Descrição de chapéu Coronavírus

Morre pai de vítima de Covid que recolocou cruzes em protesto contra a pandemia

Cena de indignação do taxista Márcio Antônio do Nascimento Silva no Rio viralizou e ele foi um dos convidados a depor em CPI

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Rio de Janeiro

Morreu, no Rio de Janeiro, o taxista Márcio Antônio do Nascimento Silva, 58, que viralizou em 2020 ao recolocar nas areias da praia de Copacabana cruzes de madeira em memória às vítimas da Covid-19 que haviam sido retiradas do local.

Silva estava internado com problemas no coração. Ele, que tinha perdido o filho Hugo, 25, para o coronavírus no auge da pandemia, em abril de 2020, causou emoção com seu gesto ao recolocar a homenagem que fora derrubada momentos antes por um morador.

Márcio chegou a comparecer à CPI da Covid, do Senado, onde deu seu testemunho de pai.

No enterro realizado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, nesta terça (4), parentes e amigos carregaram uma cruz em homenagem ao taxista. A Rio de Paz lamentou a morte em uma nota divulgada nas redes sociais.

Enterro de Márcio Antônio do Nascimento Silva no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro
Márcio Antônio do Nascimento Silva foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro - ONG Rio de Paz/Divulgação

A ONG mandou fazer ainda uma faixa com a frase: "Em memória de Márcio Antônio do Nascimento Silva, pai de vítima da Covid, que defendeu bravamente o direito à vida e à liberdade de expressão. Exigiu e não teve do poder público o combate eficaz da pandemia".

O presidente da Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, disse que os familiares de Márcio se disseram surpresos ao ver o taxista fincar com indignação as cruzes na areia.

"O que levou Márcio a expressar aquela revolta foi o seu senso de justiça. O desejo de lutar nesse momento dramático da história do nosso país, pela liberdade de expressão, pelo direito à vida. Ele parte deixando para nós o exemplo de compromisso com a democracia", disse.

Hugo Dutra do Nascimento Silva, filho do meio do taxista, morreu em abril de 2020 de complicações do coronavírus. Aos 25 anos, deixou o pequeno Arthur, então com 5 anos. Hugo ficou internado por 16 dias, mas não resistiu à doença.

Na época, a ONG Rio de Paz colocou cem cruzes que representavam covas nas areias da praia de Copacabana, a fim de cobrar ações do governo federal contra a pandemia.

Durante a homenagem, porém, um homem que passava pelo calçadão decidiu derrubar as cruzes. Silva, indignado, fincou novamente os objetos na areia. A cena viralizou.

"Gostaria, por favor, que as pessoas tivessem mais empatia e compaixão pelas pessoas, pelas vítimas, por todos nós", disse o taxista à época.

Em outubro daquele ano, Márcio foi convidado a depor na CPI da Covid. Na ocasião, o taxista entregou aos senadores 600 lenços brancos.

Homem carrega uma cruz no cemitério
Durante o enterro, parentes e amigos fazem homenagem ao taxista que ficou conhecido por recolocar no lugar cruzes de homenagem às vítimas de Covid - ONG Rio de Paz/Divulgação

"A minha dor não é ‘mimimi’. Não é, não é. Dói para caramba mesmo —dói, dói. Não aceito que ninguém aceite isso como normal. Não é normal. Não é minha só, não. É de todas as pessoas que perderam, de todas as pessoas que perderam pessoas tão queridas, porque todas são queridas. Não importa que meu filho tenha 25 anos, isso não é relevante. Não importa que a mãe dela tenha 80. São vidas, são pessoas que a gente ama, como todos aqui amam" disse Silva, durante a CPI.

No dia do ato em Copacabana, 11 de junho, o Brasil registrava 40 mil óbitos pela Covid. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, atualizados nesta terça (4), já são 686 mil vidas perdidas.

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