Descrição de chapéu Obituário Alfredo Massayoshi Nakai (1946 - 2022)

Mortes: Nas ruas do Bexiga há mais de 40 anos, fez parte da história do bairro

Conhecido pelo apelido de Seu Miyagi, Alfredo se recusava a alugar um quarto

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São Paulo

Alfredo Massayoshi Nakai era conhecido no Bexiga, bairro na região central de São Paulo, como Seu Miyagi, o personagem interpretado pelo ator Pat Morita (1932-2005) na série de filmes "Karatê Kid".

"Ele também tinha a palavra do dia, a palavra certa. Sempre falava coisas que te faziam bem", afirma a produtora Vivi Torrico, 49.

Apesar de ter familiares no bairro, Alfredo viveu nas ruas, onde fez amigos e presenciou inúmeros acontecimentos.

Alfredo Massayoshi Nakai (1946-2022)
Alfredo Massayoshi Nakai (1946-2022) - Victor Angelo

Ele estava havia mais de 40 anos em situação de rua. Mesmo com aposentadoria, recusava-se a alugar um quarto. Dizia preferir a liberdade, ter os amigos por perto e afirmava que não estava disposto a gastar parte do dinheiro com moradia.

"Quando abrimos a Central Panelaço, há uns oito anos, nos deparamos com esta figura: um senhor oriental, com olhos verdes, culto, dormindo em cima de um papelão. Achei surreal", diz Vivi.

Conquistar a amizade de Alfredo não foi fácil, segundo a produtora. No início, era agressivo e evitava a aproximação.

"Ele deve ter passado por sofrimento, pensei. Demorei dois anos para ganhar a confiança. Viramos amigos. No começo da pandemia, em 3 de junho, fizemos uma festa de aniversário para ele e o abraço rompeu todas as barreiras. Ele era respeitoso, conversava sobre qualquer assunto, sabia de tudo. Sou argentina e ele me ensinou sobre vários prédios em São Paulo", diz Vivi.

Filho de japoneses, Alfredo tinha 76 anos. Morou duas vezes no Japão, onde trabalhou em fábricas. Na segunda passagem pelo país, organizou uma greve e acabou deportado.

Recentemente, passou por alguns reencontros: com a filha, Harumi Nakai; com a irmã, que não via havia 52 anos; e com a primeira namorada, por meio de uma videochamada.

Nos seus últimos dias morou na Casa Guadalupe, que acolhe idosos em situação de rua. Lá acidentou-se, foi hospitalizado e passou por cirurgia no fêmur, mas contraiu uma bactéria e não resistiu às complicações. Morreu dia 9 de setembro.

"Ele me deixou grandes questionamentos e ensinou que, mesmo com a dureza da vida e da rua, não precisa perder a leveza", diz Vivi.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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