Eram 2h30 desta sexta-feira (27) quando um grupo, com camisetas brancas e flores nas mãos, iniciou um minuto de palmas em memória à pior noite enfrentada pelos moradores de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, dez anos atrás.
O ato marcou o início das homenagens na cidade pelos dez anos do incêndio na boate Kiss, onde 242 pessoas morreram e mais de 600 ficaram feridas.
O horário escolhido para as palmas, que quebrou o silêncio da madrugada, marcava o início do incêndio que gerou a fumaça tóxica que atingiu as vítimas.
Em frente ao imóvel na rua dos Andradas, a maioria dos sobreviventes, familiares e amigos usava uma camiseta branca com a mensagem "Resgatar a memória é construir o futuro". Outras vestiam roupas com fotos das vítimas ou apenas camisetas brancas.
Durante esses anos, o local foi mantido como estava no dia do incêndio que é considerado uma das maiores tragédias do país na expectativa de que possa ser usado como prova, já que o júri realizado no ano passado foi anulado.
O presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Gabriel Rovadoschi Barros, ajudou a fixar faixas em frente à única porta de entrada e saída do local. Além da mensagem estampada nas camisetas, outra dizia: "Você se sente pertencente à tragédia da Kiss?".
"É muito importante ver tanta gente caminhando nesse momento, estando junto, caminhando junto e registrando a história junto. E tendo a coragem de enfrentar o que a gente tem enfrentado de lembranças, de memórias", afirmou.
Pais, amigos e sobreviventes caminharam da praça central da cidade até o local da tragédia, muitos deles de mãos dadas ou abraçados.
Quando chegaram, bateram fortes palmas e distribuíram abraços em um momento marcado por emoção. A vigília e o momento de palmas são homenagens que já acontecem há dez anos em frente ao prédio.
"É muito difícil para todos nós. Principalmente, porque até hoje sofremos críticas por querermos justiça e por tentarmos que tudo o que aconteceu em Santa Maria a não repetir uma tragédia como essa em outros lugares", disse Ildo Toniolo, 69. Ele é pai de Leandra, 23, a segunda vítima a ser reconhecida quando os corpos chegaram ao ginásio da cidade, em 27 de janeiro de 2013.
Antes da vigília, familiares das vítimas e sobreviventes, além de pessoas da comunidade em geral se reuniram no auditório do Colégio Marista Santa Maria, no centro, para acompanhar o primeiro episódio do documentário "Boate Kiss - A Tragédia de Santa Maria", da Globoplay.
As homenagens seguem nesta sexta na praça Saldanha Marinho. Durante a tarde, cerca de 150 pessoas soltaram 242 balões brancos representando cada uma das vítimas da tragédia.
Também foram soltos ao longo dez balões pretos, maiores, simbolizando os anos que se passaram desde o incêndio. Eles tinham a inscrição "10 anos de impunidade" e o desenho da fachada da Kiss e de um martelo usado por juízes em audiências.
Um dos momentos mais esperados pelos pais deve acontecer às 19h, quando será feita a apresentação da campanha "Tempo Perdido", do coletivo "Kiss - Que Não se Repita", que vem reproduzindo simulações de como estariam as fisionomias de oito pessoas que perderam a vida na tragédia.
"As homenagens são uma forma de mostrar que esse não é só um momento de dor, mas também de olhar para o lado e não se sentir sozinho", afirma Flávio Silva, pai de Andrielle Righi da Silva, morta aos 22 anos.
Homenagens às vítimas da Kiss nesta sexta (27)
14h – "Mães y Madres: Kiss e Cromañón", com Nilda Gomez (Familias Por La Vida – Argentina) e Mães da AVTSM
15h30 – "O Caso Kiss: até quando a justiça vai servir à impunidade?", com Tâmara Soares (advogada que representa a AVTSM no litígio internacional), Paulo Carvalho (pai do Rafael e diretor jurídico da AVTSM) e Pedro Barcellos Jr (advogado que representa a AVTSM no processo penal)
17h – "Por que prevenção vale a pena?", com Antonio Berto (pesquisador chefe do Laboratório de Segurança ao Fogo e a Explosões no Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT) e Rogério Lin (superintendente da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e membro da Associação Brasileira de Proteção Passiva Contra Incêndio – ABPP)
19h – 10 anos do "Kiss: que não se repita" – apresentação da campanha "Tempo Perdido", do coletivo "Kiss — Que Não se Repita, que vem reproduzindo simulações de como estariam as fisionomias de oito pessoas que perderam a vida na tragédia
20h30 – "Por que contar essa história 10 anos depois?", com Daniela Arbex (jornalista e autora do livro "Todo Dia A Mesma Noite: A História Não Contada Da Boate Kiss") e Marcelo Canellas (jornalista e diretor da série "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria")
22h – Encerramento com Juliana Pires (cantora santa-mariense)
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