Descrição de chapéu Obituário Adrián Alberto Verdaguer (1946 - 2022)

Morte: Argentino fugiu da ditadura para ser empreendedor gastronômico no Brasil

Ator de teatro lutou pela liberdade política em Buenos Aires e depois se tornou empresário em Campinas

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São Paulo

A paixão pelo teatro e pela liberdade política conduziu a vida do argentino Adrián Alberto Verdaguer. Nascido em 17 de março de 1946 na periferia de Buenos Aires, desde jovem era dono de uma carreira promissora de ator.

E sempre guardou a carteirinha de integrante do Partido Comunista como lembrança dos tempos em que mesclava a militância na luta contra a ditadura com os palcos. Até que ao voltar de uma de suas peças com um outro ator, viram da rua a janela do apartamento do amigo acesa. Chegava a hora de, literalmente, sair de cena.

Adrián Alberto Verdaguer, ator e empresário argentino que morreu em Campinas no último dia 19, em cena da série FDP, - Divulgação

"Minha mãe foi comigo para a casa da minha avó e meu pai se escondeu em outro lugar", lembra a filha Maria Eugênia Verdaguer, 47.

Em 1981 a família seguiu para uma espécie de exílio no Brasil —em cima da mesa onde o casal marcou as digitais do passaporte havia uma pasta com fotos e dados de Verdaguer, para não deixar dúvidas de que era preciso partir.

Durante quase um quarto de século, o argentino teve uma vida intensa em Campinas, cidade a quase 100 km de São Paulo, onde comprou um posto de combustíveis com um casal de amigos ao chegar ao país.

Mas foi no restaurante San Marino, que Verdaguer descobriu o dom da culinária ao demitir o cozinheiro que se recusava a trabalhar em um sábado à noite se não recebesse aumento.

Na sequência, abriu o restaurante La Bodeguita, inspirado no nome do homônimo famoso de Havana e especializado em paelha. "Ele dizia para os clientes que seguia a receita da mãe espanhola, mas ela era italiana", brinca a filha Maria Eugênia.

O argentino transformou seu restaurante em uma espécie de teatro. Atores encenavam trechos de peças do dramaturgo espanhol Federico García Lorca entre as mesas.

Mas foi com o Café de La Recoleta, no Centro de Convivência, uma praça no boêmio bairro do Cambuí, que ele fez fama na cidade. O local funcionou entre 1994 e 2003. Virou reduto de intelectuais, palco de apresentações artísticas e ponto de encontro de jovens.

Verdaguer ainda montou uma padaria, mas batia a saudade de Buenos Aires, para onde retornou em 2005, a tempo de participar de manifestações na rua, de subir aos palcos novamente e de ser convidado para atuar na série FDP, da HBO, que precisava um argentino que falasse português, diz a filha.

O argentino se casou com uma brasileira em 2018. Descobriu um câncer em março passado. Ele morreu em 12 de abril, aos 76 anos. Deixa a mulher Fátima, os filhos Maria Eugênia e Juan Pablo, e oito netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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