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Aluna de medicina da USP apostou ao menos R$ 397 mil e ganhou R$ 366 mil na loteria

Coaf mostra que Alicia Dudy, suspeita de desviar dinheiro de formatura, ganhou 7 vezes na loteria entre abril e julho de 2022

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São Paulo

A aluna da Faculdade de Medicina da USP acusada de ter desviado quase R$ 1 milhão do fundo de formatura de sua turma ganhou sete vezes na loteria entre abril e julho de 2022.

A Folha teve acesso a documentos do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), apresentados à Polícia Civil, que mostram que Alicia Dudy Muller Veiga, 25, gastou ao menos R$ 397.290 em apostas em uma mesma lotérica de São Bernardo do Campo (Grande SP). Essas apostas resultaram no ganho de prêmios que somam R$ 366.614,98.

A reportagem tenta contato com a estudante desde segunda (16), mas ela não respondeu. A Folha também a procurou em sua casa e ela disse que não atenderia. A polícia não informou quem seria seu advogado.

Fachada da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Fachada da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - José Nascimento 21.nov.10/Folhapress

Alicia é investigada sob suspeita de apropriação indébita do fundo, além de estelionato e lavagem de dinheiro. A apuração começou em julho do ano passado após ela tentar apostar, sem pagar, um total de R$ 891 mil em bilhetes na Lotofácil.

No último dia 6 de janeiro, ela também foi acusada por colegas de ter dado um golpe em 110 estudantes de medicina. Na ocasião, a suspeita escrevei em um grupo de WhatsApp que tinha sofrido um golpe ao investir o dinheiro em uma corretora e perder os R$ 920 mil arrecadados pelos alunos durante cinco anos. Os alunos prestaram queixa à polícia.

Segundo os documentos do Coaf, o primeiro registro de prêmio ganho por Alicia veio de apostas feitas na Lotofácil entre 8 e 14 de abril de 2022, que totalizam R$ 67.830. Ela recebeu R$ 40.849,45 em prêmios. O valor foi transferido para uma conta no nome da estudante.

No dia 13 de abril, também consta o pagamento de um prêmio de R$ 28.249 para a conta de Alicia. Nesse caso, no entanto, não há informações de quanto ela apostou ou em qual modalidade de jogo.

Entre os dias 18 e 20 de abril, ela venceu outro prêmio da Lotofácil e recebeu R$ 50.210. Segundo os dados do Coaf, o prêmio veio de sete apostas no valor de R$ 125.970.

Há também a identificação do pagamento de mais um prêmio, de R$ 149.192, que veio de apostas feitas entre os dias 8 e 27 de abril.

No mês seguinte, ela ganhou outro prêmio de R$ 69.408 na Lotofácil, após fazer três apostas que somaram R$ 58.140.

Em 15 de julho, ela ganhou mais um prêmio de R$ 17.430 após realizar R$ 145.350 em quatro apostas. Três dias depois, em 18 de julho, ela ganhou novamente um prêmio de R$ 11.275,00.

Segundo o dono da lotérica, a estudante era uma cliente frequente e costumava fazer apostas quase que diariamente, em valores próximos a R$ 10 mil.

Os donos da lotérica prestaram queixa contra Alicia no dia 12 de julho após supostamente deixar um prejuízo de R$ 192.908,47 —ela teria feito o agendamento do valor via Pix, sem pagar efetivamente pelas apostas que realizou.

O caso está sendo investigado pelo Deic (Delegacia Especializada em Investigações Criminais) de São Bernardo do Campo. Segundo os investigadores, eles tentavam identificar a origem do dinheiro usado por Alicia para fazer apostas de valores tão altos quando descobriram que ela tinha ganhado sete vezes na loteria.

A delegada Katia Regina Cristofaro Martins, do Deic de São Bernardo, disse que apura ainda se Alicia agiu sozinha ou se teve ajuda de outras pessoas.

"Eu sei que ela apostou e ganhou na loteria. Eu não sei qual foi a origem do dinheiro usado para as apostas. Até semana passada, eu estava investigando um estelionato com possível lastro de dinheiro do crime. Hipótese essa que não está descartada, se ela estiver agindo em uma associação criminosa", disse a delegada.

Segundo a investigadora, "tudo indica" que a suspeita tenha usado o dinheiro do fundo de formatura para fazer as apostas. A delegada informou já ter intimado os membros da comissão de formatura para prestar depoimento. Ela disse ainda que Alicia ainda não foi intimada pela polícia.

Alicia era presidente da comissão de formatura de uma das turmas de medicina da USP. Aos colegas ela afirmou ter investido cerca de R$ 800 mil do fundo no Sentinel Bank, uma corretora de investimentos. A estudante diz ter sofrido um golpe e perdido todo o dinheiro e gasto o restante, cerca de R$ 120 mil, com advogados para tentar reaver os valores.

Em nota assinada por todos os alunos da comissão, o grupo afirma que Alicia descumpriu "o Estatuto ao movimentar esse montante sem a assinatura de nenhum outro membro e transferindo-o a uma conta pessoal sua" e que "a atitude não representa moral e eticamente a postura dos demais membros desta comissão e os mais de 110 alunos aderidos".

A Faculdade de Medicina comunicou que foi informada recentemente do caso e que relatou os fatos à reitoria. "Portanto, aguardará a apuração preliminar e as orientações da USP", disse.

A Folha procurou o Sentinel Bank, mas não teve resposta.

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