Polícia investiga grupo por torturar dois homens após furto de carne no RS

Imagens de câmeras em supermercado mostram espancamento e humilhações

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Porto Alegre

A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa investiga um caso de tortura ocorrido no depósito de um supermercado em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre.

Sob o olhar de um gerente e de um subgerente, cinco seguranças espancaram dois homens, de 32 e 47 anos, pela tentativa de furto de duas peças de picanha, avaliadas em cerca de R$ 100. A ação do grupo foi filmada por câmeras de segurança do supermercado UniSuper, na avenida Inconfidência, no bairro Centro.

O caso ocorreu em 12 de outubro e veio a público neste domingo (4) em reportagem do Fantástico.

Grupo de homens diante de dois suspeitos (sentados, à esquerda) de furtar duas peças de picanha em supermercado em Canoas, no Rio Grande do Sul, em 12 de outubro deste ano - DPHPP/Polícia Civil de Canoas

Após a veiculação das imagens, a rede de supermercados UniSuper, que tem 42 lojas em 18 cidades do Rio Grande do Sul, divulgou uma nota se desculpando pelo episódio, reafirmando "compromisso com o respeito à vida e à dignidade da pessoa humana" e se colocando à disposição das autoridades.

A rede disse que "diante de uma conduta lamentável e cruel com a qual jamais concordaremos, informamos que encerramos o contrato com a empresa Glock Segurança, desligamos os funcionários envolvidos e iniciamos o trabalho de revisão de todos os nossos protocolos de segurança e de conduta".

A reportagem tentou nesta segunda (5) contato com a Glock Segurança, mas não recebeu resposta.

Segundo o delegado Robertho Peternelli, o caso começou a ser investigado após uma das vítimas dar entrada em um hospital de Porto Alegre com múltiplas fraturas no rosto. O hospital avisou a polícia.

A Polícia Civil recolheu equipamentos de filmagem do depósito do supermercado e, por meio do Instituto-Geral de Perícias, conseguiu recuperar imagens já deletadas da agressão.

Nas cenas, sob a vigilância de dois homens armados, um homem devolve as peças de carne escondidas dentro de um casaco. Então, é atingido por um soco e uma rasteira. Após as primeiras agressões, um dos seguranças sai de cena. Minutos depois, ele volta acompanhado do segundo suspeito de auxiliar no furto, que é colocado ao lado do primeiro e também passa a ser torturado.

A dupla é atingida por socos e chutes, com bastões de madeira, com uma sacola preenchida com as peças de carne que tentaram roubar e com um palete. Em determinado momento das filmagens, as luzes do depósito são apagadas e as agressões com bastões se intensificam.

Enquanto a dupla apanha, os seguranças riem e apontam celulares para a cena, sugerindo que as vítimas foram filmadas e fotografadas durante as agressões. Ao final, quando a dupla é liberada das torturas, o grupo posa para uma foto registrada pelo gerente do supermercado.

Conforme a Polícia Civil, dois funcionários e dois seguranças já foram identificados e prestaram depoimento. Restam três pessoas a serem identificadas. Depois da veiculação dos vídeos na imprensa, a polícia recebeu pistas de quem seriam os últimos três envolvidos.

"Quando começamos a investigar esse caso, ainda não tínhamos recuperado as imagens dos vídeos. Então, nos depoimentos, cada um contou uma versão diferente. Um atribuiu as agressões a populares, outro disse que chegou depois e não viu nada, outro alegou que entrou em luta corporal por legítima defesa. Quando obtivemos o vídeo, ele contou outra história", afirmou Peternell.

A polícia trabalha em parceria com o Ministério Público no caso. As vítimas não registraram ocorrência em razão de ameaça. No inquérito policial, eles deverão ser indiciados por ameaça, tortura (ou omissão) e ocultação de provas.

Os agressores poderão ainda ser indiciados por extorsão mediante sequestro, dado que, conforme o delegado, eles teriam exigido dinheiro das vítimas para libertá-las.

Há pouco mais de dois anos, também no Rio Grande do Sul, ocorreu outro caso de repercussão nacional envolvendo seguranças de supermercado e violência. Seis pessoas irão a júri popular pela morte de José Alberto Silveira Freitas, espancado por seguranças do Carrefour, em Porto Alegre.

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