Descrição de chapéu
Folhajus

Circo durante prisão de casal no Rio lembrou piores momentos do caso Nardoni

Apesar de deslize, investigação foi conduzida com discrição ao longo de 30 dias e obteve provas importantes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo e Rio de Janeiro

O circo visto na manhã desta quinta (8) no Rio durante a prisão do vereador Dr. Jairinho e da namorada Monique Medeiros, suspeitos de participarem da morte de Henry, 4, lembrou os piores momentos da investigação do caso Nardoni, iniciada em março de 2008.

A porta da casa dos suspeitos no Rio estava repleta de jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos indicando que a ordem de prisão foi compartilhada pelos policiais aos amigos, que também repassaram o endereço de onde a operação seria realizada.

Esse endereço, de uma tia do casal, não havia sido informado pelos suspeitos no inquérito e só foi obtido graças à investigação, conforme informaram os próprios policiais na coletiva. Assim, impossível ter acesso a ele sem ajuda.

Na porta do distrito policial, para onde o casal foi levado, também houve aglomeração de curiosos que passaram a xingar os suspeitos. Um deles tentou agredir Jairinho quando era levado para a viatura.

Ao grupo de curiosos também se juntaram policiais fazendo lives em redes sociais.

As tentativas de agressões por populares também aconteceram no caso da morte da menina Isabella Nardoni. Até os advogados chegaram a ser agredidos durante o julgamento em 2010.

Um dos momentos mais marcantes do circo montado nas investigações da morte de Isabella ocorreu no cumprimento da prisão preventiva, quando Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram colocados no “chiqueirinho” da viatura e entregues à disposição de jornalistas para serem filmados e fotografados.

Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni são fotografados e filmados em compartimento de presos de viatura policial - Carol Guedes/Folhapress

As comparações do caso Nardoni e Henry ocorrem pelas semelhanças como ambos envolverem crianças lindas, de classe média alta, mortas no interior do apartamento da família, sem testemunhas e supostamente vítimas de homicídios praticados por pais e companheiros, “padrasto” e “madrasta”.

Além do alto interesse da imprensa, até pela negativa dos suspeitos.

Mas, além disso e de todo o circo durante as prisões, as diferenças entre as histórias são enormes, especialmente quando comparados os primeiros trinta dias de investigação dos dois casos e tudo o que sabe sobre o inquérito do Rio.

Uma das primeiras discrepâncias está, justamente, na discrição dos policiais civis e promotores fluminenses na condução dos trabalhos nesse período, algo que faltou no caso Nardoni e acabou prejudicando a qualidade final das provas.

Alexandre e Anna Carolina foram presos temporariamente no terceiro dia de trabalho da polícia, quando a polícia não sabia nem mesmo a causa da morte de Isabella, e em meio a uma guerra de egos entre delegados nos bastidores da polícia de São Paulo.

“Na prisão temporária, não estava muito seguro não. Eu confesso. Mas estava começando a ficar desconfiado deles”, diria o delegado Calixto Calil Filho, titular do distrito responsável pela investigação do caso Nardoni, tempos depois.

A prisão prematura sepultou a possibilidade de outras linhas de investigação, já que os esforços passaram a ser concentrados na comprovação da tese de que ambos eram culpados. Não era mais a investigação de um crime, mas de pessoas.

O vereador Dr. Jairinho (Solidariedade) durante prisão na manhã desta quinta (8) no Rio - José Lucena/Folhapress

A polícia do Rio prendeu o casal nesta quinta-feira (8) e, apesar de o inquérito não ter sido concluído, o discurso trazido pelos policiais e promotor responsáveis pelos trabalhos é de absoluta certeza de um homicídio doloso.

Até então, nenhuma manifestação pública havia sido feita pelos investigadores contra o casal e os policiais resistiram às pressões externas para que a prisão fosse antecipada ao máximo.

Para além do discurso oficial, a convicção da polícia fluminense está baseada em provas obtidas que deixam poucas dúvidas de que Henry foi agredido violentamente dentro do apartamento do casal e morreu por conta disso.

O professor de medicina legal Nelson Massini, por exemplo, é um dos veem a clareza desse laudo. “Houve um espancamento severo a ponto de ter ruptura de fígado, de rim, complicação no pulmão, hemorragia no pulmão, hemorragia na cabeça. Isso jamais aconteceria caindo da cama”, disse.

Além do laudo, os indícios trazidos até agora indicam um perfil violento do vereador Jairinho e um possível histórico de violência doméstica contra Henry, algo obtido com a quebra dos sigiloso telefônicos e com testemunhas. A literatura policial aponta que o assassinato de crianças geralmente ocorre após uma escalada de violência, e não fruto de uma situação isolada.

Isso foi algo não comprovado no caso Nardoni, embora no imaginário coletivo isso possa ter ficado claro. A provas levadas ao processo não consigam sustentar essa versão oficial, um dos problemas da espetacularização das investigações.

Os suspeitos entram condenados no júri popular, até porque os jurados não precisam votar de acordo com provas, mas conforme suas consciências.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.