Descrição de chapéu Obituário Jonathan Oliveira das Neves (1989 - 2021)

Mortes: Chamou o síndico, levou Tim Maia e emoção à Paulista

Jonathan Oliveira das Neves morreu de Covid-19; estava na avenida para pagar as contas

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São Paulo

Cantor, compositor e cover do Tim Maia. Ou melhor, Tim Maia da Paulista. Era assim que Jonathan Oliveira das Neves se apresentava e tinha razão. Ele era muito parecido com um dos grandes ícones da música brasileira, no porte e no vozeirão. E era desse jeito que ganhava a vida na avenida mais famosa de São Paulo.

O Tim Maia da Paulista foi mais uma das milhares de vítimas da Covid-19 no Brasil. Ele morreu na segunda-feira (1º), na UPA anexa ao Hospital Municipal do Campo Limpo (zona sul), após três dias de internação. Tinha 31 anos.

"De quinta para sexta tive um sonho. O Jonathan acabava de cantar e o Tim Maia o aplaudia na plateia", conta o enteado e produtor dos seus shows, Franklin Siqueira, 28.

Jonathan ocupava a avenida Paulista desde 2016, mas interpretando outros artistas. Antes de Tim Maia, cantou Legião Urbana.

"Os amigos o aconselharam a fazer o Tim Maia. Um dia, Jonathan ficou rouco e resolveu encarar. Quando cantou pela primeira vez, percebeu que a aceitação do público foi diferente. O Jonathan era simples, humilde e falava pouco, mas quando incorporava o Tim Maia mudava completamente ", conta Franklin.

O artista havia parado as apresentações em março de 2020, no início da pandemia, mas em novembro voltou para a frente do Conjunto Nacional porque precisava pagar as contas de casa. Ali, nos finais de semana, reunia grupos de pessoas admiradas com seu talento e arrancava aplausos em plena avenida. Jonathan mostrou sua arte até poucos dias antes de morrer.

Jonathan Oliveira das Neves (1989-2021)
Jonathan Oliveira das Neves (1989-2021) - Reprodução/Instagram Tim Maia na Paulista

Ele também fazia shows em festas, condomínios e bares, mais raros desde março do ano passado.

Antes de cantar, Jonathan foi ajudante de logística. Após sair do emprego, usou o dinheiro recebido para comprar a primeira caixa de som, microfone e pedestal.

Segundo Franklin, em agosto de 2019, ele venceu o concurso "Sons da Paulista", realizado pela TV Cultura, e foi eleito a melhor voz da Paulista.

Na avenida, também passou por um dos dissabores mais comuns para quem vive em uma grande cidade: teve o celular furtado em dezembro do ano passado, no final de uma das apresentações.

O artista chegou a fazer campanha nas redes sociais pedindo ajuda para comprar outro aparelho. Afinal, precisava do celular para gravar e divulgar seus números musicais.

Em 2020 o artista viveu um de seus dias mais felizes. Tiago Abravanel, intérprete de Tim Maia no musical sobre a vida do artista, almoçava no restaurante em que o cover cantava e subiu ao palco para um dueto. Cantaram "Não quero dinheiro".

No Twitter, a conta oficial do cantor e compositor Tim Maia, morto em 1998, lamentou a morte de Jonathan.

"Essa noite perdemos uma figura incrível e que vai deixar saudade, o Tim Maia da Paulista. Infelizmente ele perdeu a luta contra a Covid-19. Ver Jonathan representando o síndico aquecia o coração e vai fazer muita falta. Descanse em paz, nossos sentimentos aos amigos e família".

O filho de Tim Maia, Carmelo Maia, o homenageou no Instagram com um vídeo de Jonathan interpretando "Não Quero Dinheiro". "Vou pedir pra você ficar! Fique amigo. Rip Tim Maia da Paulista", escreveu.

Em outro post, Carmelo Maia pediu aos internautas para deixarem mensagens na página de Jonathan. "Espero que você encontre meu pai e ele possa te falar 'que festa boa, meu irmão' e assim fique feliz com a sua partida, mas por um bom motivo: você encontrou seu ídolo."

Jonathan desejava conquistar a casa própria e reconhecimento como músico. "Existia o projeto Tributo ao Síndico, pelo qual Jonathan viajaria para o interior de São Paulo, Curitiba e Porto alegre. A pandemia interrompeu a carreira. Nos últimos tempos, ele vivia com o auxílio emergencial e uma vaquinha virtual", diz Franklin.

Jonathan deixa a esposa, os pais, a avó, dois irmãos e o cachorro Bob.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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