Ficou guardado a sete chaves o que se pode chamar de relíquia cultural de Rosa Motta. São dois álbuns com registros de escritores, poetas, dramaturgos e pintores.
Nascida em uma família de judeus russos que imigraram para o Rio Grande do Sul, a proximidade de Rosa com o mundo das artes começou na editora Globo, em Porto Alegre.
Em dias normais de trabalho, ela tinha contato com ilustres da literatura e assim surgiu a ideia de criar uma coleção de autógrafos e textos. Nela estão Jorge Amado, Pablo Neruda, Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana e Oswald de Andrade, entre outros.
As páginas também trazem registros de artistas de segmentos variados, como uma aquarela feita por Tarsila do Amaral, que ganhou uma moldura.
Nos anos 1940, Rosa mudou-se com a família para São Paulo, cidade que guardou um grande orgulho: seu irmão, José Goldemberg, foi aluno e mais tarde reitor da USP (1986 a 1990).
Em 1952, ela casou-se com o advogado italiano Biagio Motta, braço direito de Ciccillo Matarazzo, fundador do MAM (Museu de Arte Moderna). A cerimônia aconteceu no museu. Da união nasceram os gêmeos Mauricio e Bettina.
Segundo a arquiteta Bettina Motta, sua filha, Biagio tornou-se um importante marchand, o que fez as artes plásticas entrarem na vida de Rosa. A época foi marcada por eventos glamourosos, vernissages e amigos famosos, como Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi e Di Cavalcanti.
Apesar de não ser uma judia praticante, ela dedicou-se ao voluntariado, no Ten Yad, entidade que oferece refeição aos menos favorecidos, e como curadora do concurso infantil de desenhos na organização internacional Wizo, criada e gerida por mulheres judias.
Ativa e simpática, até antes da pandemia a vida social foi agitada, mas a preferência era reunir a família e os amigos aos sábados para almoços. Ela adorava a companhia de gente interessante, culta, com bom papo e de qualquer idade.
Corajosa, abrigou em casa o sobrinho Clovis Goldemberg, estudante do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), quando este era perseguido pela ditadura militar.
Aos 96 anos, seu último ano de vida, teve a alegria de se tornar bisavó duas vezes. Após lutar por cerca de dois anos contra um câncer linfático, Rosa não resistiu e morreu dia 4 de julho.
Deixa dois filhos, uma nora, dois netos e dois bisnetos.
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