PM suspeito de matar Leandro Lo já foi acusado de dar soco em mulher

Vítima relatou à polícia ter sido agredida após rejeitar tenente Henrique Velozo

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São Paulo

O tenente da Polícia Militar Henrique Otavio Oliveira Velozo, 30, suspeito de matar com um tiro na cabeça o lutador de jiu-jítsu Leandro Lo, 33, durante um show do grupo Pixote, no Esporte Clube Sírio, na zona sul de São Paulo, já foi acusado de agredir com um soco uma mulher.

A ocorrência foi relatada há dois anos e teria acontecido dentro de uma lancha no litoral norte paulista. A informação consta de material interno da PM sobre feitos e ocorrências envolvendo o tenente, atualmente lotado no Comando de Policiamento de Área 5, no Rio Pequeno, zona oeste da capital.

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) confirmou que a vítima registrou um boletim de ocorrência por lesão corporal. Já o PM registrou um por calúnia contra a mulher. Os envolvidos, porém, não deram continuidade ao caso.

A reportagem não localizou os advogados que atuaram no caso.

Defensor do tenente na ocorrência que envolve a morte do lutador, João Carlos Campanini disse não ter conhecimento do fato registrado no litoral.

O campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lô Pereira do Nascimento
O campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lô Pereira do Nascimento, de 33 anos, foi baleado numa festa dentro do Clube Sírio, no bairro de Indianópolis, na zona sul de São Paulo, na madrugada de domingo (7) - @leandrolojj no Instagram

Segundo documento ao qual a reportagem teve acesso, durante um passeio de barco em 1º fevereiro de 2020 o oficial da PM passou a exibir a arma de fogo que portava, inclusive disparando algumas vezes. O policial também teria emprestado sua arma para que outras pessoas atirassem.

Em certo momento, Velozo passou a flertar com uma das mulheres presentes na embarcação, não sendo correspondido.

Conforme o documento, ele foi até a garota, abaixou sua bermuda e disse: "É rola que você quer?". Ainda segundo o relato, ela o empurrou, e o PM deu um soco em seu rosto.

Antes, o tenente já havia discutido com o marinheiro da lancha, que, conforme a narrativa, ao notar o estado alterado do policial, havia tentado retornar ao continente.

"Você pode mandar aqui, mas na hora que chegar na praia vamos ver quem manda", teria ameaçado o PM.

Assim que a embarcação voltou para a praia, PMs foram acionados, mas os envolvidos não foram levados a uma delegacia. A ocorrência foi encerrada com a informação de que no local havia "várias mulheres aparentemente embriagadas".

No entanto, no dia seguinte, 2 de fevereiro, a mulher agredida compareceu ao distrito policial de Caraguatatuba, onde registrou boletim de ocorrência por lesão corporal.

Após tomar conhecimento do fato, Velozo foi no dia 3 de fevereiro à delegacia de São Sebastião e registrou um boletim de ocorrência de calúnia.

O documento também aponta que o tenente é o promotor e idealizador de um projeto de defesa pessoal e inteligência emocional, denominado Segunda Força, que tem como objetivo prevenir casos de violência contra a mulher.

Por essa contradição, a PM passou a temer pela imagem da corporação, o que teria resultado no afastamento do tenente do programa.

"Em razão dos fatos conflitantes entre uma possível agressão a uma mulher e a imagem do oficial à frente de um projeto de defesa pessoal para mulheres, poderá ocasionar uma crise de imagem institucional", diz trecho do documento.

Velozo tem uma condenação na Justiça Militar por agredir e desacatar PMs.

Em maio do ano passado, ele foi condenado a nove meses de prisão em regime aberto. No entanto, por ser réu primário, a Justiça suspendeu o cumprimento da pena por dois anos. Quem recebe esse tipo de concessão tem a pena extinta caso não cometa outro crime no período estabelecido.

Procurada, a Defensoria Pública, responsável pela defesa do PM no processo em questão, disse que não se manifesta sobre casos criminais em andamento.

Velozo se entregou à polícia na noite de domingo (7) e está preso temporariamente, após a Justiça decretar sua prisão temporária por 30 dias —a decisão foi confirmada em audiência de custódia nesta segunda (8). O tenente foi encaminhado para o Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte da capital.

Ele foi indiciado pela Polícia Civil sob suspeita de homicídio qualificado por motivo fútil, segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública do estado).

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