Descrição de chapéu Obituário João Zanetic (1943 - 2024)

Mortes: Físico por formação e filósofo por vocação, ajudou a transformar a educação do país

João Zanetic foi ajudante de sapateiro, bancário, professor e uma influente voz nos rumos do ensino por décadas

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São Paulo

O professor João Zanetic era apaixonado pela física, mas poderia facilmente ter sido cientista político, sociólogo ou filósofo. À sua própria forma, ele foi político. E formou gerações de alunos ao longo de décadas.

Para ele, as ciências humanas não estavam tão distantes das exatas. Dedicou sua carreira à missão de demonstrar as semelhanças entre diferentes campos de conhecimento e de melhorar a educação como um todo, especialmente o ensino científico.

Era o terceiro filho de um casal de imigrantes que veio da atual Croácia no início do século 20 —à época, o território integrava o Império Austro-Húngaro—, que havia se conhecido no interior paulista, casou e se estabeleceu no bairro do Belenzinho, na zona leste de São Paulo.

Homem com cabelas brancos, barba branca e óculos, vestindo camisa azul, é visto a partir de seu busto, com um muro amarelo e várias pixações em perspectiva ao fundo
João Zanetic (1943 - 2024) - Leitor

Com uma diferença de 15 anos de idade para o irmão mais velho e oito em relação à irmã mais velha, o caçula da família tornou-se o queridinho do bairro. A irmã o havia ensinado a ler e escrever, e o menino ganhava livros de presentes dos vizinhos por causa da fama de estudioso.

Trabalhou como assistente de sapateiro aos 12, e como bancário aos 18, antes de ser aprovado no curso de Física, na USP. Entrou na faculdade em 1964, e começou a lecionar logo depois de formado. Foi quando conheceu a primeira esposa e mãe de seus filhos, Vera Lúcia, que teve aulas com ele no Instituto de Matemática da universidade.

Em seu primeiro mestrado, Zanetic estudou o fenômeno da termoluminescência, mas desde cedo estava clara sua vocação para a interdisciplinaridade. Em 1972, ele fez seu segundo mestrado na Universidade de Londres, dessa vez para se dedicar ao ensino de física.

Vera estava grávida de Mariana, primeira filha do casal, que nasceu no Reino Unido. Quando voltaram ao Brasil, dois anos e meio depois, nasceu André.

A experiência no exterior o colocou na trajetória que marcaria seu trabalho na academia. Em seguida, ele participou do Projeto Ensino de Física (PEF), iniciativa pioneira que tentava transformar a maneira como a disciplina era encarada por educadores e estudantes.

Zanetic foi também o criador e editor da Revista Brasileira de Ensino de Física, ao longo de anos —publicação que, além de ter grande influência entre os profissionais da área, fazia críticas à política educacional da ditadura militar. André lembra que o pai, uma vez, colocou as crianças da casa para escolher a capa de uma das primeiras edições, feita por um artista convidado.

Militante irredutível na academia, ele foi preso durante a ditadura (antes da viagem ao Reino Unido) e colaborou com alguns dos maiores intelectuais da esquerda do período como Florestan Fernandes —de quem foi suplente do mandato de deputado federal— e Paulo Freire —integrou sua equipe na Secretaria Municipal de Educação durante a gestão Luiza Erundina em São Paulo.

Os amigos na academia diziam que, para saber onde estava Zanetic, bastava ouvir sua gargalhada pelos corredores. Zanetic morreu no dia 25 de abril, aos 81 anos, deixando os dois filhos e a mulher, Nana.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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