Descrição de chapéu chuva

Perdi tudo o que tinha, diz cabeleireira após enchente em Santa Catarina

Cerca de 85% da cidade de São João Batista ficou alagada; dois morreram no estado após temporais

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Joca Baggio
São João Batista (SC)

Distante 80 quilômetros de Florianópolis, São João Batista foi uma das cidades de Santa Catarina que mais sentiram o impacto das fortes chuvas registradas nos últimos dias no Sul do país.

Ao menos 15 mil pessoas, num universo de 39 mil habitantes, tiveram problemas decorrentes das chuvas, que deixaram 85% da área do município alagada.

Estragos da chuva no bairro Tajuba I, na cidade de São João Batista, após enchente no rio Tijucas
Estragos da chuva no bairro Tajuba I, na cidade de São João Batista, após enchente no rio Tijucas - Anderson Coelho/Folhapress

A cabeleireira Miriane Soares, 44, foi uma dessas pessoas. A casa e o salão de beleza dela foram atingidos pela cheia do rio Tijucas durante a madrugada desta quinta-feira (1º).

O rio, que tem nível médio de 6 m, atingiu 9,16 m na manhã, o que fez com que ela perdesse tudo. "Meu pai diz que tivemos uma enchente grande em 1961, mas que não se comparava a essa", conta ela.

Miriane morava com o pai de 80 anos e agora precisou se mudar para a casa do namorado. "Eu moro nos 15% de São João Batista que não encheu", diz Rogério de Souza, 54.

Com a comerciante Mari Puel Fagundes o rio não foi menos cruel. Embora as perdas na sua agropecuária tenham ficado em cerca de 40%, na sua casa, na zona rural, o prejuízo foi total.

O mesmo aconteceu com a sapateira Maria Célia Costa, 46. A casa onde ela reside com o marido e duas filhas, de 15 e 20 anos, foi atingida pela água até a altura de 1,5 m. Ela e a família foram acolhidas por amigos da igreja. Essa é considerada a maior enchente da história do município.

Os irmãos Amanda Santana, 24, e Nicolas Alexander Pereira, 18, perderam a casa e tudo o que havia dentro. O imóvel teve a estrutura danificada e será demolido. Eles passarão a morar de aluguel.

Cerca de 1.500 moradores de São João Batista passaram a noite de quinta para sexta-feira (2) em abrigos montados pelo município.

Ao menos 6.000 pessoas foram cadastradas e receberam algum tipo de ajuda em um centro de apoio montado pelo poder público e organizações não governamentais.

Mais de 200 voluntários trabalham dia e noite na distribuição de marmitas, cestas básicas, água, roupas, material de limpeza, colchões e cobertas. As doações não param de chegar em caminhões, helicópteros e carros particulares. Na tarde de quinta-feira as filas equivaliam a três quarteirões.

A voluntária Pâmela Rocha disse que a movimentação de pessoas em busca de alguma ajuda é constante. Neusa Maria da Silva, 52, está desempregada e aguardava na fila. Busca uma cesta básica, assim como a paraense Raquel Leal, 30, que foi com os filhos Luiz Gabriel, 3, e Emanuel Luiz, de três meses.

Após cinco dias de chuva forte que causam alagamentos, bloqueios de rodovias e ao menos duas mortes, Santa Catarina teve situação de emergência decretada pelo estado.

Em Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis, um homem morreu ao tentar atravessar uma área alagada e foi eletrocutado. Em Brusque, um dos maiores municípios do Vale do Itajaí, um homem foi soterrado após deslizamento no bairro Poço Fundo —ele foi resgatado, mas já sem vida.

A região da Grande Florianópolis foi bastante castigada pelos impactos dos temporais nesta semana, que em alguns pontos somou mais de 300 milímetros.

O resultado foram inundações em diversos pontos da ilha e em cidades da região, que registraram muitos transtornos.

Os alagamentos começaram na quarta-feira e a situação piorou muito a partir da noite, com inundações, rodovias interditadas e falta de energia elétrica, que atingiu mais de 28 mil pontos em 15 cidades da região. Muitos ficaram sem luz por até 20 horas.

Na capital, as ruas centrais ficaram totalmente alagadas na noite de quarta e na manhã de quinta-feira, e bairros como Santo Antônio de Lisboa, Campeche, Ingleses e Córrego Grande tiveram grandes inundações.

Mais de 30 cidades catarinenses decretaram situação de emergência, segundo boletim divulgado ao meio dia de sexta-feira pelo Grupo de Ações Coordenadas da Defesa Civil (GRAS-DCSC).

Grande número de alunos também está sem aula desde a quarta-feira. Muitas escolas foram atingidas pelas cheias e outras foram transformadas em abrigos.

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