Descrição de chapéu cracolândia drogas

Facilidade de fuga motivou escolha da praça Princesa Isabel como nova cracolândia

Usuários dizem que eram encurralados com frequência ao redor da praça Júlio Prestes, antigo endereço

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São Paulo

A praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, oferece mais rotas de fuga aos usuários e traficantes de drogas durante as operações policiais. Por isso, afirmam frequentadores e representantes de movimentos sociais que atuam na região, foi escolhida como novo núcleo da cracolândia após deixar o entorno da praça Júlio Prestes na última sexta-feira (18).

Frequentadores relatam que eram cada vez mais frequentes as abordagens policiais que os encurralavam na rua Helvetia e na alameda Cleveland, antigos endereços da cracolândia.

Duas vezes por dia, agentes especiais da GCM (Guarda Civil Metropolitana) obrigavam o fluxo a se deslocar para permitir a limpeza das ruas pelos funcionários da prefeitura. Muitas vezes a movimentação terminava em conflito.

Praça Princesa Isabel tomada por barracas
Praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, volta a ser ocupada por usuários de crack após saída da cracolândia da praça Júlio Prestes - Danilo Verpa/Folhapress

Na praça, embora o consumo e o tráfico de drogas fiquem mais visíveis por causa da proximidade com vias movimentadas, como as avenidas Rio Branco e Duque de Caxias, a vantagem é que os usuários têm para onde correr em caso de confronto.

Em uma abordagem policial na cracolândia há cerca de um mês, imagens mostram usuários de drogas sentados no asfalto, com as cabeças abaixadas sob a mira de fuzis de oficiais da Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), grupo especializado do Dope (Departamento de Operações Policiais Estratégicas) da Polícia Civil.

Imagens divulgadas nas redes sociais da Craco Resiste, organização social que luta contra a violência policial na cracolândia, mostram policiais jogando bombas em direção aos usuários quando eles já estavam dominados.

Dias antes da dispersão, rodaram boatos entre os usuários de que uma nova operação policial seria realizada na segunda-feira (21), quando o fluxo já estava na praça Princesa Isabel.

Além das abordagens policiais, o tráfico de drogas na antiga cracolândia vinha sendo dificultado em grande parte pela falta de estrutura usada para esconder as drogas, segundo o delegado Roberto Monteiro, da 1ª Delegacia Seccional do Centro.

Com base nas investigações da operação Caronte, a prefeitura fez, nos últimos cinco meses, ações de despejo e lacrou 11 imóveis na rua Helvetia, na alameda Dino Bueno e no largo Coração de Jesus, locais usados pelos traficantes como pontos de apoio, segundo a Polícia Civil.

Parte desses imóveis era alugada por sem-teto por cerca de R$ 30 o pernoite. Com as ações de despejo, a maioria dos ocupantes passou a viver na praça Princesa Isabel em barracas e debaixo de lonas.

Um desses endereços, o hotel Avaré, era usado para receber os chamados clientes VIPs, que tinham à disposição segurança e refeições pedidas via aplicativos de celular enquanto consumiam as drogas.

Em outro imóvel, a polícia encontrou manchas de sangue no assoalho e relatou que o local era usado como sede do tribunal do crime, onde as execuções eram feitas. No endereço, foram encontradas máquinas de cartão registradas em nome de dependentes químicos.

O entorno da praça Júlio Prestes oferecia apenas uma rota de fuga, segundo as investigações, por meio da interligação de imóveis na rua Helvetia e alameda Dino Bueno. Passagens abertas pelos traficantes possibilitavam entrar por uma via e sair pela outra.

Diante da dificuldade de armazenar a droga perto do fluxo, os traficantes passaram a correr risco maior ao ter que transportar a mercadoria por distâncias mais longas.

Investigações da Polícia Civil apontam que havia droga sendo trazida de Osasco, na Grande São Paulo, por usuários de drogas acompanhados a distância pelos traficantes. O trajeto era feito via trens metropolitanos e, caso a droga fosse interceptada por policiais, o traficante se distanciava para não ser pego.

A instalação do fluxo na praça Princesa Isabel obrigou as equipes policiais a reiniciarem os métodos de observação do tráfico de drogas, que já estavam consolidados na antiga cracolândia.

As copas das árvores da praça são apontadas como empecilho para a captação de imagens por câmeras de segurança e drones. Homens armados com estilingue tentam derrubar os equipamentos com frequência.

Segundo o delegado Monteiro, as imagens da venda de entorpecentes têm sido determinantes para a Justiça manter a prisão de acusados de tráfico detidos pela operação Caronte.

Além disso, a praça é ocupada por famílias de trabalhadores que perderam a renda durante a pandemia de Covid-19 e foram morar nas ruas. De acordo com a prefeitura, de 18 a 21 de março, 1.633 abordagens foram feitas na praça e contabilizadas 255 barracas.

As barracas de sem-teto funcionam como uma camuflagem para esconder a ação dos traficantes.

Até a tarde desta quinta-feira (24), viaturas da PM e da GCM ocupavam as esquinas das ruas onde antes ficava a cracolândia para evitar a retomada do local pelo crime organizado. Por outro lado, a praça Princesa Isabel conta apenas com uma base policial na calçada da avenida Duque de Caxias, voltada para o sentido oposto da praça.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, não foram registradas ocorrências de roubos e furtos no entorno da praça Princesa Isabel nesta quinta-feira.

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