Descrição de chapéu Obituário Carlos Eduardo Pellegrini Di Pietro (1939 - 2022)

Mortes: Preso na ditadura, defendeu a democracia até o fim

Cuca amava enviar cartas no Natal e reunir amigos para macarronada

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São Paulo

O advogado Carlos Eduardo Pellegrini Di Pietro teve um papel importante na luta pela democracia no Brasil. Filho único de pais italianos, o professor da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) foi um dos presos políticos durante a ditadura militar.

Nascido em 19 de maio de 1939, em São Paulo, Cuca, como era mais conhecido, começou a trabalhar antes mesmo de entrar no curso de direito da Universidade Mackenzie, na capital paulista, em 1957. Ele iniciou sua vida profissional auxiliando na administração da empresa fundada por sua família, a Casas Eduardo Calçados e Chapéus.

Foto de Carlos Eduardo Pellegrini Di Pietro. Ele era uma idoso, branco, de cabelos brancos e usava um suéter verde. Ele está sentado à mesa com um bolo de aniversário.
Carlos Eduardo Pellegrini Di Pietro (1939 - 2022) - Arquivo Pessoal

Foi através do negócio familiar que conheceu sua esposa, a bibliotecária e artista plástica Maria Candida Lang Di Pietro, já que os pais dos dois presidiram a ACSP (Associação Comercial de São Paulo) na década de 1950.

Sempre envolvido com os movimentos estudantis na faculdade, Cuca não era favorável ao regime militar, instaurado no país em 1964. Ele se envolveu com grupos que combatiam a repressão da ditadura, de forma clandestina, para não ser descoberto pelos pais.

Acabou sendo detido em 1970 após ter sido delatado por outro preso político, enquanto a maior parte de sua família estava na Itália durante as férias escolares. "Eu tinha 9 anos na época. Minha mãe me dizia que ele estava viajando a trabalho e eu falava 'nossa, mas ele está demorando para voltar!'", diz o engenheiro Eduardo Emilio Lang Di Pietro, filho do advogado.

Carlos ficou preso no Dops (Departamento de Ordem Política e Social), na região central de São Paulo, por pouco mais de um ano. Seu pai faleceu antes dele ser libertado.

Quando saiu, Cuca iniciou um hábito que manteve até o fim da vida: escrever cartas no Natal para amigos e entes queridos. "A preocupação do meu pai era a melhoria de vida das pessoas. Ele enxergava Jesus Cristo como um exemplo para tornar o mundo mais justo e fraterno, sempre falava muito disso nessas mensagens", relata o filho.

Cuca fez parte da fundação do PT (Partido dos Trabalhadores) e trabalhou de forma voluntária nas campanhas de Luiza Erundina para a prefeitura de São Paulo (em 1988) e de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência (em 1989). Ele se afastou do partido em meados de 2002.

O advogado deu aulas na USP entre 1986 e 1991 e fez parte da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), de 1995 a 1997.

Grande fã do poeta Tiago de Mello, o professor era generoso e respeitava a todos. Uma de suas paixões era reunir amigos, defensores de várias ideologias, em torno de uma macarronada.

Carlos morreu após uma parada cardiorrespiratória, aos 83 anos, um dia depois de assinar a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito. Deixa esposa, três filhos e três netas.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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