Descrição de chapéu Obituário Luiz Carlos Machado Lisboa (1928 - 2022)

Mortes: Louco por cinema, idealizou o Festival de Gramado

Jornalista Luiz Carlos Machado Lisboa, 93, viveu pela cultura no Rio Grande do Sul

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Rio de Janeiro

O pai levou quatro dias para assistir à sua primeira peça, mas o jovem Luiz Carlos nunca desistiu. O gosto pelas artes não era lá muito bem visto na rígida família de quatro filhos homens da pequena São Gabriel, cidade no interior gaúcho.

Por isso, logo que o primogênito saiu do colégio de padres em Porto Alegre, a primeira opção foi a odontologia. Chegou a exercer a profissão por seis anos, antes de entender que se encaixava mesmo era nas poltronas do cinema ou do teatro.

Achou um meio de seguir no caminho através do jornalismo, curso que frequentou na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). A partir da década de 1950, ocupou cargos de repórter, apresentador e colunista em diversos veículos.

Luiz Carlos Machado Lisboa (1928-2022)
Luiz Carlos Machado Lisboa (1928-2022) - Arquivo pessoal

As passagens incluíram Revista do Globo, Zero Hora, Diário de Notícias, A Hora, revista Vogue, revista Manchete, TV Piratini, TV Gaúcha e TVE, sempre orbitando a área da cultura. Chegou até a correspondente internacional em Madri.

A carreira também se estendeu aos gabinetes públicos por décadas, inclusive em São Paulo e Rio de Janeiro. Entre outras funções, foi chefe de relações públicas, assessor especial e se aposentou como mestre de cerimônia da prefeitura porto-alegrense.

Falar era coisa natural para o homem de tantos amigos, dos quais guardava segredos como poucos. Tratava a intimidade do outro como a sua própria. Nunca se casou nem teve filhos, "era mais prático", dizia à sobrinha Ana Luiza Frota Lisboa, 61.

Mas se preocupava com a vida no entorno. Ajudou a fundar o Festival de Cinema de Gramado, em 1973, e o Brique da Redenção, em 1978, feira de artesanato e atração turística da capital gaúcha.

Também escreveu um livro sobre a atriz e amiga "Marisa Prado: A Estrela, O Mistério". Dono de um vasto acervo cultural, doou boa parte dos seus exemplares, discos e filmes à Cinemateca Capitólio e ao Arquivo Histórico de Porto Alegre quando completou seus 84 anos.

Aos 90, ainda ia ao cinema todos os dias, às vezes saindo direto de uma sessão para outra. Gostava especialmente dos musicais e dos espanhóis. Costumava colecionar os tíquetes e rascunhar resenhas nos diários que mantinha desde os 11.

Também caminhava, almoçava fora, limpava casa, lavava roupa. Por isso não conseguiu se adaptar à solidão quando a pandemia veio. Um dia ficou sem fome e foi internado por 20 dias. Morreu de broncopneumonia no último 15 de março, dois dias antes de completar 94 anos. Deixa sete sobrinhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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