Descrição de chapéu Obituário Niza Tank (1931 - 2022)

Mortes: Cantora lírica, tinha hábitos simples e paixão pelo Brasil

Aos 91, professora Niza Tank morreu de causas naturais

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São Paulo

Quando Niza Tank foi contratada em meados dos anos 1950 por uma rádio em São Paulo, voltou para casa radiante. Porém, logo ouviu do pai: "filha minha não faz carreira artística". A sorte é que a mãe a apoiou e retrucou: "curioso, filha minha faz carreira artística."

Assim, os pais conversaram e decidiram que a então jovem de 23 anos seguiria a profissão como cantora lírica. Porém, com a condição de que fosse sempre acompanhada da mãe.

Por isso, a matriarca da família estava sempre junto da filha nos palcos —as duas iam aos concertos e voltavam juntas. "Ela se desafiava, sempre em busca das coisas mais complexas", define Raquel Schiavon Stabile, que trabalhou como sua curadora durante 22 anos.

A cantora lírica Niza Tank, que morreu no fim de abril com 91 anos
A cantora lírica Niza Tank, que morreu no fim de abril com 91 anos - Arquivo Pessoal

A cantora, que morreu aos 91 anos de causas naturais no dia 24 abril, chamava atenção pela voz desde pequena. Loira com os cabelos cacheados, Tank já fazia procissão na Igreja aos 7 anos. "Gostavam de colocar ela de anjo para cantar na torre da Igreja", diz Stabile.

Uma professora, com quem Tank fez aulas de piano e canto quando pequena, chamou seus pais e disse "ela não vai tocar, ela vai cantar." A profecia dela se concretizou e ela se tornou uma das maiores cantoras líricas do Brasil, se destacando pela interpretação das obras de Carlos Gomes, célebre compositor nascido em Campinas.

Em 1957, Tank se apresentou pela primeira vez no Theatro Municipal de São Paulo. A carreira também foi marcada por turnês em países como Espanha, Itália, Rússia e Alemanha.

Neste último, a recepção foi tão positiva que ela recebeu proposta para ficar por lá durante um ano. Porém, Tank recusou e e disse que iria cantar em terras brasileiras, já que nasceu aqui.

A curadora lembra que a cantora costumava defender o país e não aceitava que estrangeiros falassem mal do Brasil. "Houve situações em que a pessoa estava na casa dela e ela pediu que se retirasse e não convidou mais. Ela tinha manias, coisas que preservava e causas que defendia."

Entre outras manias, Tank não gostava de usar sapatos e nem manter brincos na orelha. Por vezes, enquanto se apresentava, começava a retirar os brincos e estendia a mão para Raquel, que estava sempre na coxia das suas apresentação. Já os sapatos, ela costumava chutá-los para fora do pé.

Raquel lembra ainda que ela não seguia algum ritual antes de subir ao palco. "Cantoras líricas, de um modo geral, costumam não falar antes do concerto, andam com a mãozinha no pescoço. E a Niza chegava no camarim, tirava os sapatos e ficava andando de um lado para o outro", relata Raquel.

A curadora lembra ainda que costumava receber ligações dos espaços em que Niza se apresentava com perguntas sobre exigências de alimentos para ter no camarim e a cantora não tinha nenhuma.

"Um dia, eu brinquei com ela dizendo ‘acho melhor a gente começar a fazer algumas exigências, isso tá muito chato’", ri Raquel que define Niza como uma mulher de hábitos simples, que gostava de comer arroz, feijão e ovo e era simpática e justa com todos a sua volta.

Além de cantora, Tank foi a primeira docente da cadeira de canto do Departamento de Música do Instituto de Artes da Unicamp. Em uma nota publicada no site da universidade, a professora é lembrada como alguém que misturou o "rigor artístico dos grandes mestres com uma leveza e bom humor que contagiava alunos e colegas."

Niza se casou com Samuel Abraham Lisman Baum em 1972, que morreu em 2002, e o casal não teve filhos. Ela deixa a curadora Raquel, primas e um legado de fãs e amigos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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