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Prefeitura de São Paulo vai instalar motofaixa na avenida 23 de Maio

Com projeto, que deve ser concluído até o dia 24, CET espera reduzir acidentes

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São Paulo

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) decidiu instalar uma motofaixa na avenida 23 de Maio, uma das principais vias da capital paulista, atendendo a uma demanda de motociclistas. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) pretende reduzir em 30% o número de acidentes no local.

A 23 de Maio é a quarta via da capital em número de motocicletas no horário de pico, atrás apenas das marginais Pinheiros e Tietê e da Radial Leste —são 2.038 por hora, em média. Entre 2018 e 2020, 78% dos acidentes com vítima na avenida envolveram motos e deixaram 129 feridos e 4 mortos.

A desproporção chama a atenção porque motos representam apenas 20% de todos os veículos que circulam pela 23 de Maio diariamente, segundo a CET.

Motociclistas transitam em espaço com demarcação inicial de futura motofaixa na av. 23 de Maio, em São Paulo - Ronny Santos/Folhapress

O número de motociclistas mortos no trânsito da capital em 2021 deve bater o recorde dos últimos sete anos. A projeção da CET, ainda não consolidada, é de que 394 condutores de moto perderam a vida no tráfego da cidade, atrás apenas de 2014, quando houve 440 óbitos.

A adoção de motofaixas já foi tentada na cidade de São Paulo, mas acabou desfeita após aumento de acidentes em vias.

A nova motofaixa tem uma característica diferente das instaladas anteriormente à esquerda. O projeto prevê o espaço para motos entre os veículos, entre a primeira e a segunda faixas à esquerda, no corredor onde os motociclistas já circulam.

A faixa, que já está em processo de instalação, vai funcionar no sentido Aeroporto de Congonhas, entre a praça da Bandeira e o complexo viário João Jorge Saad, em um trecho de aproximadamente 5,5 km. Até o dia 24 de janeiro, deverá estar instalada, caso a chuva não atrapalhe a implementação.

Nesta segunda (10), a gestão Nunes convocou uma entrevista para anunciar o projeto-piloto da Faixa Azul, "que tem por objetivo organizar o espaço compartilhado entre os automóveis e as motocicletas, pacificar e humanizar o trânsito da cidade de São Paulo".

Apesar de demarcar o espaço para os motociclistas, a prefeitura afirma que "não é uma faixa exclusiva para motocicletas". "Haverá uma demarcação de via entre as faixas 1 e 2 —usualmente usadas pelos motociclistas — para que, em tráfego congestionado, as motos possam transitar com mais disciplina, de forma segura e consciente e sem alterar a dinâmica existente na via".

A medida é criticada por Rafael Calábria, do setor de mobilidade do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor). "É assustador a prefeitura tomar uma medida na contramão de todas as políticas de segurança do trânsito que estão em avanço no mundo e contra dados da própria CET, que já mostraram que aumentar a velocidade dos motociclistas aumenta as ocorrências", disse.

Um documento da companhia, publicado em 2018 e com uma série de dados, afirmava que "as faixas exclusivas para a circulação de motocicletas já foram testadas e não apresentaram o resultado esperado".

Em 2006, na gestão do Gilberto Kassab (PSD), foi instalada uma motofaixa na avenida Sumaré.

Os acidentes envolvendo veículos e motocicletas passaram de 11 para 27, um aumento de 145%. Os atropelamentos envolvendo motocicletas passaram de 12 para 16, crescimento de 33%.

O número de mortes de motociclistas sofreu alteração: foram duas antes e duas depois da instalação da faixa.

Após sete anos, na gestão de Fernando Haddad (PT), a faixa foi desativada. Os índices voltaram a cair.

Em 2010, foi instalada outra faixa na rua Vergueiro e na avenida Liberdade. Mais uma vez, houve aumento de acidentes após a instalação e, depois da desativação, diminuição.

"Os dados de acidentes demonstram que, a despeito de todos os esforços, não foram alcançados os patamares mínimos de segurança na circulação dos motociclistas e dos demais usuários das vias onde foram implantadas as faixas exclusivas de motocicletas. Ao contrário do esperado, tais vias apresentaram elevação dos números de acidentes, mesmo quando o resto da cidade apresentava reduções tanto do número de ocorrências, quanto de vítimas geradas", diz o documento da CET.

Especialista em transportes, Sérgio Ejzenberg vê o projeto de maneira positiva. "Trata-se de uma experiência sem paralelo. Mas que organiza uma situação real e perigosa", diz. "Acredito que, se for bem sinalizada e se houver fiscalização de velocidade das motos nessa faixa, poderá funcionar bem."

O presidente do SindimotoSP, Gilberto Almeida dos Santos, elogiou a medida. "Essas faixas são uma reivindicação antiga, principalmente dos motoboys, do motofrete. Prefeito Ricardo Nunes e secretário Ricardo Teixeira estão de parabéns pela iniciativa. Estamos há mais de três décadas, que não tem investimento nenhum, o índice de acidentes está aumentando", disse.

Presidente da AmaBR (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil), Edgar Francisco da Silva, o Gringo, aprovou a iniciativa. "A minha sugestão é que as pessoas respeitem o limite de velocidade, quem tem uma habilidade menor e o motorista que pretende mudar de faixa. Para que isso dê certo, precisa do bom senso, do respeito."

Diretor de projeto e planejamento da CET, Luiz Fernando Romano Devico afirmou que as pistas exclusivas na rua Vergueiro e na avenida Sumaré mudaram a realidade do motociclista, deslocando a circulação para a borda esquerda da pista.

"[Na Sumaré] A faixa era muito larga e permitia a ultrapassagem entre as motos, inclusive. A velocidade era muito elevada. Mesmo proibida, tinha gente que fazia a conversão à esquerda, o que também dava problema", disse.

A 23 de Maio é a quarta via da capital em número de motocicletas no horário de pico, atrás apenas das marginais Pinheiros e Tietê e da Radial Leste - Ronny Santos/Folhapress

O porta-voz da CET disse que os 90 centímetros de largura da nova faixa da 23 de Maio serão suficientes para que os motociclistas trafeguem com segurança, sem conflito com os veículos, mas não permitem ultrapassagens entre motos. "Preciso que as motos andem de forma ordenada dentro da velocidade da via. Se faço algo muito aberto, muito exclusivo, vira pista de corrida", afirmou.

Devico disse que a fiscalização será reforçada no início da implantação.

Para dar mais segurança aos motociclistas, serão removidas também as tachas ("olhos de gato") que dividem faixas e que obrigam o condutor a fazer zigue-zague. Além disso, a tinta azul usada na demarcação será antiderrapante e haverá placas de sinalização orientando o tráfego. A instalação do corredor custará R$ 500 mil.

Para Devico, a estrutura é importante para reduzir acidentes, mas não resolverá o problema sozinha. "Evidentemente que, se entrar sem dar sinal, a pessoal vai bater. Se não houver respeito à sinalização e controle de velocidade, vamos continuar tendo acidentes. A responsabilidade é compartilhada. Estamos fazendo a nossa parte", afirmou. "Não tenho como impedir que a pessoa ande a 150 km/h. Se acontecer isso, o problema não é a Faixa Azul."

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