Perfuração da Vale provavelmente causou tragédia em Brumadinho, indica estudo

Conclusão é de análise feita por universidade da Catalunha a pedido do Ministério Público Federal

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Belo Horizonte

O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em Minas Gerais, em janeiro de 2019 provavelmente aconteceu devido a uma perfuração que estava sendo feita na represa pela mineradora no dia da tragédia —que deixou 270 mortos, sendo 9 ainda desaparecidos.

A conclusão faz parte de um estudo feito pelo Cimne (Centro Internacional de Métodos Numéricos em Engenharia), entidade vinculada à UPC (Universidade Politécninca da Catalunha). A análise foi feita a pedido do MPF-MG (Ministério Público Federal em Minas Gerais), um dos responsáveis pelo caso. O Ministério Público do estado já denunciou uma série de funcionários da mineradora pelo episódio.

Militar resgata bombeiros que trabalha na busca de vítimas da queda da barragem de Brumadinho
Militar resgata bombeiros que trabalha na busca de vítimas da queda da barragem de Brumadinho - Eduardo Anizelli - 5.fev.19/Folhapress

Segundo o relatório dos pesquisadores, é forte a possibilidade que a perfuração tenha sido o gatilho para a tragédia ao causar a liquefação dos rejeitos da barragem.

O termo indica que um material rígido passa a se comportar como fluido e, nesse caso, foi causado por um aumento da quantidade de água em meio aos rejeitos. Com isso, houve uma expansão de todo o bloco depositado na represa, o que pressionou a estrutura, que não aguentou e cedeu.

A perfuração foi feita do topo para o fundo da barragem. Segundo a própria Vale, a ação tinha como objetivo exatamente instalar equipamentos que permitissem uma leitura mais detalhada do nível de água no interior da represa.

O estudo da UPC tem 500 páginas e descartou algumas outras possíveis causas para a tragédia, como a ocorrência de pequenos tremores de terra na região ou reflexos da atividade minerária, que utiliza explosivos para retirada do produto das minas.

Os técnicos da universidade utilizaram simulações em 2D e em 3D para chegar ao resultado final do estudo, que foi pago pela empresa e entregue ao MPF nesta segunda-feira (4).

"Foi desenvolvido um modelo numérico o mais próximo possível da realidade e as informações disponíveis da barragem foram examinadas criticamente, incluindo a história da construção da barragem, registros pluviométricos (com extensão de mais de 40 anos) e movimentações de superfície da barragem nos anos imediatamente anteriores ao rompimento", disse a Procuradoria.

O relatório apontou ainda que “a maioria dos rejeitos da barragem eram fofos, contráteis, saturados e mal drenados e, portanto, altamente suscetíveis à liquefação”.

O estudo diz que o perfil da área da barragem onde foi feita a perfuração apontada como a causa da tragédia "era especialmente desfavorável em relação ao início e propagação da liquefação".

A barragem da Vale que se rompeu em Brumadinho já não recebia rejeitos de minério de ferro há cerca de dois anos. O relatório da universidade espanhola diz que 9,7 milhões de metros cúbicos de rejeito escaparam da barragem, 75% do volume que havia antes do colapso.

A conclusão do estudo apontou que as análises realizadas permitem concluir que a perfuração "é um potencial gatilho da liquefação que ocasionou o rompimento da barragem".

Em nota, a Vale afirmou que desde o início das investigações vem colaborando com as autoridades.

"Tendo inclusive celebrado um termo de cooperação com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal para que fossem contratados peritos da Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, uma das mais renomadas do mundo, a fim de analisarem o acidente ocorrido em 25 de janeiro de 2019 com a Barragem 1 em Brumadinho", disse a empresa.

O texto diz ainda que o estudo, "assim como outros já realizados, concluiu que não houve nenhum indicativo prévio à ruptura da estrutura, que se deu de forma abrupta".

Para a empresa, o estudo "também atesta que teria havido uma conjugação particularmente desfavorável de circunstâncias no momento e no local em que se fazia a perfuração do 13º poço vertical por uma empresa especializada".

A mineradora também diz que "não obstante, embora compreenda que cada autoridade que presida investigações é livre na formação de suas próprias convicções, a Vale reafirma que sempre norteou suas atividades por premissas de segurança e que nunca se evidenciou nenhum cenário de risco iminente da ruptura da estrutura, o que é confirmado em todos os laudos já expedidos".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.