Réveillon no litoral paulista tem praias invadidas e aglomerações

Em número menor do que nos outros anos, turistas ignoraram bloqueios

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Klaus Richmond Jardiel Carvalho
Guarujá (SP) e Praia Grande (SP)

O bloqueio total das praias com gradis e policiamento não inibiu a presença de turistas no Réveillon no litoral sul paulista.

Durante todo o dia 31 foram registradas diversas aglomerações na faixa de areia e ao longo de todo o calçadão da cidade. À meia-noite, grupos se formaram na praia da Enseada, em Guarujá, para pular ondas e soltar fogos de artifício. Não houve registros de detenções.

“A prefeitura optou por não acatar a fase vermelha [do plano SP] e deixou tudo liberado: restaurantes, bares, sorveterias. De que ia resolver fechar só a praia? Não faz sentido. O que se viu foi uma invasão, e sabiam que seria assim”, disse a Folha a moradora Dulce Kato, 68, coordenadora do Movimento Vamos Cuidar da Pitangueiras.

Guarujá, inclusive, anunciou já na manhã desta sexta (1º) a opção por antecipar a liberação das praias alegando “que a situação está controlada na cidade”, apenas com o registro de “aglomerações pontuais”, mas sem ocorrências graves. A projeção inicial era para que durante todo o primeiro dia do ano o acesso continuasse fechado.

Das nove cidades que compõem o Condesb (Conselho de Desenvolvimento Metropolitano da Baixada Santista), apenas o município e Santos prometeram restrições totais nas praias para inibir o avanço da pandemia do coronavírus.

Bertioga e São Vicente fizeram o fechamento parcial, da noite do dia 31 até a manhã do dia 1º. Outros municípios como Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe afirmaram que não realizariam bloqueios alegando não haver contingente policial e estrutura insuficientes para conter o “boom” populacional do período.

“Foi feito um decreto [em Guarujá], que foi cumprido em partes. A polícia tirava os turistas da praia de dia, mas à noite estavam todos de volta. Não tem como impedir, há pouco efetivo [da polícia militar]”, afirma o empresário José de Ávila, presidente da Aprohot (Associação dos Proprietários de Meios de Hospedagem do Guarujá).

A cidade recebeu o maior efetivo para a operação verão. De 2.900 policiais enviados pelo governo estadual a 16 cidades do litoral, 450 estão em Guarujá.

De acordo com a Aprohot, responsável por 80% da rede hoteleira da cidade, a ocupação para o período caiu de forma significativa: de 98% no último Réveillon para 36% neste, com algumas diárias registradas no último dia.

A queda foi sentida em todo o litoral. De acordo com a Sinhores (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Baixada Santista e Vale do Ribeira), o levantamento para a taxa de ocupação para os dias 31, 1º, 2 e 3 em todas na região foi de 94% para 66%, comparando o Ano Novo.

Apesar do bloqueio furado, Guarujá não teve as praias mais lotadas do litoral. Com a decisão de não restringir, Praia Grande (78km de São Paulo) registrou cenas de abarrotamento durante o dia —com centenas de guarda-sóis, ambulantes e banhistas sem máscara— e também nos horários mais próximos à virada do ano.

À noite, era comum ver diversos grupos sentados em aglomeração no calçadão ou com cadeiras posicionadas na areia, a maior parte também com mesas e ceias dispostas. Alguns deles tinham membros do grupo de risco (acima de 60 anos).

Questionados pela reportagem da Folha, os turistas responderam que assumiam os riscos e que não estavam mais preocupados com a pandemia. Eles também pediram para não ser fotografados. "Um fod... para o corona", disse um dos grupos a reportagem.

“Vou fechar as praias para quê? As pessoas já estão aqui, já se deslocaram e vieram para os apartamentos. Permitiram isso, agora a caneta não pode agir só por política. Não vai mudar nada proibir agora, no dia 31. Podem descer, mas não podem usar a praia? Estamos praticando estelionato, então”, disse à Folha o então prefeito Alberto Mourão (PSDB), substituído hoje por Raquel Chini, do mesmo partido.

Assim como as demais, Praia Grande também realizou bloqueios sanitários nas duas entradas da cidade, mas, mesmo assim, alega ter recebido volume incontrolável de turistas.

No último dia 30, o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido), hospedado no hotel de trânsito do Forte dos Andradas, em Guarujá, promoveu aglomeração na praia do Canto do Forte. Sem máscara, ele se aproximou se simpatizantes, cumprimentou banhistas, pegou crianças no colo e posou para fotografias.

Nesta sexta, Bolsonaro voltou ao local de lancha, acompanhado por sua comitiva, e mergulhou ao encontro de centenas de banhistas no mar.

Em Santos, a prefeitura assegura que não houve registros de aglomerações no trecho de pouco mais de 7 km de orla. No período, foram realizadas 1.453 orientações à população, com sete multas aplicadas pelo não uso de máscara. De madrugada, a reportagem flagrou dois homens sendo retirados do mar por policiais militares. Eles fizeram gestos obscenos.

De acordo com a Ecovias, entre 0h e 23h59 do último dia 31 de dezembro 81,4 mil veículos passaram pelas rodovias do sistema Anchieta-Imigrantes em direção ao litoral. O número é 14,8% menor do que no Réveillon de 2019, que registrou 95,6 mil para o mesmo período.

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