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Bicicletários do transporte público vetam, em parte, bicicletas elétricas em SP

Secretaria estadual estuda mudança; entidades veem ilegalidade na proibição

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São Paulo

As bicicletas elétricas já estão por toda a parte e, em muitas regiões de São Paulo, compõem o cenário urbano da mobilidade. Apesar disso, elas não são bem-vindas em todos os bicicletários da região metropolitana, limitando o acesso de quem pretende usá-las como complemento ao transporte público. Entidades veem ilegalidade na proibição.

Segundo a Secretaria dos Transportes Metropolitanos paulista, "já são estudadas formas de adaptar e padronizar os bicicletários para a acomodação correta das bikes elétricas", entre as companhias sobre as quais responde.

Já a SPTrans, da Prefeitura de São Paulo, diz que terminais e parte das estações do Expresso Tiradentes contam com bicicletários abertos durante o horário de funcionamento de cada terminal. Mas, "no momento, não é permitido colocar bicicletas elétricas nos bicicletários", afirmou a empresa da administração municipal, em nota.

A SPTrans acrescenta que não se responsabiliza pelas bicicletas ou objetos deixados nos bicicletários dos terminais.

Não é toda estação de metrô ou trem que conta com bicicletário. Também não é toda estação que, mesmo com bicicletário, aceita bicicletas elétricas. Segundo a própria Secretaria dos Transportes Metropolitanos, apenas 37 dos 61 lugares dentro de seu sistema permitem a permanência das elétricas.

Cavalete para recarga de bikes elétricas no bicicletário da estação Vila Olímpia, na linha 9-esmeralda dos trens, em São Paulo - William Cardoso/Folhapress

Um exemplo disso acontece no Metrô, que cuida das linhas 1-azul, 2-verde e 3-vermelha. A companhia estadual tem quatro bicicletários espalhados pela capital. Em nenhum deles é permitida a permanência das elétricas.

A ViaMobilidade, que administra bicicletários nas linhas 4-amarela e 5-lilás, de metrô, e 8-diamante e 9-esmeralda, de trens, diz por meio da STM que permite bicicletas convencionais e elétricas que possuem o motor localizado nas rodas. Entretanto, nas estações de trem especificamente, a orientação parece ser outra. A reportagem apurou in loco que não se pode deixar esse tipo de equipamento.

A situação é tão conflitante que leva a paradoxos curiosos. A Vila Olímpia, na zona oeste de São Paulo, é uma das regiões da cidade onde mais se vê bicicletas elétricas circulando pelas ciclovias. A estação de trem que leva o nome do bairro, na linha 9-esmeralda, é apontada em painel luminoso como a "primeira sustentável do Brasil".

Quem procura o bicicletário da estação Vila Olímpia vê a contradição em si. Dentro dele há um cavalete, com publicidade de um banco, onde se lê "carregue aqui a sua bike elétrica". O cavalete conta com tomadas e cabos para a recarga das baterias. Mas, segundo funcionários, é proibida a permanência desse tipo de bicicleta no local.

A EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) também proíbe o estacionamento de bicicletas elétricas em seus bicicletários.

Diretor da Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas), Daniel Guth afirma que é ilegal fazer esse tipo de diferenciação por modelo de bicicleta. "A legislação federal equipara a bicicleta elétrica com a convencional, contanto que siga as regras [até 350 watts, até 25 km/h de velocidade máxima, com pedal assistido, entre outros]", afirma.

Segundo Guth, se são equiparadas, é equivocado e ilegal que bicicletários tenham política de diferenciação por modelo. "Na prática, é como se dissessem que pode parar uma bike urbana, mas uma mountain bike não pode. Pode uma BMX, mas não uma speed", diz, citando modelos de bicicletas para diferentes práticas esportivas, de lazer e locomoção.

Guth afirma que não há justificativa técnica para a proibição das elétricas.

Segundo o diretor da Aliança Bike, não é necessária nenhuma grande adaptação para que bicicletários recebam as elétricas. "Tudo bem, se você quiser, como um diferencial, colocar tomada, um lugar para recarregar enquanto estiver no trabalho, é lindo. Agora, não é uma obrigatoriedade", diz.

Para Guth, o bicicletário tem que garantir um acondicionamento seguro, confortável e acessível. "Óbvio que o ideal é que o modelo de suporte não obrigue a pessoa a levantar a bicicleta. Os modelos com gancho são muito ruins para bikes elétricas que são mais pesadas", explica.

Rodrigo Afonso, diretor de Veículos Levíssimos da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) e representante da empresa da Go Lev, afirma que é um retrocesso impedir bicicletas elétricas nos bicicletários do transporte público. "É um pensamento retrógrado. Quando pensamos em mobilidade urbana, como meio de transporte, o que a gente entende é que tudo é um conjunto", diz. "A partir do momento em que não permitem parar uma bicicleta como se fosse convencional, é uma ilegalidade."

Segundo Afonso, a proibição não faz sentido. "É falta de conhecimento. Alguém, em algum momento, resolveu que não podia colocar e ninguém muda."

Resposta

Segundo a Secretaria dos Transportes Metropolitanos, sob responsabilidade do governo estadual, as bicicletas elétricas são aceitas por 37 dos 61 bicicletários das empresas que integram seu sistema, "desde que tenham tamanho similar ao de uma bike convencional e, por questões de segurança, não podem ter motor a combustão —em alguns casos, é preciso que o motor da bike esteja localizado nas rodas".

A secretaria diz que é "importante destacar que há estudos em andamento para padronização e adequação destes serviços nas três concessionárias".

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