Descrição de chapéu Obituário Valdenice do Nascimento Carrasco (1951 - 2022)

Mortes: Leoa na criação dos filhos, mostrou a coragem e o amor aos netos

Nascida em uma família pobre do interior de Sergipe, Valdenice foi adotada por um casal de classe média de Aracaju

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Porto Alegre

Dizem os registros que Valdenice do Nascimento Carrasco nasceu em 30 de setembro de 1951, em Tobias Barreto, município do interior de Sergipe.

Ela é filha de Maria Honoria dos Santos e José Onias do Nascimento, mas pouco se lembrava de seus pais biológicos, que eram muito pobres. Por isso, quando Valdenice tinha 5 anos os pais a deram para adoção para um casal de classe média alta de Aracaju —sem poder ter filhos, eles já tinham adotado também uma outra menina.

No Brasil dos anos 1950, o casal decidiu que Valdenice não seria tratada como filha, sendo chamada apenas de "a menina que dona Soraya [a mulher do casal] cuida". Além disso, recebia menos afeto e não tinha acesso a todos os bens e presentes que uma criança de uma família de classe média alta tinha na época.

Valdenice do Nascimento Carrasco (1951-2022)
Valdenice do Nascimento Carrasco (1951-2022) - Arquivo pessoal

Além disso, Valdenice era gaga —atribuía isso a um susto que teria tomado quando ainda era pequena. Devido ao desinteresse da família e à vergonha por ser gaga, não terminou o ensino fundamental, apesar de todos que a conheceram sempre terem exaltado sua inteligência.

Nos anos 1960, o marido de Soraya foi embora depois de problemas com jogos e bebida. Com isso, as três mulheres —Soraya, Valdenice e Josefa, a outra menina adotada— se mudaram para São Paulo em janeiro de 1969.

O longo trajeto de carro de Aracaju para a capital paulista (são 2.200 km de distância, cerca de 30 horas de carro em 2022) foi uma aventura, que Valdenice costumava narrar com bom humor.

"O para-brisa quebrou e a gente tinha que puxar com uma cordinha para que funcionasse. Íamos cantando para o motorista, virado, não dormir", dizia.

A viagem e a necessidade de recomeçarem sozinhas as aproximaram de vez —a partir daí, Soraya e Valdenice passaram a se tratar como mãe e filha.

Em São Paulo, Valdenice trabalhou no comércio e conheceu um grupo de amigos. Um deles, Antonio Cesar, insistiu para sair com ela. Logo, virou namoro e, cinco anos depois, casamento, no qual nasceram três filhos.

Foi uma leoa na proteção e criação dos três. Com ajuda do marido, garantiu que os filhos sempre tivessem uma excelente educação, com todos se formando no ensino superior em Porto Alegre, para onde a família se mudara.

Em 2007, veio um baque, a morte de um dos filhos, Victor, o que a fez buscar novas forças para seguir a vida. Mais recentemente, teve como grande alegria o nascimento dos três netos.

Pouco antes do início da pandemia, descobriu que estava doente. Passou pelo tratamento e viveu muito mais do que previam os médicos.

Deixa o marido, Antonio Cesar, dois filhos, Vinicius e Bruna, a nora Myrian, o genro Erik e os netos Cecília, Helena e João Victor —para os quais fará uma falta do tamanho de sua coragem e do amor que lhes deu.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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