Disputa entre PCC e grupo local por 'gatonet' faz mortes dispararem na zona sul de SP

Homicídios no Campo Limpo cresceram 46% de janeiro a novembro, enquanto índices na capital paulista caíram em relação a 2021

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São Paulo

A facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e um grupo rival conhecido como Pé de Pato têm travado uma disputa na zona sul de São Paulo pelo controle da instalação clandestina de TV a cabo —o chamado "gatonet".

Em meio ao conflito, o número de mortes disparou no distrito do Campo Limpo em 2022, principalmente na região do Parque Arariba, na qual está concentrado o embate.

Policiais Civis prendem duas pessoas pela morte de Manoel Paulo da Silva Junior
Policiais Civis cumpriram, em novembro, dois mandados de prisão pela morte de Manoel Paulo da Silva Junior, líder do grupo criminoso Pé de Pato - Polícia Civil/Divulgação

Dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública) mostram que, de janeiro a novembro, foram registrados 35 homicídios na área do 37º DP (Campo Limpo). Tanto em 2021 quanto em 2019 (antes da pandemia de Covid-19) foram 24 no mesmo período, o que representa uma alta de 46%. Os dados de dezembro do ano passado só devem ser divulgados na próxima semana.

Os números são os mais altos para a região desde 2015, quando foram registradas 39 mortes. Enquanto os casos cresceram no Campo Limpo, houve uma uma redução no restante da cidade, que atingiu o menor número de homicídios da atual série histórica, iniciada em 2002 —foram 520 mortes de janeiro a novembro de 2022 contra 560 no mesmo período de 2021.

Vizinho ao Campo Limpo, o 47º DP (Capão Redondo) também registrou queda, que passou de 31 casos em 2021 para 22 no ano passado.

Policiais civis que atuam na área confirmaram para a reportagem que a alta de homicídios no Campo Limpo está ligada à disputa entre os grupos.

Segundo os investigadores, o PCC exerce menos influência no bairro do que em outras áreas periféricas de São Paulo, o que abriu espaço para a atuação de grupos rivais.

Para Camila Nunes Dias, pesquisadora do NEV (Núcleo de Estudos da Violência da USP) e professora da Universidade Federal do ABC, não se pode dizer que haja um enfraquecimento do PCC, mas sim um conflito localizado, que aparece em determinados momentos.

Dias explica que o Pé de Pato não é uma milícia. "Os grupos denominados 'milícia' se caracterizam pela estruturação a partir dos aparelhos estatais, enraizados nas instituições, nas polícias, no Ministério Público, nos tribunais, nas prefeituras."

O conflito entre os dois grupos criminosos é investigado pelo DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa). O Ministério Público acompanha a situação e já ofereceu denúncia contra 12 pessoas.

Atualmente, conforme a Promotoria, quatro dos denunciados estão presos de forma preventiva. O processo ainda está em fase inicial.

Em nota, a SSP, por meio da Divisão de Homicídios do DHPP, confirmou que há inquéritos em andamento para apurar conflitos envolvendo homicídios na região do Campo Limpo.

Conforme a pasta, em agosto do ano passado, quatro suspeitos foram indiciados e outros dois foram presos preventivamente. Outros quatro criminosos foram identificados por envolvimento na morte de supostos membros de organizações criminosas e estão com prisões temporárias decretadas.

A denúncia do Ministério Público tem como base a morte de Manoel Paulo da Silva Junior, 44, conhecido como Juninho ou Cabeça Seca. O caso foi noticiado pela Folha.

Segundo a polícia, Juninho era o chefe do Pé de Pato e foi morto a tiros na avenida Guarapiranga, no Jardim São Luis, no dia 30 de junho. No momento do crime um estudante universitário, que nada tinha a ver com o caso, foi atingido por tiros e ficou tetraplégico.

Os presos, um homem e uma mulher, teriam armado uma emboscada para que integrantes do PCC matassem Juninho.

"Existia uma rivalidade entre os dois grupos criminosos por conta de quem tinha mais clientes. Eles passaram a tomar cliente do outro, a lista de clientes que o outro tinha", disse a delegada Elisabete Sato, ex-diretora do DHPP.

Conforme o apurado, o grupo de Juninho exercia influência em favelas do Parque Arariba, não permitindo que o PCC vendesse drogas ou promovesse bailes funk na região. Tal situação, de acordo com as investigações da Polícia Civil, teria gerado incômodo nos rivais.

Membros da facção concluíram que Juninho estava atrapalhando os negócios do PCC e por esse motivo decidiram por sua morte.

A decisão teria sido tomada por uma liderança de apelido Cirilo, com atuação no Capão Redondo. De acordo com a denúncia do promotor Nelson dos Santos Pereira Junior, Cirilo seria o responsável pela organização do "gatonet" nos bairros Jardim Olinda, Valo Velho e Jardim Ipê, na mesma região.

O DHPP investiga há pelo menos um ano a briga entre as facções pelo controle da TV clandestina na zona sul. Nesse período, ao menos cinco pessoas foram mortas na área da 1ª Delegacia de Repressão a Homicídios, que abrange as zonas sul e zona oeste e é chefiada pela delegada Magali Celeghin Vaz, responsável por esclarecer a morte de Juninho.

Procurados, a delegada Magali Celeghin Vaz e o promotor Nelson dos Santos Pereira Junior não quiseram se pronunciar sobres os casos.

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