Polícia investiga morte de 9 cães após consumo de petisco em MG e SP

Dois lotes da Bassar Pet Food estão com suspeita de intoxicação; fábrica foi interditada e todos os produtos devem ser recolhidos de forma preventiva

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Belo Horizonte

A Polícia Civil de Minas Gerais investiga a morte de sete cachorros que teriam sofrido intoxicação depois de consumirem petiscos da marca Bassar Pet Food. Outras duas mortes, segundo a corporação, ocorreram na cidade de São Paulo e serão investigadas pelas autoridades locais.

Em Minas as sete mortes aconteceram em Belo Horizonte (6) e em Piumhi, no centro-oeste do estado. No caso do interior, no entanto, o petisco foi comprado na capital. O animal estava na cidade quando foi atendido por um veterinário e retornou com a tutora para Piumhi, onde morreu.

Apresentação da linha de petiscos para cães Every Day, cujo lote é investigado por suspeita de intoxicação de animais - Reprodução/Bassar Pet Food

Os produtos identificados com suspeita de contaminação são o Every Day sabor fígado (lote 3554) e o Dental Care (lote 3467), de acordo com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). A Bassar divulgou que, "por precaução", também iniciou a retirada do lote 3775 da marca Bone Everyday assim que soube das denúncias.

O ministério determinou nesta sexta (2) o recolhimento nacional de todos os lotes de produtos da empresa. A medida é preventiva, "diante dos riscos iminentes à saúde de animais". A fábrica envolvida na produção dos lotes, localizada em Guarulhos (SP), também foi interditada até que sejam apresentadas todas as informações solicitadas pela fiscalização.

Os animais com suspeita de intoxicação sofreram convulsões, vômito, às vezes com sangue, diarreia e prostração. Exame realizado pela Escola de Veterinária da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) em um dos cães apontou falência nos rins como causa da morte e sugeriu, de forma não conclusiva, a presença de etilenoglicol no animal.

Substância da mesma família, o dietilenoglicol, foi encontrada nos consumidores da cerveja Backer, no final de 2019 e início de 2020. Dez pessoas morreram e parte dos sobreviventes ainda sofre com sequelas da contaminação e precisa passar por tratamentos como hemodiálise para problemas renais.

Segundo a investigação, a cervejaria utilizava o dietilenoglicol para resfriamento de tanques e entrou indevidamente em contato com a bebida por buracos nos compartimentos. A Backer afirma nunca ter comprado a substância.

Em nota, a fabricante dos petiscos disse que nunca utilizou o etilenoglicol em sua produção. "Utilizamos apenas o propilenoglicol, um aditivo alimentar presente em alimentos para humanos e animais em todo o mundo. Reforçamos que o propilenoglicol utilizado pela Bassar em seus produtos é adquirido de fornecedores qualificados e renomados, os quais não fornecem somente para Bassar e sim para inúmeras indústrias no ramo alimentar para humanos e animais", afirma o comunicado.

A empresa afirma ainda que funcionários do ministério fizeram inspeções na empresa nos últimos dias "e atestaram que a fábrica atende a todos as normas de segurança alimentar e de produção". "A Bassar adquire esses insumos de empresas idôneas e devidamente registradas no Mapa", segue o texto.

A fabricante declara ainda que não há nenhum laudo conclusivo sobre a causa das mortes dos cães. A empresa diz ser solidária com todos os tutores e que preza pela "qualidade dos produtos e pelo bem-estar e satisfação" dos clientes.

A delegada Danubia Quadros, da Delegacia de Defesa do Consumidor, afirmou que vários lotes dos produtos da empresa foram encaminhados para análise. Disse também que estão em andamento exames toxicológicos nos animais mortos. Não há prazo para que fiquem prontos.

Quadros pede que os donos de cachorros que tenham apresentado problemas após consumo de produtos da marca devem procurar a polícia. "Tutores têm que ter cautela na compra e oferecimento destes petiscos", orienta.

A investigação tem como base lei que pune com dois a cinco anos de prisão a venda de mercadoria imprópria para consumo.

A médica-veterinária Andressa Gontijo, especialista em toxicologia animal que atende em grandes clínicas de São Paulo, diz que o etilenoglicol é uma substância altamente tóxica, tanto para humanos quanto para outros animais, além de ser estritamente proibida na indústria alimentícia.

"É uma substância plastificante e anticongelante que, no organismo, pode levar muito facilmente ao óbito. Logo após a ingestão, o animal já apresenta vômitos seguidos de diarreia. A intoxicação é tão forte que, mesmo com tratamento, órgãos como fígados e rins são afetados e param de funcionar", afirma ela.

Gontijo orienta que, sob qualquer suspeita de ingestão da substância, o tutor leve o animal ao profissional veterinário imediatamente para que o tratamento seja iniciado. "É a única maneira de tentar salvá-los, mas, reiterando, o êxito é raro."

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