu um apagão elétrico, a ocupação de UTIs públicas, adulto e pediátrica, com casos de Covid-19, é de 78,7%. Segundo o boletim do dia 2 de dezembro, o mais recente no site da Secretaria Estadual de Saúde do Amapá, o estado chegou a 802 mortes registradas em decorrência da doença no dia 26 de novembro.

A situação é mais controlada em estados do Nordeste como Alagoas e Maranhão, do Norte e também no Centro-Oeste, apesar de a maioria registrar alta de internações desde o último mês.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto dizia que o comércio em Curitiba só poderia funcionar para entregas, mas a restrição vale apenas aos domingos. O texto foi corrigido.

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