Descrição de chapéu Folhajus

Polícia investiga vídeos de crianças amarradas com lençóis em escola infantil de SP

Advogado contratado por instituição de ensino diz contribuir para esclarecimento da autoria

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São Paulo

A Polícia Civil investiga um vídeo que mostra crianças sendo maltratadas, supostamente dentro de uma creche particular no Jardim Vila Formosa, na zona leste paulistana. Nas imagens, podem ser vistas duas crianças no chão do banheiro, enroladas em lençóis da cintura para cima, com movimentos limitados, em uma amarração que lembra a de uma camisa de força. Uma delas chora.

Investigadores da Cerco (Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas), da 8ª Delegacia Seccional, cumpriram um mandado de busca e apreensão na Escola de Ensino Infantil Colmeia Mágica no último dia 10. Foram apreendidos sete lençóis, supostamente usados para restringir o movimento das crianças.

A 8ª Seccional afirmou, por meio da SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública), que investiga o caso, realiza diligências e colhe depoimentos. Os trabalhos investigativos ainda estão em andamento. "Mais detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho policial", diz trecho de nota.

Um vídeo feito com celular mostra duas crianças amarradas no banheiro de uma escola infantil, na zona leste da capital paulista. A Polícia Civil investiga a circunstância em que as imagens foram feitas - Reprodução/Redes Sociais

Laudos periciais, que começaram a ser feitos logo após o cumprimento do mandado de busca e apreensão, são considerados fundamentais pelos policiais para que se esclareçam as circunstâncias em que as imagens foram feitas, além de identificar eventuais culpados.

Além do vídeo, fotos de crianças, em situações semelhantes, circulam na internet.

O advogado André Dias afirmou à Folha que as imagens ocorreram de fato na escola. Em um primeiro contato, na tarde desta quarta-feira (16), ele afirmou ter sido contratado pela instituição de ensino para contribuir para o esclarecimento da feitura dos vídeos, compartilhados na internet desde a semana passada.

"Não fui contratado para defender a escola, mas para contribuir em identificar o responsável pela situação registrada nos vídeos. Meu trabalho é de investigação complementar dos fatos", explicou.

Nesta quinta-feira (17), ele, porém, acrescentou ter assumido também a defesa das responsáveis pela escola de ensino infantil. "A partir deste momento, quem vai assumir a defesa delas sou eu." Questionado sobre a linha de defesa, ele reforçou que ambas negam envolvimento no caso.

Dias afirmou que "não era do conhecimento da diretora e da irmã dela", que ajuda na administração da escola, que as crianças eram colocadas no banheiro, chorando nas cadeiras de bebê conforto e alimentadas "naquele ambiente".

O defensor disse ainda acreditar que o registro das situações vexatórias, com as crianças, ocorreu ''única e exclusivamente no momento da produção do vídeo". "Queremos descobrir o que aconteceu, para apontar os culpados."

Ele acrescentou "saber" o que teria motivado a suposta montagem da cena, mas não informou o que seria, alegando que poderia "prejudicar o andamento da investigação".

Dias afirmou que a escola suspendeu por ao menos 15 dias as atividades, até o esclarecimento do caso. "Minhas clientes estão tranquilas [com relação à denúncia], mas estão sendo, além de seus familiares, ameaçadas desde que o caso passou a ser compartilhado na internet", afirmou.

Na escola, estavam matriculadas 54 crianças com idades entre zero e seis anos.

Nas redes sociais, o caso já é compartilhado desde a semana passada, fazendo com que responsáveis pelos alunos se manifestassem. O muro da escola foi pichado e, depois, pintado.

Um agente de trânsito de 25 anos afirmou à reportagem que uma das crianças que aparece amarrada em um dos registros é seu filho de 11 meses. O nome dele e de outros pais de alunos será omitido para preservar a identidade das crianças.

Ele disse nesta quarta que a criança foi matriculada na instituição quando tinha quatro meses de vida. A escola foi escolhida, acrescentou, pelo fato de ele conhecer a diretora da unidade.

Antes da veiculação das imagens de maus-tratos, o agente diz que já havia notado uma mudança de comportamento no filho, mas que acreditou ser algo normal, até então, por causa da idade do menino.

O homem afirmou que o filho fica agitado quando é coberto com algum lençol em casa. A criança, acrescentou, costuma ficar com os braços esticados para cima quando deita na cama.

O agente diz que só começou a ficar de fato desconfiado ao ver policiais cumprindo um mandado de busca e apreensão no local, há uma semana.

Fachada de escola infantil na zona leste de São Paulo foi pichada com frases ofensivas após vídeos de maus-tratos serem compartilhados na internet - Reprodução/Redes Sociais

No dia seguinte, a direção convocou os pais para uma reunião e afirmou que as imagens de maus-tratos teriam sido feitas por alguém que queria "prejudicar a instituição", segundo o pai da criança. A defesa da escola confirmou a reunião.

Uma instrumentadora cirúrgica de 39 anos também diz que notou mudança no comportamento de seu filho, de 2 anos, desde que ele passou a frequentar a escola da zona leste, em outubro do ano passado.

Segundo ela, a criança passou a ter sono instável em casa, além de sinais de ansiedade.

Em 2010, a diretora da Colmeia Mágica foi investigada pela morte de uma criança sob seus cuidados.

O advogado da escola confirmou o caso, acrescentando que ele foi arquivado. A Folha apurou que o processo, de fato, não tramita mais na Justiça.

A reportagem tentou conversar com o delegado Renato Topan, responsável pelas investigações, mas ele não foi encontrado até a publicação deste texto.

Prefeitura e Ministério Público

A Prefeitura de São Paulo afirmou, por meio da Secretaria Municipal da Educação, repudiar atos de violência, dentro e fora do ambiente escolar.

A escola particular de ensino infantil da zona leste obteve autorização para funcionar em novembro de 2016, segundo a gestão municipal.

A Diretoria Regional de Educação afirma já ter notificado a administração da escola, iniciando também um processo de apuração.

O governo municipal reforçou que "nenhuma outra denúncia" foi protocolada contra a escola desde 2016. A secretaria e a Ouvidoria municipais de Direitos Humanos também acompanham o caso.

O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) afirmou nesta quinta, por meio de sua assessoria de imprensa, ter recebido informações preliminares da Prefeitura de São Paulo sobre a Colmeia Mágica.

O promotor Paulo Faustino, do Grupo Especial da Educação do MP-SP, encaminhou um ofício solicitando uma ação complementar, de supervisão de ensino, "para apurar os fatos", além da adoção de medidas administrativas no âmbito "da autorização [de funcionamento] e fiscalização" da escola.

Na esfera criminal, pelo fato de o caso envolver crianças e estar em segredo de Justiça, a Promotoria não irá se manifestar.

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