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Estudante morre após PM reagir a assalto no centro de São Paulo

Tenente atirou três vezes; um vendedora também ficou ferida

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São Paulo

A reação de um policial militar a uma tentativa de assalto na rua Vitória, região central de São Paulo, terminou com três pessoas baleadas na noite desta segunda-feira (11). Duas delas apenas passavam pela via. A estudante Ingrid Reis Santos, 21, morreu. A outra vítima, uma vendedora de 18 anos, foi medicada e liberada.

O jovem de 19 anos acusado de tentar roubar a moto do tenente da PM, por volta das 19h40, foi atingido na região das nádegas. Ele conseguiu fugir correndo, mas foi encontrado depois ao procurar atendimento médico na Santa Casa de Misericórdia. A instituição não deu detalhes sobre o quadro clínico dele.

A estudante Ingrid Reis Santos, 21, morreu após ser ferida com um tiro, na região do tórax, na noite desta segunda-feira (11), no centro de São Paulo - Repdorução/@Ingrid Reis no Facebook

O oficial da PM, de 23 anos e lotado no 14º Batalhão da PM, na região de Registro (a 188 km da capital), foi indiciado por homicídio culposo, ou seja, sem intenção. Ele estava de folga. Uma fiança de R$ 10 mil foi estipulada, para que ele respondesse ao caso em liberdade.

Até a publicação desta reportagem, a PM e a SSP (Secretaria da Segurança Pública) não haviam confirmado se ele havia pago o valor ou se havia sido encaminhado para o presídio Romão Gomes, na zona norte.

A vendedora ferida com um dos tiros, na região do abdômen, afirmou à Folha, que estava acompanhada do namorado quando passou pelo local.

Quando o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegou, constatou a morte de Ingrid. A vendedora foi encaminhada à Santa Casa, onde foi medicada e liberada.

De acordo com registros do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), o suspeito usou uma arma de brinquedo para abordar o PM, que sacou sua pistola calibre ponto 40. A Polícia Técnico-Científica apreendeu no local três projéteis.

Calçada onde a estudante Ingrid Reis Santos, 21, foi ferida no centro da capital paulista - Rubens Cavallari/Folhapress

Segundo a vendedora, o policial estava aparentemente transtornado e teria apontado a arma na direção dela após os disparos. A PM foi questionada sobre esse comportamento, mas não se manifestou.

O policial não teria mencionado o fato de ter ferido as duas vítimas quando acionou o 190. Quando isso lhe foi questionado, no DHPP, ele se negou a falar e também não assinou o interrogatório. "Do mesmo modo, o indiciado não demonstrou qualquer tipo de remorso ou arrependimento", diz trecho de documento do departamento de homicídios.

Nenhum advogado de defesa do PM foi localizado até a publicação desta reportagem.

Ingrid foi ferida a cerca de 30 metros do comércio do pai, uma lanchonete que fica na avenida Rio Branco. O local amanheceu nesta terça com as portas fechadas e cartazes com a palavra luto.

"Ela ajudava o pai dela, levando a chave do comércio todos os dias para ele. Na noite de ontem [segunda], ela estava mantendo a rotina dela", disse o tio de Ingrid, o comerciante Gil Cristiano, 35.

Ela, que era a filha do meio, atualmente fazia curso técnico de administração da Etec (Escola Técnica Estadual) na Santa Ifigênia, também no centro.

"Fiquei sabendo que ela tinha sido morta no início da madrugada. Estou sem dormir desde então. A família toda está abalada e ninguém consegue entender o que aconteceu", afirmou Cristiano.

A jovem seria velada e sepultada no cemitério do Sacomã, segundo o tio.

Comércio do pai da estudante Ingrid Reis Santos, 21, amanheceu fechado nesta terça-feira (12) - Rubens Cavallari/Folhapress

A PM afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o policial teria sido vítima de roubo, confirmando a morte da estudante, além dos ferimentos provocados no suspeito e na vendedora. A corporação não deu mais detalhes, alegando que aguardava a conclusão dos registros, feitos pelo DHPP.

A SSP afirmou que o caso é investigado pelo DHPP e pelo 3º DP. A pasta disse que foram instaurados inquéritos para investigar o roubo e o homicídio.

A PM disse que acompanha as apurações.

Reação do policial

O ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho, coronel da reserva da PM de São Paulo, afirmou que a arma na mão de um agressor gera uma reação para se salvar a própria vida. A rapidez da situação impede, segundo ele, a identificação de uma arma falsa.

Ele acrescentou que PMs são treinados para efetuar dois tiros na região do tórax de eventuais agressores. "O segundo tiro, numa sequência muito rápida, visa ampliar a chance de neutralização do agressor."

No caso da região central de São Paulo, onde a estudante morreu, o coronel da reserva avaliou que a proximidade do suspeito, ao abordar o PM de folga, dificultou a reação de defesa. "Se fossem cinco ou sete tiros, poderia se falar em excesso mas, nesse caso, pode ser justificado, apesar do trágico resultado."

Dennis Pacheco, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirmou que no Brasil policiais exercem suas atividades 24 horas por dia, mesmo em períodos de folga, em decorrência da natureza do trabalho. "Isso faz com que o policial sempre fique em estado de alerta, colocando-o na posição de alguém que resiste a um roubo, por exemplo."

A reação, principalmente em dias de folga, faz com que os agentes também possam eventualmente pôr a vida de terceiros em risco, como aconteceu no centro de São Paulo. "O policial de folga, por estar sozinho, sem apoio operacional, acaba cometendo eventuais equívocos como este. A maioria das mortes de policiais ocorre com eles fora de serviço", destacou.

Dados da SSP indicam que, no ano passado, das 15 mortes de policiais militares registradas no estado, 11 foram com os agentes fora do horário de serviço.

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